No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava que o mundo estava vivendo uma pandemia causada pelo novo coronavírus (Sar-Cov-2). A classificação se deu por causa do nível de disseminação geográfica da doença, a Covid-19, que em poucos meses de conhecimento de sua existência, estava em vários países do globo e chegava rapidamente, principalmente, pelo trafego intenso dos aeroportos.

Desde então, o mundo inteiro se viu diante de um mesmo inimigo: um vírus. Os níveis de cuidado com a higiene pessoal se elevaram, os ambientes passaram a ser vetores de contaminação e passados dois anos que o mundo conhece o Sar-Cov-2, ainda há pessoas que questionam a gravidade da doença e se recusam a adotar medidas protetivas mais básicas, como o uso da máscara e o álcool em gel. Durante a pandemia, essas pessoas ficaram conhecidas como negacionistas. Em entrevista à Sagres, a psicóloga clínica Paloma Prates afirmou que não considera que sejam pessoas egoístas.

“Eu vejo mais como um negacionismo de proteção. As pessoas passaram por frustrações e nem todo mundo soube lidar com essas frustrações. Aí entra a falta de inteligência emocional, saber lidar com as adversidades da vida. A gente precisa se adaptar aos ambientes aversivos. Muitas pessoas não tiveram esse manejo de saber lidar com essas situações frustrantes, muito aversivas por conta da pandemia, aí que entra o negacionismo, que é achar que a pandemia já acabou, que não precisa mais desse cuidado, e essas pessoas acabam se tornando vetores para a sociedade”, aponta Prates.

Paloma Prates afirma que o pensamento negacionista já existia antes da pandemia com outras vacinas e doenças. A psicóloga entende que esse indivíduo foi moldado por correntes ideológicas que já possuíam força na sociedade com relação a doenças.

“A pandemia intensificou esses pensamentos de que a ciência é muito desacreditada, de que todos os nossos avanços surgiu em torno de pensamentos irreais, utópicos, que trazem uma ideia que é distópica da nossa realidade. Então há um distanciamento dessas pessoas com relação a nossa real realidade. Por isso que é tão necessário as pessoas terem o comportamento de fiscalizar da onde elas tiram as informações. Como que elas podem ter informações mais fidedignas da ciência, porque está acontecendo um movimento de descredibilização de toda nossa construção científica”, disse.

A Psicóloga alerta que ainda estamos vivendo um contexto de pandemia, com muitas pessoas lidando com prejuízos econômicos, estresse e portanto, ainda é um momento de ser prudente. “A prudência faz parte das nossas relações, com a saúde como um todo. Porque a prudência não é sobre nós apenas, ela diz sobre o coletivo. E quando falamos sobre saúde tanto mental quanto a saúde geral, é sempre sobre o bem-estar coletivo. Então não tem como falar de pandemia sem esse cuidado, sem essa atenção com o outro e com a gente”, ressalta Paloma.

A profissional de saúde comentou sobre a quantidade de informações, o boom de notícias falsas que foram geradas em pouco tempo sobre algo que o mundo desconhecia. “A simplicidade é sempre o melhor caminho da gente ir na fonte certeira, na fonte que vai passar uma informação correta, além de conseguir fazer um filtro, saber quando realmente a gente precisa ter contato com essas notícias. Porque receber muitas notícias, essas bombas de notícias negativas, acaba afetando muito nosso emocional. A gente precisa entender o nosso limite para conseguir lidar com toda essa bomba que é a pandemia. Na simplicidade, na ação em como lidar com a pandemia, com essas informações é de extrema importância ter um cuidado maior consigo mesmo”, ressaltou.

Paloma Prates acredita que a prudência deixa as pessoas mais seguras e além de cuidar de de si, a pessoa prudente cuida do outro e do ambiente como um todo. “Entra o mecanismo de resiliência, de você saber lidar com a realidade que você está vivendo. Vai de contra partida ao negacionismo que é não aceitar esse problema que estamos vivendo. Então essa prudência e essa simplicidade ela traz muito de um comportamento resiliente, de cuidado, de proteção, de querer passar para o outro exatamente isso, esse cuidado. Então a prudência, ela não vem simplesmente sobre si, ela vem sobre os outros também. Então acaba sendo uma ação coletiva que tende sim a fortalecer a nossa comunidade como um todo”, concluiu.

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