Desde 2014, no dia 6 de agosto é comemorado o Dia Nacional dos Profissionais da Educação. Apenas na Educação Básica, de acordo com dados do Censo Escolar, são mais de 47 milhões de matrículas, distribuídas nas 178,3 mil escolas no país.

Nesse sentido, a data é compreendida como uma homenagem aos profissionais que compõem o cotidiano escolar. Para os professores, coordenadores, diretores, profissionais de limpeza e tantas outras atribuições, este domingo também é uma oportunidade de discutir medidas práticas para valorização e reconhecimento.

O dia

A Lei 13.054, de 2014, foi a responsável por oficializar a data em nível nacional. Dessa forma, a valorização do profissional da educação engloba diferentes sentidos, o que inclui ações que iniciam com o respeito e se estendem até medidas práticas, refletidas no piso salarial, jornada de trabalho e saúde mental, para citar alguns exemplos.

O Plano Nacional de Educação (PNE), que em 2014 estabeleceu 25 metas a serem cumpridas até 2024 no âmbito da educação, trata da valorização do profissional docente em sua 17º meta. O PNE define:

“Valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas da Educação Básica, a fim de equiparar o rendimento médio dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano da vigência deste PNE”.

No relatório intitulado “Balanço do Plano Nacional de Educação 2023”, organizado pela Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, a entidade afirma que a meta não será cumprida. A conclusão é feita a partir da análise dos últimos anos.

Nesse sentido, em 2022, o rendimento médio dos docentes com ensino superior completo das redes públicas era de 82,2% em relação a outros profissionais com a mesma escolaridade. Assim, o resultado aparece como um indicador da desvalorização da profissão docente.

Ensino

”Nunca me vi professora, mas veio a oportunidade e a abracei. Hoje, não me enxergo em outro lugar”, é o que diz Déborah Tavares, formada em Pedagogia e Matemática, com experiência que ultrapassa os dez anos na sala de aula.

Hoje, trabalha no município de Campinaçú, cidade com menos de 4000 habitantes, no interior do estado de Goiás. Recentemente, Déborah embarcou para São Paulo a fim de participar de evento que premiou professores de todo o Brasil.

O que a levou até a capital paulista foi um projeto autoral, com ensino de robótica para alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Para ela, a indicação representa um sinal de que a rotina de aulas, planejamentos e demais atividades, são conduzidas por um caminho certo, ainda que marcado por desafios.

Imagem: Freepik

”É uma profissão muito gratificante. Tem os seus prós e contras, mas a satisfação de ver um aluno aprendendo é muito grande”, define.

A história com a docência começou aos 22 anos, quando decidiu cursar Pedagogia. Uma decisão que exigiu coragem, já que o curso seria em outro município, a 105km de onde morava, além disso, Déborah tinha em casa a filha de 5 anos.

No começo da profissão, demorou um pouco para entender o seu lugar. Hoje, não há como esconder: a alfabetização tornou-se a sua parte preferida dentro da sala de aula. Mais do que ensinar a juntar letras e construir frases, Déborah aposta no poder de criar novos significados.

“Quando peguei uma turma de 2° ano do Ensino Fundamental, iniciando o processo leitor, quando começam a descobrir os signos e símbolos, vemos que é como ter uma venda e tirá-la dos olhos”, ilustra.

Inclusão

Incluir é também ensinar. Esse parece ser um dos lemas centrais de Cláudia Lima, educadora na cidade de Iporá, em Goiás. O começo de sua história com o ambiente escolar foi em 2010, inicialmente, no cargo de merendeira.

”Esse primeiro contato despertou em mim a certeza de que aquele ambiente escolar era o local onde eu teria a minha realização profissional”, relembra.

Depois, foi aprovada na Universidade Estadual de Goiás (UEG), para graduação em Ciências Biológicas. No mesmo período, cursou também Pedagogia. Mais tarde, vieram formações extras, como o mestrado na Universidade Federal de Goiás (UFG), e cursos complementares em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

Para professora, inclusão acontece quando todos os alunos participam de mesma dinânima na sala de aula, assistidos por professor regente e professor de apoio (Foto: Lucas Diener/Governo de Goiás)

“Enquanto professor de apoio, fazemos a ampliação, flexibilização e adaptação do material que é repassado para nós. Realizamos esse trabalho de acordo com a realidade de cada criança que atendemos no município”, explica.

Hoje, Cláudia trabalha como o que define por “professora de apoio”, o que, segundo ela, não deve demonstrar que ela é a única responsável por adentrar a realidade e alunos que integram a Educação Especial.

“Essas crianças são literalmente incluídas, sempre de uma forma muito integral. Esse é o verdadeiro sentido da palavra equidade, dando mais para quem precisa, e com um atendimento coletivo a todo momento. Além disso, as duas professoras atendem a todos os alunos, o que é muito importante”, defende.

Bem-estar

A alimentação saudável é primordial para o desenvolvimento integral de todo ser humano. Ademais, na escola, a alimentação é compreendida ainda como parte do processo de aprendizagem. Especialmente no contexto brasileiro, em que a fome e desnutrição compõem a realidade de milhões de lares.

De acordo com o Programa Nacional de Alimentação Escolar, unidades escolares de tempo integral são responsáveis por atender, no mínimo, 70% da carga nutricional necessária para crianças e adolescentes.

”Não é só ir lá, fazer a comida e pronto, acabou!”, é o que garante Sônia dos Santos, uma das profissionais responsáveis pela alimentação de um Centro de Educação Infantil (CEI), em Goiânia.

Em 2023, após seis anos sem correção, o reajuste no valor para a alimentação escolar no Ensino Médio e Ensino Fundamental foi de 39%. (Foto: Divulgação/Prefeitura de Goiânia)

Além disso, Sônia conta que percebeu a diversidade de responsabilidades envolvidas em seu trabalho, especialmente durante um curso técnico de dois anos em Alimentação Escolar, no qual teve contato com disciplinas complementares como relações humanas e Psicologia.

“O nosso trabalho é fundamental. Eles não iriam ficar ali o dia todo sem o alimento. São cinco refeições diárias, três de manhã e duas à tarde”, ressalta.

”Eu prefiro muito mais trabalhar na cozinha do que com papel e gente”, garante, bem-humorada.

Aos 56 anos, ela comemora os 21 anos na Educação. Antes disso, o trabalho era longe das panelas, mas perto dos números. Sônia trabalhou com Contabilidade.

”É muito diferente do que fazer comida em casa. Temos que servir aquele tanto de gente e servir todo mundo bem. E mesmo que você esteja com um monte de problemas em casa, você coloca um sorriso no rosto e vai trabalhar”, destaca.

Coordenação

Na rotina de uma escola, o papel do coordenador pedagógico é primordial para a organização e gestão do ambiente escolar.

Dessa forma, esse profissional é responsável pelo alinhamento do currículo escolar; na orientação de professores durante a composição e implementação do planejamento; auxílio com materiais pedagógicos, entre outras atribuições.

A experiência com a coordenação começou há oito anos para Martha Maria, que atualmente exerce a função em um centro de apoio para a educação de alunos com deficiência visual.

Formada em Ciências Biológicas, Martha atua há 30 anos como professora. Atualmente, enxerga o seu trabalho como uma ferramenta para promoção de independência e inclusão social.

“Sinto a necessidade de me qualificar cada vez mais, a fim de contribuir para o desenvolvimento da criança especial; de modo que se torne independente, respeitada e assim, encontre o seu lugar no mundo”, afirma.

Ao pensar em maneiras práticas para reconhecimento do profissional de educação, a coordenadora ressalta condições estruturais e de valorização salarial.

“Diminuir o número de alunos por sala; oportunizar qualificações para o professor; oferecer recursos tecnológicos e didáticos de qualidade e melhorar os salários para que o professor não precise trabalhar em várias escolas”, pontua.

A escola

“Na minha opinião a sociedade admira o trabalho do profissional de educação mas não valoriza, em especial o do professor. Inicialmente, a forma mais importante de valorizar este profissional é no momento de votar e de cobrar”, afirma o coordenador Uemerson Fernandes que, desde 1997, trabalha em ambiente escolar.

Nesse sentido, Fernandes trabalhou primeiro em função administrativa, na secretaria da escola, e depois, como professor da disciplina de Matemática, na Educação Básica.

Ao olhar para o presente, o coordenador ressalta a necessidade de mudanças, possíveis a partir de políticas públicas que posicionem o bem-estar do professor como o centro dos interesses.

“A tendência é ter cada vez mais profissionais afastados por questões médicas, aposentados por invalidez. E isso não é uma política inteligente, porque talvez saia mais caro do que ter profissionais mais valorizados. E ainda a longo prazo, já observamos cada vez menos pessoas querendo estas carreiras”, alerta.

Rede de apoio

“O dia que uma pessoa não está na escola, seja do administrativo, limpeza, pátio ou direção, podemos ter um problema em todas as outras áreas da escola. Então, as áreas são interligadas e todo profissional é de extrema importância”, afirma a professora Déborah Tavares.

Para Sônia, o ambiente de acolhimento encontrado no local atual em que trabalha virou até mesmo justificativa para se deslocar para uma região mais distante de onde reside. ”A equipe diretiva faz muita diferença. No lugar em que trabalho me dou bem com todo mundo, parece mesmo uma família”, compara.

Ao olhar para o futuro, a professora Cláudia Lima destaca o papel dos colegas de trabalho, como coordenadores e professores, mas também reitera a necessidade de medidas que assegurem o reconhecimento de modo efetivo.

“Ainda há muito o que se melhorar. O professor de apoio tem uma necessidade maior de materiais pedagógicos e de maior qualificação para atender esse aluno. Na educação, estamos caminhando, mas ainda há muitos avanços que nós almejamos e sonhamos”, conclui.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 4 – Educação de Qualidade 

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