Medicina? Direito? Engenharia? Jornalismo? Odontologia? Qual destas profissões é a melhor para mim? Qual delas dá mais dinheiro? E se eu escolher errado? Estes são alguns dos questionamentos que os jovens fazem quando veem a necessidade de fazer uma escolha profissional.

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Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 4.004.764 pessoas se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021. O que elas têm em comum? A busca por uma vaga em um curso superior. Entretanto, a lista de diferentes cursos e profissões é enorme e com tantas opções, escolher a carreira certa pode ser desafiador.

A psicóloga e gestora de recursos humanos, Bruna Reis, destaca que escolher a profissão certa é uma questão de autoconhecimento.

Bruna Reis, psicóloga e gestora de recursos humanos (Foto: Arquivo pessoal)

“Alguns erros consistem em, por exemplo: ‘eu amo muito maquiagem, então vou ser maquiadora’. Será que realmente esse é o perfil? Eu vejo que esse pode ser um dos erros dos jovens, achar que ama muito alguma coisa e simplesmente resolver fazer isso para o resto da vida, sem avaliar. Por outro lado, eu acho que dá sim para transformar um hobby, algo que você ama, no seu trabalho. Mas você precisa se fazer algumas perguntas, você precisa se conhecer, é a primeira coisa de tudo”, afirma.

Uma escolha feita de forma errada pode acarretar em insatisfação, sofrimento, e em casos mais graves, até adoecimentos físicos e/ou psíquicos. Portanto, além de se conhecer é fundamental estudar o mercado de trabalho e as possibilidades que a profissão escolhida pode oferecer.

“Você precisa se dedicar e entender o mercado. Dar um google mesmo, ver como funciona, quais são os valores, quanto eu vou ganhar mensalmente fazendo isso. Conhecer a trajetória da profissão escolhida. Muitas vezes o jovem ou qualquer pessoa que esteja em processo de mudança de carreira, erra por não pesquisar, por não conhecer o mercado”, orienta Bruna Reis.       

Testes vocacionais

Uma das alternativas que podem ajudar a encontrar o melhor caminho, são os testes vocacionais. Esses testes são instrumentos que podem auxiliar as pessoas a reconhecerem suas qualidades, a fim de encontrar uma profissão compatível com elas.

Os testes vocacionais são realizados por psicólogos por meio de questionários e entrevistas, mas na internet é possível encontrar dezenas de testes que podem ser feitos por qualquer pessoa. Porém, Bruna Reis ressalta que um teste vocacional não pode ser um balizador na hora de escolher uma profissão.

“O teste em si é um validador do perfil. Uma boa entrevista, um bom direcionamento é o que faz com que a carreira consiga ser direcionada. Tanto para os jovens que estão no início de suas carreiras, quanto para pessoas mais velhas.  Por isso costumo dizer que o teste é um validador de perfil, eu não posso nortear toda uma carreira por conta de um teste. Então, é interessante que o direcionamento seja feito com uma série de avaliações, não somente por um teste específico”, argumenta. 

Outra questão que é preciso ser levada em consideração é a pouca idade desses jovens. A psicopedagoga explica que culturalmente somos levados a escolher uma profissão ainda na adolescência. No entanto, a profissional afirma que não é a idade ideal para se fazer uma escolha tão importante.

Andréia Macedo, psicopedagoga (Foto: Arquivo Pessoal)

“A neurociência cogita que aproximadamente aos 24 anos as pessoas estão preparadas para escolhas de longo prazo. E a vida profissional é uma escolha de longo prazo. Uma profissão que a pessoa escolhe aos 16, 17 anos poderá ser a sua área de atuação 40 anos depois. Então, a neurociência fala que o cérebro ainda não está pronto para essa decisão. Por isso essa escolha precisa ser fundamentada no autoconhecimento e nas pesquisas sobre as profissões. É preciso investir tempo nisso”.

Outro ponto destacado pela profissional é a principal motivação desses adolescentes na hora de escolher uma carreira. Para ela é um erro levar em conta apenas a remuneração.

“A pessoa que escolhe pela questão financeira, corre riscos muito grandes. Um deles de às vezes não ganhar tanto dinheiro assim com aquela profissão. E no final das contas a gente vai vendo que isso não é o mais significativo na vida. A forma como a pessoa trabalha e o como ela vai desenvolvendo seu trabalho vai dizer muito mais dela. Porque quem trabalha com paixão, estuda mais, se aperfeiçoa mais, busca mais cursos de capacitação e vai se profissionalizando cada vez mais e isso agrega também mais valor financeiro”, pontua.

O que o mercado procura?

Bruna Reis afirma que o mercado de trabalho tem buscado muito profissionais com diferentes habilidades, que vão muito além do que se aprende nos cursos superiores. Segundo ela, as hard skill (habilidades técnicas) e as soft skill (habilidades comportamentais) precisam estar alinhadas com o perfil que as empresas procuram.

“As hard skillssão as competências aprendidas mesmo, aquilo que você vai para a sala de aula. Então, eu sou boa em física e vou me direcionar para qual mercado de trabalho? Eu sou boa em matemática, talvez eu vá para contabilidade, para o mercado financeiro. Isso é hard skill, aquilo que é tangível”, explica.

“E tem também as soft skills que são competências um pouco mais difíceis de serem avaliadas. São competências comportamentais, comunicação interpessoal, capacidade de persuasão, capacidade analítica, resolução de conflitos e problemas. Então, são habilidades que o mercado também exige, mas que você não aprende em uma sala de aula. Hoje com a revolução tecnológica, nós estamos falando também das deep skillsque são capacidades comportamentais mesmo, de empatia e de felicidade, por exemplo”, conclui.

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Indecisão

Sarah Laurence Silva, de 16 anos, está terminando o ensino médio e ainda não decidiu que carreira vai seguir na vida adulta. A estudante está em dúvida entre Direito e Odontologia.

Sarah Laurence Silva (Foto: Arquivo pessoal)

“Sempre gostei muito da área da saúde, mas parece que agora minha cabeça está mudando bastante. São carreiras distintas, porém, sinto que eu me encaixo em cada uma, que cabe um pouquinho de mim em cada uma delas”, revela.

A adolescente conta que pretende fazer testes vocacionais e até mesmo contar com uma ajuda profissional se for preciso, para a decisão certa. Apesar da angústia, Sarah entende que sua escolha não precisa ser definitiva.

“Tenho medo de escolher uma profissão e depois descobrir que não é isso que eu quero. Mas se for preciso sei que terei coragem de mudar, porque não vou ficar em uma profissão que eu não gosto”, pontua.

A estudante mora nos Estados Unidos e está prestes a iniciar um curso de auxiliar de dentista integrado ao Ensino Médio. Ela ressalta que esse tipo de programa é comum nas escolas americanas e os alunos podem escolher cursos em diversas áreas do mercado de trabalho. Sarah acredita que o curso lhe ajudará a decidir se a Odontologia é o melhor caminho a ser seguido.

Cursos profissionalizantes

A  psicopedagoga, Andreia Macedo salienta que investir em cursos profissionalizantes é boa maneira de conhecer um pouco o mercado de trabalho.

“Eu acredito que investimento em cursos tecnológicos ou técnicos não é dinheiro jogado fora. Eles já dão indícios fortes de várias áreas profissionais e favorece muito até mesmo no amadurecimento para as escolhas profissionais. A pessoa se sente mais instrumentada para lidar com as suas questões e com as questões que envolvem a sociedade de forma geral”

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Fonte: Deep/Ineep com base nos dados do Censo da Educação Básica (Gráfico: Reprodução/ Asssociação Brasileira de Estágios – Abres

Quando falamos do ensino profissionalizante, podemos observar um crescimento no interesse por esses cursos.

Segundo dados do Censo da Educação Básica, nos últimos anos o número de matrículas em cursos profissionalizantes teve um aumento de 4,1% em relação a 2016, alcançando 1.936.094 estudantes em todo o país.

Em relação a 2020, o número de matrículas elevou-se em 1,1% influenciado pelo incremento de 65,5 mil matrículas (10,5%) na educação profissional integrada ao ensino médio.

Mudança de caminho 

Jovem aprendiz da Renapsi, Raquel Jully dos Santos Almeida de 20 anos, está decidida e vai cursar Publicidade e Propaganda. Ela conta que fazer um curso profissionalizante e entrar no mercado de trabalho antes de fazer uma graduação contribuiu muito para o seu crescimento.

“Eu pude entender como funciona o ambiente de trabalho e amadureci demais. Além disso, pude ter contato com outras pessoas e vendo a realidade de cada um a gente vai construindo e descobrindo o que realmente queremos”, destaca. 

Raquel Jully dos Santos Almeida (Foto: Arquivo pessoal)

Hoje a jovem acredita que Publicidade é a graduação certa. Porém, o caminho até chegar a essa decisão foi longo.

“Com 16 anos eu queria teatro, pensava em ser atriz. Também já pensei em ser modelo, advogada. É uma coisa que mexe muito com a nossa cabeça. Você fica a vida inteira pensando o que vai fazer quando crescer, qual profissão vai levar para a vida. É uma responsabilidade muito grande para um jovem de 16 anos”, salienta.

“Depois queria biomedicina. Sonhava em abrir uma clínica de estética. Mas eu vi que não era isso que eu queria de verdade. Eu fui vendo o Instagram de outras pessoas e pensei: ‘nossa eu gosto disso, gosto de divulgação, de publicidade mesmo. É isso que eu quero fazer”, celebra.

Raquel diz que sempre gostou de cuidar da pele e do cabelo e por isso acredita que a biomedicina era o melhor caminho. Mas com o tempo a jovem percebeu que estética e o autocuidado era só um hobbie e não o que ele queria levar para a vida.

Após descobrir o interesse pela Publicidade, Raquel começou a pesquisar sobre a profissão e conseguiu conhecer um profissional da área. “Conversei com um publicitário e ele me explicou como é a profissão, onde trabalha e tal. É uma profissão muito abrangente, posso trabalhar em qualquer empresa e acredito que nunca vai faltar emprego nessa área”.

Confiante na escolha que fez, Raquel já está ansiosa pelo ingresso na faculdade. “Sei que a diferença da faculdade para o Ensino Médio é muito grande e tenho certeza de que será difícil. Isso eu já coloquei na minha cabeça, mas gosto de desafios”, finaliza.