O balanço sem direção definida da Bolsa de Valores brasileira nesta quarta (9) refletia um cenário incerto para os investimentos. Após a divulgação de uma inflação dentro do esperado, ações do setor varejista subiam. Mas o avanço do dólar e a alta dos contratos de juros pelo segundo dia ainda indicavam um mercado apreensivo quanto aos riscos domésticos e globais para as ações brasileiras.

Somente no início da tarde, após a abertura em alta do mercado nos Estados Unidos, é que as negociações na Bolsa saíram do vermelho. Às 12h42, o Ibovespa subia 0,72%, a 113.049 pontos. A valorização do dólar perdia a força das primeiras horas do dia e a moeda subia apenas 0,09%, a R$ 5,2690.

Em Wall Street, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq saltavam 0,82%, 1,124% e 1,26%, respectivamente.

Paula Zogbi, analista de investimentos da Rico, destacou que, apesar do noticiário tumultuado no Brasil, o dia pode ser positivo no exterior enquanto investidores avaliam os bons resultados de empresas negociadas na Bolsa de Nova York.

Até o momento, 60% das empresas presentes no S&P 500 reportaram seus balanços e 77% superaram as expectativas de lucro do consenso, disse Zogbi, citando dados da FactSet, empresa americana de software e dados financeiros.

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No Brasil, altas de preços e juros estão em foco. Pressionada por alimentos, a inflação oficial do Brasil subiu 0,54% em janeiro, informou nesta quarta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o maior resultado para o mês em seis anos.

Além de alinhado às expectativas de analistas, o resultado até sinaliza uma desaceleração frente a dezembro de 2021, quando o avanço havia sido de 0,73%, mas o IPCA segue em dois dígitos no acumulado de 12 meses.

Ao analisar a alta dos preços no Brasil, o Goldman Sachs destacou que “a inflação está agora não apenas muito alta, mas também altamente disseminada”.

Com esse pano de fundo, segundo o banco, há um risco crescente de que reajustes retroativos de preços e salários mantenham uma crescente inflação inercial. A disseminação da inflação por vários setores pode reduzir o impacto do principal instrumento à mão do Banco Central para tentar frear a alta de preços, que é dificultar o acesso ao crédito por meio da elevação da taxa básica de juros. A Selic já está em 10,75% ao ano.

Diante da expectativa de que o Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) comece a elevar os juros americanos em março, o Goldman Sachs descreve um cenário desafiador para o Brasil. Juros mais altos nos EUA tendem a pressionar a alta do dólar, uma vez que investidores internacionais podem tirar dinheiro de aplicações brasileiras para buscar ganhos mais seguros nos títulos do Tesouro americano.

Parâmetro para avaliar a expectativa do mercado sobre os juros, as taxas DI (Depósitos Interbancários) de curto prazo eram negociadas em alta nesta quarta. Em dois dias, as taxas subiram de 11,95% para 12,22% ao ano. Esse tipo de contrato é negociado exclusivamente entre bancos, mas serve de referência para financiamentos e empréstimos em geral.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, revisou para cima suas expectativas para a Selic diante das perspectivas mais duras indicadas pelo Banco Central sobre o aperto monetário. Sanchez avalia que o Copom elevará a Selic para 11,75%, em março, e 12,25%, em maio.

Não há consenso, porém, quanto às interpretações pessimistas sobre os dados da inflação divulgados nesta quarta. João Beck, economista e sócio da BRA, disse que o IPCA está “bastante em linha com o mercado” e, “por isso, deve ter impacto irrelevante.”

“A valorização do real e os dados de atividade desacelerando principalmente no setor de serviços e industrial devem resultar num recuo da inflação à frente”, comentou.

Ao mencionar a valorização, Beck destaca que o dólar está em queda ao longo de 2022, contrariando expectativas de analistas, que esperavam alta da divisa devido ao crescimento do risco fiscal, movimento típico de anos em que há disputa eleitoral pela Presidência da República.

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, disse à agência Reuters que o IPCA de janeiro pode reforçar apostas de que o Banco Central não será tão agressivo no encerramento de seu ciclo de aperto monetário quanto o sugerido na ata do último encontro do Copom (Comitê de Política Monetária).

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No documento, divulgado na terça, o BC indicou que vai desacelerar o ritmo de ajuste monetário, mas deu a entender que não vai optar por promover uma alta final dos juros já em março, como alguns participantes do mercado esperavam, em meio a preocupações com a alta dos preços.

Argenta reforçou, porém, que a percepção do mercado de que os juros no Brasil vão parar de subir pode fazer o dólar subir também, uma vez que a alta da Selic bem acima da expectativa de inflação para este ano, que é de 5,4%, torna a renda fixa brasileira uma das mais rentáveis do mundo.

Paula Zogbi, da Rico, também chamou a atenção para o Bradesco, cujo balanço trouxe números considerados fracos, motivando a manutenção da recomendação neutra para a ação pela XP.

As ações da empresa afundavam 7,83% nesta quarta, colocando o banco no topo da lista das empresas com maior influência negativa para o Ibovespa.

O petróleo subia 0,39%, a US$ 91,13 (R$ 480,52), em um movimento de ajuste à queda de 2,06% da véspera. A Petrobras subia 2,43%.

A Vale conseguia avançar 0,10%, apesar da queda no valor dos contratos de exportação de minério de ferro para a China.

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