A concentração de cinza, fuligem, fumaça e compostos químicos poluem a atmosfera. Como resultado, as primeiras chuvas são mais ácidas e precipitam com esses contaminantes, que como consequência, gera o fenômeno da chuva preta.
Rio Grande do Sul e Santa Catarina tiveram o fenômeno nas últimas semanas, mas ele também ocorreu em cidades do Uruguai e da Argentina, países vizinhos que também enfrentam os efeitos das queimadas. A chuva preta no Sul do Brasil era esperada por causa do aumento da poluição do ar entre agosto e o início de setembro, ocasionada por causa dos vários e constantes focos de incêndio em grande parte do país.
A pesquisadora de mudanças climáticas e meio ambiente, Larissa Warnavin, que também é geógrafa e docente do Centro Universitário Internacional Uninter, explicou que os compostos são incorporados às gotas de chuvas e por isso a água precipita com a cor preta.
“A gente tem muita fuligem e muita fumaça no ar, e essa fumaça que está em suspensão no ar e principalmente nas camadas mais altas da atmosfera, que é onde são formadas as chuvas, ao formar essas nuvens de chuvas temos as precipitações com esses contaminantes e os poluentes derivados das queimadas”, ressaltou.
Chuva ácida
Larissa Warnavin destacou que o fenômeno registrado no Rio Grande do Sul é a chuva preta, que é quando a chuva precipita com uma cor escura, espuma e vestígios de fuligem. “Esse fenômeno da chuva preta acontece nas primeiras horas que começa a chover depois de um período longo de estiagem”, contou.
Com o avanço da massa de ar que está distribuindo as chuvas, o fenômeno pode se repetir no Paraná e em São Paulo. Porém, a especialista alertou que é importante dizer que chuva preta e chuva ácida são coisas diferentes.
“O primeiro ponto a destacar é que toda chuva é um pouco ácida, pois ela tem um pH (medida do grau de acidez) abaixo de sete, mas o que acontece no momento é o que a gente chama de fenômeno de chuva preta”, contou.
Larissa Warnavin explicou as circunstâncias da precipitação de chuva ácida. “A chuva ácida vai ocorrer em outras circunstâncias, normalmente em áreas com muita poluição industrial. Então é outro tipo de formação de poluentes, de contaminantes que tem no ar que vão fazer com que tenha uma chuva ácida. Elas são diferentes”, destacou.
Riscos à saúde
Quando chove procuramos abrigos pela cidade, saímos com o guarda-chuva e algumas pessoas captam a água para aproveitar. Em casos como a chuva preta não é ideal a coleta porque é uma água suja. A ocorrência desse fenômeno é boa em casos de atmosfera poluída, pois ele só ocorre porque o ar está sendo limpo. Mesmo assim, é preciso agir com cuidado.
“É indicado que não faça a ingestão dessa água, pois não é própria para consumo humano e animal. Tem muita gente que tem cisterna, então é importante não coletar a água nas primeiras três ou quatro horas da primeira chuva”, destacou.
A água preta não deve ser usada também para irrigar as plantas e consumo de animais. Larissa Warnavin orientou que a coleta comece a partir da segunda chuva e que as pessoas façam sempre algum tipo de filtragem.
“Nenhuma água da chuva é própria para o consumo humano, o ideal é que ela seja filtrada, mesmo que não seja chuva preta, a chuva normal mesmo. Então, não faça a ingestão direta porque a gente tem outros contaminantes no ar que não vem só das queimadas, vem da poluição industrial, dos carros, principalmente nas cidades. Então, o ideal é não ter nenhum contato com essa água”, afirmou.
Danos em veículos
Chuvas mais ácidas são mais comuns em lugares como São Paulo por causa da queima de combustíveis fósseis e os poluentes da indústria. Há muita preocupação quando a chuva precipita mais ácida, porque algumas pessoas relatam danos a pinturas de carros, por exemplo. No entanto, Larissa Warnavin apontou que esses danos não são frequentes.
“No Brasil a gente tem alguns lugares que já tiveram chuva ácida, mas não chega nesse nível, porque precisa de muitos dias ocorrendo esse fenômeno com muita contaminação para que tenha essas corrosões. Não é algo que acontece de um dia para o outro como é o caso da chuva preta”, contou.
Falta de chuva
Está chovendo no Sul do país, mas o Brasil tem cidades com mais de 150 dias sem chuvas. Elas estão em grande parte da região central. Então, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia , Piauí e Rondônia são locais que concentram os municípios sem precipitações de 120 a 158 dias.
As chuvas são esperadas em diversos lugares para ajudar a apagar os focos de incêndios, limpar o ar atmosférico, aumentar a umidade do ar e diminuir o calor. Warnavin lembrou que no ano passado choveu menos que o normal. “A gente pode dizer que essa seca está se acumulando”, disse.
A seca se acumula mesmo em períodos em que chove um pouco a mais e este ano as precipitações se atrasaram um pouco.
“A tendência que a gente tem acompanhado com essas previsões meteorológicas é que a partir de outubro o período chuvoso, principalmente no Centro-Oeste e no Norte do país, tenha o período normal, vamos dizer assim. Mas a tendência é que seja um ano mais seco mesmo”, finalizou.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima.
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