A criação bovina é associada ao desmatamento no Brasil. Mas Ricardo Abramovay, professor titular da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública da USP, afirma que as atividades não são práticas semelhantes.
A dissociação das práticas com a emissão de metano não é possível uma vez que os bois produzem o gás organicamente. No entanto, o professor aponta que a pecuária regenerativa pode contribuir para a emissão de menos poluentes na atmosfera.
Ricardo Abramovay é um dos autores do relatório Pecuária Regenerativa na América Latina e Caribe desenvolvido na Cátedra Josué de Castro. O espaço interdisciplinar produz conhecimento sobre sistemas alimentares e, nesse estudo, destaca a possibilidade de fazer da criação de bovinos um componente da regeneração da biodiversidade.
Pecuária regenerativa
Para entender o que é a pecuária regenerativa é preciso compreender a criação dos bovinos. O professor explica a prática a partir de dois meios de criação, sendo eles a pastagem e a estabulada. A criação estabulada inclui, obrigatoriamente, grãos na alimentação dos animais. “Mas os bovinos são capazes de digerir alimentos vegetais que nós, animais monogástricos, não somos capazes de digerir”, aponta Abramovay.
A pecuária regenerativa começa com a substituição dos grãos na alimentação dos animais por uma alimentação natural. Porém, ela é mais barata, pois os grãos são consumidos por seres humanos.
“É diferente do milho e da soja, que são alimentos que podem ser consumidos por seres humanos, então tem um alto custo de oportunidade”, explica. Assim, segundo o professor, conseguiríamos aumentar a oferta de alimentos saudáveis e indispensáveis aos humanos.
Emissão de metano
A pecuária desempenha funções ecossistêmicas muito importantes para a biodiversidade. O professor Ricardo Abramovay avalia que a atividade não deveria existir na Amazônia, por exemplo, onde há 26 milhões de cabeças de gado. A questão amazônica é que a floresta é rica em biodiversidade e contribui para a captação de gases de efeito estufa.
Para solucionar a questão amazônica, o pesquisador argumenta acerca da redução de pastagem e introdução de leguminosas e plantas arbóreas na paisagem. Ou seja, a pecuária regenerativa. “Se isso for bem manejado, é uma oportunidade extraordinária para reduzir as emissões e aumentar a oferta de produtos de qualidade”, afirma.
Benefícios
Além disso, Abramovay destaca que o pasto é melhor para o bem-estar animal do que a criação estabulada. Os animais, portanto, geram gás metano organizadamente. Mas o gás seria mantido no solo com a pastagem regenerativa e as plantas que os animais consomem.
“O que não se leva em consideração, no caso das pastagens, é que as pastagens, ao crescer, absorvem gás de efeito estufa, e pastagens mais bem manejadas com introdução de leguminosas têm a propriedade de reduzir o uso de produtos químicos e de agrotóxicos, além do crescimento das árvores das pastagens”, aponta.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 12 – Consumo e produção responsáveis e o ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima.
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