Integrantes do Ministério Público de Goiás (MP-GO) se manifestaram em entrevista coletiva nesta quinta-feira (8) sobre o trancamento das investigações no âmbito da Operação Vendilhões, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), e que apura supostas irregularidades e desvio de recursos provenientes de doações de fiés à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe).

Nesta semana, o Tribunal de Justiça de Goiás determinou a paralisação das investigações, que envolvem o padre Robson de Oliveira, afastado da presidência da Afipe, da reitoria do Santuário Basílica em Trindade e de suas atividades de sacerdote.

No entendimento da Justiça, a Afipe, que é uma instituição privada, pode realizar transações comerciais permitidas em estatuto com dinheiro doado de forma voluntária por fiéis da Igreja Católica. O  procurador Aylton Flávio Vechi contrapõe.

Na entrevista coletiva, o promotor do MP-GO, Sandro Henrique Silva Halfeld Barros, argumentou que todos os dias os investigadores descobrem novas empresas laranjas que recebiam dinheiro da Afipe para executar os desvios, e que um documento apreendido mostra que um gerente da associação reconhece as práticas criminosas.

“Foram transferidos para essas empresas laranjas R$ 34 milhões. Todos os dias a gente descobre uma empresa nova no nome de laranja”, afirma. “Não é o Ministério Público que está dizendo que há organização criminosa, lavagem de dinheiro ou apropriação indébita. São os membros da Afipe e eles enumeram todas as pessoas envolvidas. Esse é apenas um dos documentos apreendidos. Nós já ouvimos inúmeras pessoas e as questões das falsidades, dos desvios, cada dia cresce”, complementa.

As investigações tiveram início em 2018 e contaram com a participação de vários promotores de Justiça, delegados e policiais. Estão sendo apurados possíveis crimes de apropriação indébita, lavagem de capitais, organização criminosa, sonegação fiscal e falsidade ideológica.

Assim como informou em nota na última quarta-feira (7), o MP-GO reforçou a licitude das provas colhidas durante a investigação, e disse que irá recorrer da decisão.

Em nota, a Afipe informou que “independente de qualquer decisão da Justiça ou do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), a nova diretoria da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) continuará o planejamento que definiu à frente da entidade: o trabalho de auditoria, reforma administrativa, implantação de governança e demais ações que estão em andamento na associação”.

Ainda na nota, a autodenominada “NOVA AFIPE entende que tais medidas são fundamentais para o seu renascimento e para que a entidade possa continuar cumprindo com sua principal missão precípua, que é evangelizar e manter suas ações sociais, a obra da nova Basílica em Trindade e a TV Pai Eterno” e que essa é “a forma de conduta que a NOVA DIRETORIA acredita e que vai manter a confiança do devoto do Pai Eterno nas ações da entidade e na transparência que a atual gestão defende e trabalha diuturnamente”.

A defesa do padre Robson de Oliveira, representada pelo advogado Pedro Paulo de Medeiros, informou em nota que “causa surpresa, ao arrepio da Constituição Federal, membros do Ministério Público divulgarem material obtido irregularmente em busca e apreensão de operação que o  Tribunal de Justiça mandou arquivar” e que o “MP está divulgando elementos de forma ilícita e está chamando esta ação ilegítima de “provas””.

Por fim, a defesa do religioso argumenta que as “alegações do Ministério Público não podem ser usadas em nenhum processo  porque a cautelar que determinou a busca e apreensão foi declarada ilegal pelo Judiciário, pois não havia crime” e que “nenhum dinheiro foi desviado da Afipe”.