Nada nesta eleição para prefeitura de Goiânia em 2020 foi normal. E não apenas por ter acontecido no ano da pandemia, quando o Brasil já conta mais de 170 mil mortos pela covid-19, mas também por uma série de acontecimentos completamente atípicos em um processo eleitoral.

Foi uma campanha mais curta e de poucos acontecimentos políticos e que pode ser contada por meio de quatro atos, ou melhor, quatro áudios. O primeiro deles, um boletim médico. “Na manhã desse domingo, os exames de Maguito Vilela revelaram um aumento da inflamação pulmonar. A equipe medica decidiu realizar uma broncoscopia, que é uma endoscopia dos pulmões”, anunciou o médico pneumologista Marcelo Habahi, em vídeo divulgado no domingo, 15 de novembro. No momento em que emedebistas se preparavam para comemorar a vitória no primeiro turno, o médico revelava a piora no estado de saúde de Maguito Vilela (MDB). O maior anticlímax de uma eleição, antecipou o que seria a campanha no segundo turno.

Outros áudios também contam histórias negativas sobre o adversário do MDB. Em 14 de outubro vazou a mensagem que o senador Vanderlan Cardoso (PSD) enviou ao grupo de senadores, em defesa do colega Chico Rodrigues, flagrado em operação da polícia federal com mais de 30 mil reais na cueca.

“Conheço o Chico Rodrigues há mais de 30 anos, quando cheguei em Roraima. Não tem nada que desabone a conduta do senador Chico Rodrigues. Nós não podemos aceitar essa interferência, uma decisão absurda do ministro do Supremo”, disse Vanderlan no áudio.

Vanderlan começou a campanha do primeiro turno em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais. Depois desse áudio, amplamente difundido pelos adversários, ele estagnou e, sem reação, viu Maguito avançar a passos rápidos.

Um segundo áudio atazanou a campanha de Vanderlan. Em 2018, ele prometeu em sabatina ao jornal O POPULAR que não deixaria o Senado para ser candidato a prefeito de Goiânia em 2020. O MDB se incumbiu de viralizar também essa declaração, em uma estratégia para promover a desconfiança na palavra do senador. Deu certo, e Maguito venceu a primeira parte da disputa com frente de 11 pontos percentuais. Neste segundo turno, foi a vez de Vanderlan espalhar a incertezas em relação à recuperação da saúde de Maguito.

“Vem essa lorota toda, essa conversa estranha de que ele está bem, mas ele teve que ser intubado de novo. Nós estamos vivendo em Goiás um estelionato eleitoral, estão ludibriando o eleitor, levando para uma comoção, uma pessoa que está lutando pela vida e quem está coordenando toda essa tramoia toda é o seu filho (Daniel Vilela) que todo mundo sabe o que ele quer ser, quer assumir o protagonismo, quem está por trás disso, os acordos políticos para retomar Goiânia a todo custo”, apontou Vanderlan.

Faz parte do debate eleitoral tratar da gravidade da doença de Maguito e expor o vereador Rogério Cruz, do Republicanos, candidato a vice-prefeito. O problema foi a forma estabanada com que Vanderlan tratou de assunto tão delicado, o que lhe rendeu muitas críticas nesta reta final da campanha. A eleição neste domingo (29) acontece neste clima, de dúvidas sobre a recuperação de Maguito, hospitalizado desde o dia 22 de outubro, e de estranhamento em relação ao comportamento de Vanderlan. Uma situação que apenas acrescenta mais uma pitada de anormalidade nesta singular eleição para prefeito de Goiânia.