Alterações no clima e preservação de florestas tropicais como a Amazônia estão entre os principais pontos de discussão entre líderes mundiais. No momento em que uma solução para tais problemas parece distante, a pecuária surge como mais um fator preocupante no combate às transformações ambientais, argumenta Ricardo Abramovay, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).

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“O problema é o seguinte: a Amazônia, hoje, é o principal lugar de criação de gado do Brasil”, afirma Abramovay. “Mesmo sem desmatamento, os milhões de cabeças de gado emitem gás metano em larga escala. Apesar de ter pouca duração na atmosfera, o gás é ’80 vezes mais nocivo que o carbono'”, alerta o professor.

Abramovay ainda sinaliza que a redução da emissão do gás metano teria impacto imediato, enquanto o gás carbônico demora décadas para perder concentração na atmosfera, afinal é emitido predominantemente por causas antrópicas – vazamentos na exploração de fósseis de petróleo, lixões emitem muito metano, resíduos sólidos – e criação de gado.

“A gente precisa atingir metas até 2030 porque quanto mais você atrasa a redução nas emissões de metano mais você vai ter que reduzir as emissões no futuro”, conclui Abramovay.

Preservação da Amazônia e outros caminhos

A preservação da floresta amazônica devido à sua capacidade de armazenamento de carbono é de vital importância na troca de gases atmosféricos concentra os esforços dos especialistas, por isso um alerta. “Destruir a Amazônia significa perder todo o esforço que o mundo está fazendo para descarbonizar”, diz o professor.

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área desmatada do bioma teve uma baixa histórica em 2012, mas passou a crescer desde então, principalmente após 2017.

E para mudar o cenário são necessárias novas medidas no estilo de produção, forma de consumo e conscientização da população. Ricardo Abramovay sugere o caminho das proteínas artificiais, ou seja, das carnes baseadas em plantas, mas reconhece que existem obstáculos.

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“Para que uma tenha um sabor, textura, aroma de carne, você imagina a quantidade de produtos artificiais que são colocados. Os especialistas tendem a considerar as carnes baseadas em plantas como parte dos produtos ultraprocessados”.

No Brasil, o professor vê dois problemas derivados da pecuária: o das emissões de gases e a erosão da biodiversidade. Como solução de curto prazo, ele oferece a criação de gado com captação de carbono neutra, ou seja, quando não há prejuízo à atmosfera.

“Por manejo de pastagem, por redução da quantidade de animais sobre a terra e, ao mesmo tempo, um tipo de rotação de pastagem que regenere a biodiversidade”, descreve Abramovay, que também recomenda mudanças a longo prazo, que uniria culinária e produção agrícola.

“Uma pecuária regenerativa combinada com uma redução no consumo de carne e ao mesmo tempo um aumento no consumo de folhas, verduras, legumes que têm vários dos nutrientes que a carne contém”, finaliza.

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