Chegamos a terceira parte que encerra esta série que destaca que Goiânia não vive sua primeira e nem a última crise do lixo. Nas duas primeiras partes acompanhamos um recorte histórico entre a década de 1970, quando a Comurg foi criada até o ano de 2017. Nesta etapa final, o destaque é para a crise atual, possíveis saídas e reflexões para o futuro.

Entre os anos de 2017 e 2020 havia irregularidade na coleta de lixo, em Goiânia. O então prefeito Iris Rezende destacava que a questão era pontual. No entanto, era comum a quebra de caminhões.

Em outubro de 2017, Iris ao ser questionado por este jornalista sobre a reposição de maquinários para a companhia, dizia que a gestão faria aquisição de novos caminhões. De fato aconteceu. Em dezembro de 2019, a prefeitura preparava nova licitação e a entrega de 49 caminhões ocorreu em agosto de 2020.

Renovação da frota

De lá pra cá não houve renovação da frota de caminhões da Comurg. A vida útil dos caminhões de coleta dura entre 4 e 5 anos (em média). Dos 49 caminhões adquiridos em 2020, 29 ainda estão em operação. Com o passar do tempo, o desgaste das peças vai se tornando mais frequente e, com isso, mais caminhões parados e menos caminhões circulando para recolher o lixo.

Algumas tentativas frustradas de renovação da frota aconteceram já em 2023. Mas, antes disso um problema que foi comum ao longo da Comurg ocorreu com frequência em 2022, durante o período eleitoral e também em 2023, que foi o inchaço na companhia com aumento de gastos com comissionados.

O número de servidores comissionados na Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg) passou de 140 para 330 entre agosto de 2021 e agosto de 2022. Houve uma redução e logo no início do ano novo aumento, chegando a 309, com posterior redução.

Transparência

Em maio a Comurg adiou edital de licitação após tentativa de locação de até 30 caminhões compactadores por até cinco anos. A época, a prefeitura cancelou o edital por determinação do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO), que encontrou irregularidades no documento, entre elas sobrepreço.

A Comurg não trouxe explicações detalhadas, e na crise atual na companhia, o que faltam são informações, por exemplo, no ano passado o Paço pretendia fazer um aporte de R$ 30 milhões a empresa, mas o projeto foi retirado da Câmara Municipal, após vereadores da própria base cobrarem mais informações.

Nesta mesma linha, a crise era conhecida já no mês de setembro. A frota total é de 46 veículos. A companhia chegou a ter à disposição apenas 20 caminhões na operação para atender os mais de 800 bairros da cidade. O problema já era de conhecimento do prefeito Rogério Cruz (Republicanos).

Na última quarta-feira (18), a Comurg lançou o edital para a contratação de 30 caminhões compactadores de 15 m³ por aluguel, com validade de 5 anos.

Soluções

Nas três partes desta série vimos diferentes problemas, em momentos distintos na história da cidade. O que não mudou foi a forma como a Comurg foi gerida ao longo do tempo. Um super inchaço da máquina para fins políticos, com cotas para vereadores, deputados e outros agentes políticos fazerem campanhas eleitorais. Se a Comurg não for profissionalizada, com cortes do uso político, crises serão resolvidas, mas pontualmente e voltarão a incomodar os goianienses.

Além disso, as atribuições da companhia foram aumentando devido à sua capilaridade pela cidade, o que novamente chama atenção do capital político abraçado muitas vezes por aqueles que querem vencer eleições. Companhias de porte semelhante à da Comurg possuem menos atribuições.

Outro aspecto é a transparência. Quantas vezes ao longo da história não ouvimos histórias de supersalários? Agora mais recentemente de contratações em massa de comissionados. Por qual razão? Ou terceiriza, ou promove concurso.

A gestão do aterro sanitário é um grande problema. Reportagem da Sagres em 2022 aponta que se nada for feito, o aterro terá sua capacidade esgotada em até 15 anos. O que a cidade tem feito para melhorar a coleta seletiva? Não apenas o recolhimento, mas pensando na destinação, na reciclagem, para que menos resíduos cheguem ao aterro.

Quanto aos caminhões, é conhecida a informação de vida útil dos veículos e da mesma forma, os trâmites burocráticos. Não daria para antecipar a crise?

Enfim, se a forma de pensar e gerir não muda, as crises também não. E, de tempos em tempos, teremos que recorrer a memória e lembramos das oportunidades perdidas para evitar novas crises do lixo em Goiânia.

O tema integra o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS-11 Cidades e Comunidades Sustentáveis.

Leia a primeira parte

Não é a primeira e nem será a última crise do lixo em Goiânia (Parte 1)

Leia a segunda parte

Não é a primeira e nem será a última crise do lixo em Goiânia (Parte 2)