Em meio a telas, incentivo à leitura é desafio diário: educadores buscam alternativas

Em uma sociedade cada vez mais tomada por telas e buscas rápidas, o incentivo à leitura é um desafio diário para quem tem a missão de trabalhar com educação de crianças e adolescentes no país.

O último relatório elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que os alunos na faixa etária de 15 anos avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) no país têm uma média de proficiência em leitura de 413 pontos, enquanto alunos de outros 16 países da OCDE alcançaram média de 487 pontos, isto é, 74 pontos acima do Brasil.

A avaliação indica ainda que apenas 50% dos estudantes brasileiros alcançaram o nível mínimo ou acima de letramento em leitura a ser atingido até o final do ensino médio. Os números apontam um contraste com 77,4% dos estudantes dos países da OCDE, e assinalam que o desempenho pode afetar diretamente as oportunidades de ingresso e permanência no mercado de trabalho.

Novas experiências

Quando perguntou em sala de aula quantos alunos já haviam visitado a Biblioteca Pública de Pernambuco e recebeu um sonoro “não” como resposta, a instrutora Eliana Papais decidiu que esta seria a próxima atividade da sua turma.

Ao todo, 40 jovens participaram da atividade e tiveram contato pela primeira vez com a Biblioteca, entre eles Letícia Ferreira da Silva, de 19 anos.

“Ainda não conhecia a biblioteca. A experiência foi maravilhosa, o lugar que eu mais achei interessante foi a sala de reparos da biblioteca, vendo o cuidado com os livros antigos que estavam sendo restaurados. Essas atividades são importantes para desenvolver nosso conhecimento, aprender um pouco sobre nossa cultura e nosso Estado e nos ajudam a querer saber mais sobre os livros, sobre comunicação”, afirmou.

Os jovens fazem parte do programa de aprendizagem da Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renapsi), no Polo Recife.

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Educação de qualidade

Criada em 1852, a Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco é uma das mais ricas do país e possui obras do período colonial do Brasil. Além do acervo, o local conta com setores de Braile, restauração, controle e preservação de obras.

“Em todos os nossos encontros falamos sobre a ODS 4 que traz como meta assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Pensando nisso, veio à mente o incentivo e valorização da leitura de livros, e lugar mais apropriado não existe que uma biblioteca. A importância desses momentos é capacitarmos jovens mais integrados com a comunidade onde vivem, melhorarem a sua criticidade e serem cidadãos mais preparados para vida em sociedade”, resumiu Eliana.

Equipamento de datilografia chamou a atenção da jovem Mireya Marinho – Foto: Divulgação

Para a jovem Mireya Marinho da Silva, de 21 anos, a experiência foi “maravilhosa e cheia de aprendizados”.

“Esse tipo de atividade é muito importante para que possamos ter uma visão diferente sobre muitas coisas. Todos nós ficamos muito impressionados com cada canto daquele lugar, pois pudemos entender mais ou menos como funciona a biblioteca e o cuidado que todos ali tem com os livros. Posso afirmar que aquele dia foi muito significativo pra mim. Tinha um objeto lá que eu sempre quis ver pessoalmente, da datilografia, e quando eu vi fiquei maravilhada”, relatou.

Extensão da sala de aula

A instrutora destacou que pelas características de infraestrutura da biblioteca, com ambiente adequado para estudos e também pelos conteúdos encontrados no local, ela considera que, com a boa repercussão entre os alunos, a Biblioteca passe a ser utilizada como uma extensão da sala de aula.

“Parafraseando Paulo Freire: ‘A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo’. Nós como instrutores não podemos ser apenas facilitadores da aprendizagem, temos de despertar a vontade de aprender, e eu acredito que essas atividades impactam no modo de ver e pensar em como nossos jovens vêm o aprender e o saber”, reafirmou.