No dia 30 de outubro ocorrerá o segundo turno das eleições gerais de 2022. Os brasileiros irão às urnas para escolher o Presidente da República para os próximos quatro anos. Em um cenário de disputa onde se apresentam dois extremos, o professor e historiador  João Cézar de Castro Rocha lembrou que o diálogo é importante. “Na ética do diálogo, o outro é um outro eu e tem todo o direito de ser diferente”, disse.

Assista a entrevista na íntegra: 

Assumidamente integrante da esquerda democrática, João Cézar de Castro também é escritor e escreveu o livro  Guerra Cultural e Retórica do ódio: Crônicas de um Brasil Pós-político. Segundo ele, a ética do diálogo é um princípio da esquerda democrática.

“A esquerda democrática propõe uma ética do diálogo. Na ética do diálogo o outro é um outro eu e tem todo o direito de ser diferente.  E a diferença desse outro em relação a mim me enriquece se eu sou capaz de parar para ouvir o que ele tem a dizer”, contou.

Castro define guerra cultural como “a mais poderosa máquina eleitoral do século XXI”. O escritor explicou que foi com ela que a extrema direita avançou nos últimos em todo o mundo se elegendo através de eleições livres e democráticas.

“Se no passado a extrema direita chegava ao poder pelas armas, em golpes de estado, hoje em dia a extrema direita chega ao poder conquistando corações e mentes. Isto é, eleitores. E isso ocorre sobretudo por meio da guerra cultural, com essa poderosa máquina de conquistar corações humanos”, afirmou.

Para o historiador o Brasil está imerso numa guerra cultural.Questionado sobre o que seria na prática, ele explicou: “É uma máquina de produzir narrativas polarizadoras, divide o mundo entre o bem e o mal e o objetivo principal dessa produção contínua e ininterrupta de narrativas polarizadoras é inventar inimigos em série”, disse.

Castro avaliou que os efeitos da produção de narrativas é manter as pessoas mobilizadas e apontou motivos para ser uma “arma poderosa”. “Uma vez que eu crio inimigos, o comunismo, o globalismo, eu consigo manter a base permanentemente mobilizada. E o efeito é a despolitização da política, porque o que ocorre é que transfere para o espaço público e para a disputa política o tipo de engajamento que define a rede social, por isso é uma máquina social muito poderosa”, pontuou.

Polarização

Frequentemente se escuta que o país está polarizado. Seria como se as ideias contrárias dos eleitores os colocassem em dois extremos, onde um não converge para o outro e não se misturam. Para João Cezar de Castro a polarização não é um problema.

“A polarização é o sal da vida. Não existe vida sem polarização. Quer ver uma coisa: Nós vamos falar durante 10 minutos, não vamos? depois vamos ficar silenciosos. Trabalhamos o dia inteiro, não trabalhamos? depois repousamos. Ao dia se sucede a noite, e é sempre assim. A polarização é o princípio vital”, disse.

Segundo o professor, as questões relacionadas à chamada extrema direita ou bolsonarismo não são a polarização.

“O problema da extrema direita e, sobretudo, do bolsonarismo não é a polarização, é que eles querem destruir o outro pólo, querem ficar soberanos, absolutos, sozinhos.  É a junção, essa guerra cultural assim compreendida depende de uma linguagem que é a retórica do ódio. E na retórica do ódio você torna o outro um inimigo que deve ser eliminado”, afirmou.

O professor defendeu o diálogo democrático e opinou sobre o cenário polarizado que o país está enfrentando. “A questão básica que temos que evitar no Brasil são os extremismos porque eles não convivem, eles querem eliminar a alteridade”, disse.

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