Dois nomes e nenhum candidato. Essa é a realidade do PMDB no período pré-eleitoral. E ao que tudo indica, deve continuar até março. A possibilidade de o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PMDB), vir a ser o candidato do partido em Goiás era tida como ínfima, até bem pouco tempo. Porém, uma conversa, a convite de Meirelles, com alguns peemedebistas, entre eles os deputados Thiago Peixoto, Paulo Cezar Martins e o prefeito de Quirinópolis, Gilmar Alves, na terça-feira, 26, reacendeu a expectativa de que seu nome pode ser colocado na disputa pelo governo do Estado.

 

O prefeito Iris Rezende (PMDB) segue afirmando que a decisão do PMDB cabe a Meirelles, mas enquanto não define o candidato, Iris segue com uma agenda e discurso de possível candidato ao declarar que se o partido o escolher, ele não pode “fugir à luta”. Além disso, Iris já cogita a possibilidade de começar a andar pelo Estado. Porém, em entrevista à Rádio São Francisco em Anápolis no dia 22 de janeiro, o prefeito afirmou que suas viagens pelo Estado são somente para participar dos encontros regionais do partido e não porque pretende ser o candidato do PMDB. “O nosso contato com as lideranças do interior não se resumem a simplesmente pensar numa candidatura minha. Quem segura o partido é a base”, afirmou.

O prefeito Gilmar Alves, que faz parte dessa base aclamada por Iris, afirma que não há ansiedade para a definição do nome e que entende que cada um tem suas ocupações e por isso ambos têm agido com muita cautela, respeitando os cargos que ocupam. “O PMDB tem dois bons possíveis candidatos e isso é muito bom. Tem gente que não tem nenhum”, ironizou. Alves, que também preside a Frente de Mobilização Municipalista (FMM) confirma que os prefeitos esperam uma decisão e que esta será tomada de comum acordo entre Iris e Meirelles. Nos últimos dias, inclusive, Iris tem recebido no Paço prefeitos de diversas regiões do Estado que foram declarar apoio ao seu nome e também cobrar uma decisão.

A preocupação de alguns peemedebistas com a escolha tardia de Henrique Meirelles se dá pelo fato dele ainda ser um nome distante da política regional para muitos goianos, apesar de sua exposição na mídia e sua boa cotação no mercado financeiro. Em algumas cidades do interior, no entanto, Meirelles já tem seu nome muito bem guardado pelo eleitorado. É o caso de Ceres, que foi um de seus redutos na campanha a deputado federal em 2002, quando ainda integrava os quadros do PSDB. A vice-prefeita da cidade, Maria Inês Brito (PT), afirmou em entrevista à Tribuna que, à exceção de outros municípios, os eleitores da cidade conhecem Meirelles devido à campanha, em que fez dobradinha com um candidato de Ceres.

Incerteza
O deputado Thiago Peixoto afirma que tem se reunido tanto com Iris quanto com Meirelles para tratar da definição do partido. Ele diz que tem trabalhado para não gerar uma disputa interna, já que o partido tem “dois ótimos nomes”. Thiago acredita que essa ansiedade pela escolha do candidato é natural por ser ano eleitoral, mas que os candidatos não devem esperar por isso para começar a costurar suas chapas proporcionais, como tem defendido alguns deputados.

Sobre a conversa que teve com Henrique Meirelles na semana passada o deputado confirma que há uma maior predisposição do presidente do BC em disputar um mandato em Goiás. “Ele tem visitado Goiânia, tem chamado para conversar. Ele está considerando de forma muito séria sua participação no processo político”. Um dos maiores defensores da definição peemedebista, o deputado Samuel Belchior, entende que Meirelles deveria dar uma sinalização sobre sua candidatura pelo menos para a cúpula do partido. Ao contrário de Thiago Peixoto, Samuel afirma que Meirelles não dá atenção às bases e que deveria chamar os deputados federais e estaduais para conversar. Para ele, o partido vive um clima de “total incerteza” sobre a posição de Meirelles, inclusive o prefeito Iris Rezende.

Belchior defende sua posição de pressionar a antecipação, pois, segundo ele, essa é uma tendência do próprio prefeito, que diversas vezes afirmou que o PMDB deveria decidir seu nome o quanto antes. “Se demorar a decidir o partido só estará perdendo tempo. Se o partido não define candidato, fica sem caminho”, afirma. Segundo o deputado, “há um mal estar dentro do partido” por não saber quem será o candidato. Samuel Belchior teme que se Henrique Meirelles adiar sua decisão para o fim de março, o PMDB corre o risco de ficar sem candidato para as eleições.

O deputado Paulo Cezar Martins, que também compareceu à reunião com Meirelles, confirma que ele espera uma conversa com o presidente Lula para decidir seu futuro político. Essa conversa deveria ter acontecido na viagem de ambos a Davos para participarem do Fórum Econômico Mundial, mas teve que ser adiada devido ao problema de saúde do presidente. Martins acredita que Meirelles deveria conversar mais com as lideranças regionais “sutilmente, sem fazer alarme”, mas faz coro à Gilmar Alves quando afirma que tanto o presidente do BC, quanto Iris têm dificuldade para se lançarem candidatos devido aos cargos que ocupam.

O deputado informou à reportagem que vai entregar ao presidente do partido, Adib Elias, um ofício pedindo a convocação de uma reunião com todos os membros das câmaras municipais, bancadas estadual e federal e prefeitos do PMDB para que haja uma integração da cúpula com as bases. Paulo Cezar critica o diretório regional que, segundo ele, “tem trabalhado muito pouco para buscar composições no interior”. Essa opinião é também defendida por Belchior que defende que as alianças com outros partidos só serão construídas depois da definição. “Os partidos só vêm conosco quando souberem quem será o candidato”.

O temor de quem pressiona pela definição é de que não haja tempo hábil para se construir campanha de um candidato a governador. Ao percorrer os municípios goianos, Iris deixa claro para a base do PMDB que apesar de não ter nome definido o partido terá um candidato. Caso seja ele próprio o candidato, o trabalho já está começando. Se Meirelles optar por sua postulação em Goiás, Iris Rezende é o melhor cabo eleitoral para ele. Pessoas ligadas ao prefeito afirmam que ter sua “benção” para uma candidatura é sinônimo de votos. Muitos votos.

(Texto de Lis Lemos, do jornal Tribuna do Planalto)