A tecnologia é parte do dia a dia de milhões de brasileiros. Há 25 anos tivemos início do uso da urna eletrônica, não mais votamos em cédulas de papel e apuração é informatizada, em poucas horas sabemos o resultado das eleições. O brasileiro já transfere dinheiro sem papel, o pix é o queridinho de muita gente, a moeda é digital. No trânsito, adeus mapa de papel, aplicativos dão o norte de uma viagem segura. Com a pandemia, o uso da tecnologia foi intensificado, home office virou rotina, reuniões online. Na educação passamos a ter o ensino híbrido e até 2026, o já tradicional Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tende a não ser mais de papel e a avaliação deve parar na tela do computador. O processo do Enem Digital já começou na edição 2020, aplicada em fevereiro de 2021, no futuro a forma de avaliação deve passar por modificações, porém há entraves tecnológicos e sociais.

O objetivo do Enem Digital é reduzir custos, em especial com papel e com mão de obra. Esse formato de exame também foi criado para tornar a avaliação mais moderna, dinâmica e interativa. As provas digitais têm o mesmo formato que as tradicionais. Entretanto, são realizadas em computadores, em locais de prova determinados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

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Enem. Foto: Samuel Straioto

Embora esse formato de Enem seja aplicado em um computador, as provas contam com a mesma composição do Enem Impresso: 180 questões objetivas e uma redação. As questões objetivas são feitas no computador e a redação escrita à mão.

Em Goiás, a Secretaria Estadual de Educação fez a aquisição de computadores a fim de serem distribuídos para os alunos. De acordo com a superintendente de Ensino Médio, Osvany Cardoso, a intenção é fazer com que o estudante tenha familiaridade com o instrumento tecnológico, o que pode resultar em aspectos positivos no momento da prova.

“Nós elaboramos um projeto, no início deste ano com o nome Seduc Tecnodigital que contempla equipamentos tecnológicos para todos os estudantes da terceira série do Ensino Médio da rede. Considerando que o estudante vá fazer uma avaliação, por exemplo, o Enem Digital, se ele não tiver contato, o hábito com o manuseio dos equipamentos, é obvio que ele sofrerá questões que poderão interferir de forma negativa. Mas se ele for melhor preparado terá mais possibilidades de realizar este exame com êxito”, afirmou.

É preciso um tempo e preparo para que o estudante esteja adaptado, além disso, o tempo de escrita no computador é diferenciado a depender da habilidade no manuseio do teclado, o que pode levar o aluno a perder muito mais tempo do que na folha tradicional.

Cada estudante do Ensino Médio receberá ou já recebeu um computador e ao final do ano, ele precisa devolver o equipamento para que seja utilizado por outra pessoa no ano que vem. “Ao final do ano, o estudante repassará esse equipamento de volta para a unidade escolar e utilizará para os novos estudantes para a terceira série do ano seguinte. Foi a principal ação para preparar os estudantes e tenham familiaridade com máquina e estejam seguros, com maior possibilidade de bons resultados”, completou Osvany Cardoso.

Provas

A estrutura do exame é igual à da versão impressa e, no caso da redação, é realizada da mesma forma que no Enem impresso, redigida manualmente. O Enem Digital 2021 será aplicado nos mesmos dias que as provas do Enem Impresso: em 21 e 28 de novembro de 2021.

A duração das provas será a mesma para o Enem impresso e o digital. No primeiro dia, das 13h30 às 19 h e, no segundo, das 13h30 às 18h30. Os portões serão abertos às 11h30 para evitar aglomerações e fechados, pontualmente, às 13 h, horário de Brasília.

As regras, as normas e a logística das provas impressas e digitais serão as mesmas, como horário de abertura dos portões, documentos que devem ser levados e itens proibidos. A logística continua sendo um desafio para a realização do Enem.

Enem. Foto: Samuel Straioto.

Hoje o aluno precisa ir a um local de prova, mas no futuro pode ser diferente. O advogado e professor Carlos André Pereira Nunes ressaltou que é preciso pensar em novas formas de avaliação, no sentido de que se tenha uma segurança e que não haja fraudes.

“O ideal é que as pessoas estivessem em casa e que pudesse usufruir da inovação que é fundamental para o século XXI, mas qual o problema? A questão da segurança. Não se pode confiar no candidato, veja, o problema não está na tecnologia, mas efetivamente no indivíduo, no ser humano, nessa lógica da honestidade ao fazer a prova”, argumentou.

O professor entende que seria interessante a criação de softwares que percebem que em um determinado momento da prova o indivíduo saiu da prova por algum motivo. Ele argumenta que as provas poderiam ser baseadas em raciocínio lógico, evitando, ou ao mesmo reduzindo a possibilidade de participante encontrar respostas, obrigando-o a pensar sobre o assunto ao responder.

“A mescla de softwares, além da perspectiva pedagógica que não permitem que esse aluno encontre resposta em algum local, mas que demanda um raciocínio lógico. Isso daria muita segurança, mas penso que isso esteja muito longe. O Enem no futuro não deve ser tudo no mesmo dia, deve ser uma prova agendada”, relatou.

Reflexos da pandemia

O Enem Digital 2020 foi realizado em Goiás nas cidades de Goiânia e Anápolis. A abstenção foi altíssima. Dos 1725 estudantes inscritos para a modalidade, 955 faltaram e apenas 770 compareceram aos locais de prova. A abstenção verificada no primeiro dia da avaliação impressa em Goiás foi de 54%.

Para o professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), pós-doutor em Educação, João Ferreira de Oliveira, há reflexos da pandemia da Covid-19. A preocupação vale tanto para a prova física, quanto a digital.

Enem. Foto: Samuel Straioto

“De maneira geral a gente se surpreendeu de uma maneira muito acentuada numa queda do número de inscritos para o Enem. Me parece ser o menor de quase 10 anos. Isso tem a ver com a pandemia e com toda a situação social que isso trouxe especialmente para a renda das pessoas, as condições de vida e muitos estudantes tiveram que parar os estudos, para ajudar na renda da família”, relatou.

Para o professor, apesar de o Enem Digital representar um avanço, é preciso levar em consideração diversos fatores sociais, para que grupos mais vulneráveis não sejam penalizados. “A gente vive num mundo cada vez mais tecnológico, com o uso da internet, computador, celulares, mas é um movimento que tende a crescer, isso depende da condição objetiva das escolas, das pessoas, e as pessoas se sentirem seguras para fazer a prova”, avaliou.

Provas Enem Digital 2020

  • 21/11: 90 questões objetivas de Linguagens e Códigos e Ciências Humanas e uma Redação
  • 28/11: 90 questões objetivas de Matemática e Ciências da natureza