Não apenas a Covid-19 deixará 2020 marcado na história. A destruição do Pantanal matogrossense por causa das queimadas, que continuam, também já é histórica. Para a diretora de Comunicação da ONG Ampara Animal/Silvestre, Raquel Facuri, tão grave quanto a devastação é a falta de uma brigada de incêndio no local há mais de duas décadas.

“Desde 1998 já se sabe da existência dos incêndios todos os anos. Estamos em 2020 e não temos brigadas de incêndio. Não temos Cetas, que é o centro de triagem de recebimento dos animais feridos no local. Isso está dificultando muito, a gente precisa montar estrutura, levar contêiner, buscar maneiras de fazer o atendimento desses animais”, afirma em entrevista ao Sagres em Tom Maior #112.

O fogo já consumiu mais de 20% de todo o bioma, destruindo o equivalente a mais de 10 vezes as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo juntas. A perda da fauna também choca. Equipes de resgate encontram diariamente jacarés, onças e antas, entre outros animais, mortos porque não conseguiram fugir das chamas ou mesmo encontrar abrigo em um local mais úmido.

Para Raquel Facuri, quando os bichos são resgatados, muitos incapacitados, há incerteza sobre como devolvê-lo à natureza, com o risco de se tornar presa fácil das queimadas. “Eu posso soltar mais uma onça em um local que não tem mais região para que esse animal sobreviva, que ele faça sua alimentação, busque sua presa?”

A diretora de Comunicação da Ampara Animal/Silvestre critica a redução de 58% nos recursos que são destinados para conter incêndios no país, e clama por um legado que vise a preservação do Pantanal e de todas as áreas devastadas pelas queimadas.

“A devastação deste ano é assustadora, e os impactos para o meio ambiente são incalculáveis”, afirma. “É conseguir deixar unidades de atendimento no local, exigir que sejam feitas brigadas de incêndio no Mato Grosso, visto que ano que vem haverá incêndios novamente, a gente precisa exigir fiscalização. Tudo isso precisa ser revisto”, complementa.

Força-tarefa

Em números gerais, o Pantanal tem cerca de 2 mil espécies de plantas, 580 de aves, e 280 de peixes, 174 de mamíferos, 131 de répteis e 57 de anfíbios. O número de invertebrados é desconhecido. O bioma também é refúgio para espécies ameaçadas de extinção que vivem em outras regiões. O projeto Bichos do Pantanal estima que entre 30% e 35% das espécies de flora e cerca de 20% de mamíferos foram atingidos pelos atuais incêndios, com base em levantamentos anteriores.

A força-tarefa tem o apoio das polícias militares ambientais do MT e MS, de brigadistas do Prevfogo IBAMA e ICMBio, e voluntários que trabalham ou vivem na região, não só para o combater aos incêndios, mas também para capturar imagens dos animais encontrados. Essa colaboração ajuda na montagem da lista de espécies afetadas. A comunicação é constante entre os diferentes grupos porque as equipes de resgate de animais e de levantamento das amostras não podem acompanhar de perto os brigadistas na linha de fogo, por questão de segurança.

Confira a entrevista na íntegra a seguir no STM #112