*Com informações do repórter Rubens Salomão Ao menos oito, dos 78 ex-executivos da empreiteira Odebrecht, que fecharam acordo de delação premiada junto à força tarefa da Operação Lava Jato, citaram políticos goianos.

Nos depoimentos, divulgados nesta semana pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os delatores detalham como e quando os goianos, entre outras pessoas, teriam pedido, organizado e recebido dinheiro ilegal; para pagamento de propina ou doações irregulares em campanhas, pelo caixa dois.

O governador Marconi Perillo (PSDB) é citado por quatro delatores: pelo ex-diretor da Regional Norte, Nordeste e Centro-Oeste da Odebrecht Ambiental, Alexandre José Lopes Barradas; pelo líder empresarial da Odebrecht Ambiental, Fernando Luiz Ayres da Cunha; o ex-diretor superintendente da empreiteira Odebrecht nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, João Antônio Pacífico Ferreira; e por Ricardo Roth Ferraz, que é diretor de contratos da empresa no Centro-Oeste.

A soma dos valores citados pelos delatores aponta para pagamento de R$ 8 milhões por meio de caixa dois, nas campanhas de 2010 e 2014. A intenção seria favorecer a subdelegação de serviços à Odebrecht Ambiental; o que aconteceu em 2013, nas cidades de Aparecida de Goiânia, Trindade, Jataí e Rio Verde. Na época, o interesse da empreiteira era nas cidades do entorno do Distrito Federal.

Alexandre José Barradas apontou em depoimento como os valores eram negociados e entregues. Segundo ele, a execução era feita pelo presidente da Agetop, Jayme Rincón (PSDB).

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Os pagamentos citados por Alexandre Barradas teriam totalizado R$ 2 milhões para a campanha de 2010, em operação semelhante à que teria sido efetivada em 2014. A combinação teria sido iniciada em um jantar entre Marconi Perillo e Fernando Luiz Ayres da Cunha Reis.

Fernando também é delator e contou aos investigadores como o caixa dois teria sido acertado. Quem teria apresentado Marconi ao executivo da Odebrecht seria o ex-senador Demóstenes Torres.

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Depois da homologação das delações, o ministro relator da Lava Jato, Edson Fachin, enviou o processo relativo ao governador Marconi Perillo ao Superior Tribunal de Justiça, que vai decidir se instaura inquérito. Segundo a delação de Fernando Reis, para a campanha de 2014, as definições de Marconi seriam realizadas em conversas diretas com Marcelo Odebrecht.

Em nota, a assessoria de comunicação do governador informa que Perillo jamais autorizou ou pediu contribuição de campanha não-oficial e de acordo com a lei eleitoral, e que não há investigação autorizada pelo Poder Judiciário no Superior Tribunal de Justiça, relacionada ao governador.

As doações em caixa dois ao governador em 2010 e 2014 também são citadas pelos delatores João Antônio Pacífico Ferreira e por Ricardo Roth Ferraz. Os dois são os mesmos, junto com Benedicto Barbosa da Silva Junior, que relatam ter pagado R$ 300 mil ao caixa dois da campanha de Iris Rezende (PMDB) ao governo estadual na eleição de 2010.

Ricardo Ferraz conta que a operacionalização do pagamento à campanha de Iris Rezende foi feita com o ex-senador Mauro Miranda.

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O ex-executivo da Odebrecht, João Pacífico, confirmou na delação o repasse, por caixa dois, de R$ 300 mil à campanha de Iris Rezende. O delator aponta que era importante para a empreiteira manter uma boa relação com o atual prefeito de Goiânia.

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O processo contra Iris Rezende foi enviado pelo ministro do STF, Edson Fachin, à Justiça Federal em Goiás, que vai decidir se abre inquérito contra o prefeito. Em nota, a assessoria do peemedebista afirma que todas as doações de campanha foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), e que desconhece doações não-declaradas.

O trecho acima, refere-se à delação do executivo da Odebrecht, Fernando Ayres da Cunha Reis, afirmando que foi apresentado ao governador Marconi Perillo no quinto jantar que teve com o ex-senador Demóstenes Torres. Em trecho anterior, Fernando Reis explica que repassou ao menos R$ 6 milhões à campanha de Demóstenes: R$ 2 milhões por caixa dois e outros R$ 4 milhões pelo serviço de marketing prestado pelo publicitário Duda Mendonça, na campanha de 2010.

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O processo de Demóstenes Torres foi enviado pelo ministro Edson Fachin à Justiça Federal de Goiás, que vai decidir se abre inquérito contra o ex-senador. A defesa do ex-senador afirma que ele desconhece o teor das delações, mas adianta que jamais recebeu doações não-declaradas.

Já o ex-deputado Sandro Mabel (PMDB), atualmente assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB), é citado por seis delatores da Odebrecht. Além de Fernando Luiz Ayres da Cunha, Ricardo Roth Ferraz, e Benedicto Barbosa e Silva, o peemedebista é citado pelo ex-vice-presidente da Odebrecht para a área de Energia, Henrique Serrano Do Prado Valladares; pelo ex-diretor superintendente da empreiteira, Augusto Roque Dias Fernandes Filho; e pelo ex-executivo José de Carvalho Filho.

Os processos contra Mabel foram distribuídos entre STF, STJ e JFGO. A reportagem do Portal 730 não conseguiu contato com a assessoria do peemedebista.

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