Anísio Spínola Teixeira era defensor da democratização do ensino e da transformação social por meio da educação. Teixeira foi um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova na década de 1930, movimento que lutava pela universalização da escola pública, laica, gratuita e obrigatória em todo o país. Por seu legado, Anísio Teixeira é apontado como o criador do sistema público de educação no Brasil.

Anísio Teixeira era jurista, intelectual, educador e escritor. Ele nasceu no dia 12 de julho de 1900, em Caetité, na Bahia, e morreu em 11 de março de 1971, no Rio de Janeiro. Na maior parte dos seus 70 anos defendeu que a educação não é um privilégio. 

O educador formou-se advogado na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro (atual UFRJ) em 1922. Mas logo iniciou uma carreira na educação como pedagogo. Em 1924, tornou-se inspetor de ensino na Bahia, cargo equivalente ao de secretário estadual da educação. 

Neste período, viajou aos Estados Unidos para aprimorar seus conhecimentos no exercício da função. E no retorno, oscilou entre cargos na administração estadual da Bahia e do Rio de Janeiro, com o ápice da criação da Universidade do Distrito Federal no Rio de Janeiro, em 1935, então capital do país.

A educação segundo Anísio

Anísio defendia que a educação não é um privilégio mas um direito de todos os brasileiros. Em sua carreira, o educador fundou escolas, universidades, geriu secretarias e participou de movimentos pela democratização do ensino no país. Era particularmente inconformado com a situação da educação no Brasil. Num de seus discursos mais famosos proferido em 1936, deu o tom do que acreditava e do que esperava para a educação brasileira:

“Só existirá a democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara democracias, essa máquina é a da escola pública. Educar é crescer, crescer é viver. Educação é assim a vida no sentido mais autêntico da palavra. Choca-me ver o desdobramento dos recursos públicos para a educação dispensados em subversões de total natureza e atividades educacionais sem nexo e nem ordem, puramente paternalistas ou francamente eleitorais. Revolta-me saber que dos 5 milhões que estão na escola, apenas 450 mil conseguem chegar à quarta série e todos os demais ficam frustrados e mentalmente incapacitados para se integrarem numa civilização industrial e alcançarem um padrão de vida em uma simples decência humana. Somos condicionados pela propaganda para desejar o supérfluo, para atender necessidades inventadas  antes de haver atendido as nossas reais necessidades”.

Importância do educador para a educação

O educador não é amplamente “apreciado” em cursos de pedagogia pelo país. Mas alguns profissionais da educação propagam a sua importância nos dias atuais. Bruna Martiolli tem um canal no YouTube sobre educação e literatura. A educadora defende a pedagogia de Anísio Teixeira para os quase 300 mil inscritos em seu canal.  

“De 1920 a 1930 ele foi a principal voz para que a Escola Nova fosse “imposta” e colocada no país. O que acontecia é que a educação não era para todos e ele achava isso um absurdo, e por conta disso ele acreditava que o país não iria nunca se desenvolver, que sem educação um país não tem como se desenvolver”, destacou Martiolli.

Foto: Acervo do Instituto Anísio Teixeira

Esse pensamento o levou a lutar por uma educação gratuita, que atendesse a todos e diferente da escola tradicional. O movimento Escola Nova se opunha ao modelo vigente na educação do país e por isso ganhou esse nome. Martiolli explicou que a Escola Nova tinha como pilar “priorizar o intelectual e não o meramente reprodutor”.

“A educação para ele era uma educação que fazia a pessoa refletir sobre estar numa sociedade. A gente falando essas coisas hoje até parece que é ridículo porque a gente vive com o conceito de educação que precisamos ser educados para vivermos em sociedade, mas antigamente isso não era assim e o Anísio Teixeira foi um dos principais representantes dessa luta por uma educação intelectual”, contou.

Legado presente

Anísio Teixeira contribuiu com a criação e o desenvolvimento de instituições com o intuito de formar alunos que se tornassem no futuro os agentes transformadores da sociedade. Uma das principais é a Escola Parque, em Salvador. A unidade foi pioneira na proposta de educação profissionalizante e integral para os alunos de famílias mais carentes. 

No ensino superior, participou da fundação da Universidade de Brasília (UnB), em 1961, sendo o reitor da entidade. Além disso, assumiu a Campanha de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes), órgão que deixou em  junho de 1952, para assumir o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Foi o coordenador do instituto até 1964, sendo um dos dirigentes que mais tempo ficou à frente da autarquia, somando 12 anos.

Anísio Teixeira devotou sua vida à transformação da educação brasileira. Por isso, recebeu diversas homenagens após a sua morte em março de 1971. Duas das principais homenagens foi a inclusão de seu nome no Inep, sendo hoje o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. A autarquia do Ministério da Educação contribui para o desenvolvimento econômico e social do país através da formulação de políticas educacionais da educação básica e superior.

Prêmio Anísio Teixeira

Foto: Acervo do Instituto Anísio Teixeira

Também recebeu reconhecimento com seu nome no Prêmio Anísio Teixeira, uma das mais importantes condecorações da educação no Brasil. A premiação da Capes é entregue a cada cinco anos para as personalidades que contribuem com pesquisas para a formação de recursos humanos no Brasil. 

O governo do estado da Bahia mantém um órgão com o nome do educador. Assim, o Instituto Anísio Teixeira (IAT) coordena estudos e experimentações educacionais e qualificação de recursos humanos em educação no estado. 

A memória de Anísio Teixeira é sintetizada na atual educação do país e o seu legado mostra que ele conseguiu construir a ideia de educação gratuita para todos e estabelecer nas instituições o mesmo ideal da sua administração do Inep, apontada no seu discurso de posse em 1952: “fundar, em bases científicas, a reconstrução educacional do Brasil”.

*Este conteúdo está alinhado aos Obejtivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 04 – Educação de Qualidade.

Leia mais: