Lutando pela permanência na Série A do Campeonato Brasileiro, o Goiás Esporte Clube também convive com bastidores movimentados pela eleição para escolher o sucessor de Marcelo Almeida na presidência executiva. O pleito, que inicialmente estava acertado para acontecer na segunda quinzena de dezembro pelo estatuto do clube, pode ser adiado para o início do próximo ano.

Essa possibilidade desagradou a chapa União Esmeraldina que faz oposição à situação, que em entrevista à Rádio Sagres cobrou atitude de Marcelo Almeida para marcar a eleição. No entanto, o atual mandatário ficou cerca de 20 dias afastado se recuperando da covid-19 e não esteve presente nas últimas decisões do clube.

“Quando eu tive que me afastar eu senti a necessidade de que alguém tomasse frente do clube porque o Goiás, independente de qualquer coisa, não para. Eu lancei mão de pedir ao Seu Hailé que assumisse o comando levando em consideração que eu não poderia estar ali. O Seu Hailé aceitou de ‘bate e pronto’ esse pedido e começou a comandar o Goiás. Agora estou retomando”, revelou Marcelo.

O dirigente relembrou uma conversa com Hailé Pinheiro, presidente do Conselho Deliberativo, solicitando a intervenção do principal nome do Goiás no dias em que estaria afastado por conta da saúde.

“Com relação a essa eleição, historicamente o Seu Hailé comanda esse processo e na conversa que tive com ele, ele me disse “Marcelo, deixa comigo que com relação a esse processo eleitoral eu tenho experiência e dou conta de comandar”. É exatamente isso que está acontecendo e pelas conversas que tenho tido com ele, as eleições eram para estar acontecendo na segunda quinzena de dezembro. Mas esse ano é atípico, estamos dentro da pandemia, crise financeira, o campeonato que era para acabar agora e só vai terminar no final de fevereiro, além de contratos de jogadores que foram feitos para a competição terminar neste ano. Ou seja, problemas existem “de montão”, e por conta disso o Seu Hailé chegou para mim e ponderou -não é nada de concreto-, de que essa eleição pudesse ser feita mais para frente. Essa possibilidade é real, ela existe, mas não há nada de concreto”, frisou.

Marcelo Almeida ainda completou dizendo que nos últimos anos o processo eleitoral sempre ficou à cargo do Conselho e que por isso, Hailé Pinheiro estaria à frente das eleições em 2020.

“Se essa prerrogativa hoje é do presidente executiva, um dia ela foi do presidente do Conselho. Se houve uma mudança, houve agora, recente, do último estatuto para cá e talvez eu não tenha me atualizado do último estatuto. Porém eu garanto que a última eleição foi convocação do presidente do Conselho Deliberativo. Se foi assim para outro, deveria ser assim para mim também. Alguma mudança houve. Quem fez? Por que fez? E se de fato é assim, isso que vamos ver, eu me comprometo a ver”, afirmou.

Paulo Rogério Pinheiro

O presidente executivo do Goiás também comentou a presença constante de Paulo Rogério Pinheiro no dia a dia do Goiás nas últimas semanas. Filho de Hailé Pinheiro, o forte conselheiro é apontado como um dos nomes da chapa de situação para concorrer a presidência.

Nas últimas entrevistas, tanto o zagueiro Fábio Sanches quanto o treinador Glauber Ramos destacaram a participação de Paulo Rogério nas atividades esmeraldinas. O movimento, no entanto, é visto com naturalidade por Marcelo Almeida.

“Eu fiz um pedido ao Seu Hailé para que ele pudesse assumir o Goiás nesta reta final frente ao fato que foi acometido pela covid-19, fiquei extremamente debilitado. a partir do momento que eu convoquei e solicitei a presença do Seu Hailé, todos sabem que ele tem uma saúde bastante fragilizada e obviamente ele iria pedir alguém de sua confiança para que o ajude. Nada mais natural ele pedir ajuda do filho dele, o Paulo Rogério, que é supostamente uma pessoa que será o virtual candidato à presidência do Goiás. Então vejo isso com total naturalidade. O (Paulo) Rogério quer ser presidente, ele é filho do Seu Hailé, eu pedi para o Seu Hailé ajudar e ele não consegue em sua plenitude, nada mais natural do que pedir ajuda do filho”, analisou.

“O cara vai perdendo o poder e ficando só”

Mas não é só ele que ficou ausente do Goiás nas últimas semanas. Isolado por conta da covid-19, Marcelo Almeida revelou que não tem contado com o apoio de seus vice-presidentes nesta retina final de mandato.

“Essa ‘síndrome do abandono’ é corriqueira em final de mandato, seja de presidente de clube, da República, governador, de qualquer cargo que cumpra essas funções. Quando o indivíduo está no fim de mandato é natural que ele fique só, em se tratando de time de futebol, principalmente quando o time não está bem. Engraçado que quando o time está bem falta ingresso de tribuna, falta camisa, e os pedidos são feitos diariamente. Infelizmente estamos vivendo um momento de muita tristeza e eu acho isso muito natural, é coisa do ser humano. Eu estou muito solitário, muito”, reclamou.

“Por exemplo o Mauro (Machado), eu converso muito pouco com ele sobre Goiás. O Rogério Santana, eu tive algumas vezes no Goiás e ele estava lá presencialmente, ele é extremamente responsável e preocupado. O restante, confesso que faz tempo que não vejo. É a síndrome do presidente que está terminando seu mandato, o cara vai perdendo o poder e ficando só”, completou o dirigente.

Maior erro como presidente

Prestes a entregar seu cargo para o sucessor, Marcelo Almeida fez um balanço de suas ações no comando do time esmeraldino e disse se arrepender de não ter ‘tomado a frente’ do departamento de futebol.

“Quando eu entrei para o Goiás eu falei para todo mundo que gosto de futebol, mas eu acho que existem pessoas que entendem muito mais de futebol do que eu ou pelo menos tem pessoas que acham que entendem. No futebol todo mundo acha que é “professor de Deus”. Eu tenho um pouco mais de humildade. Gosto de futebol, tenho um certo conhecimento, mas não sou um ‘metido a besta’ de dizer que sou um profundo conhecedor de futebol”, destacou.

“Eu disse que o futebol não vai ficar na minha mão, mas sim na mão de outras pessoas que pelo menos se intitulam mais sabedores de futebol que eu. Várias pessoas comandaram o futebol. Foi o meu erro? Se eu pudesse voltar no tempo e mudar a história, eu mudaria a história porque eu acho que essa foi uma grande falha minha. Não é possível que sou mais bobo que os outros no futebol. Só que eu tive a humildade de querer que outras pessoas comandassem esse futebol, mas várias pessoas tomaram a rédea do futebol do Goiás. Essas várias pessoas tomaram condutas, algumas acertadas e outras desacertadas, talvez mais desacertos do que acertos. Esse é um erro que eu acho que cometi. Se eu pudesse voltar no tempo, eu teria feito diferente. Infelizmente agora é ‘chorar o leite derramado'”, concluiu Marcelo Almeida.

Ouça na íntegra a entrevista de Marcelo Almeida à Rádio Sagres: