Nessa semana, foi divulgado o resultado do projeto Gestão de Campeão. Promovido pela AMBEV, que já aposta no futebol brasileiro através do movimento Futebol Melhor, em parceria com a Ernst & Young, o prêmio contempla os clubes pelo profissionalismo e, nesse sentido, o Goiás está entre os melhores do país. Segundo colocado, atrás do Palmeiras, o clube esmeraldino está apenas colhendo os frutos de um projeto que começou lá atrás. 

Rumo ao profissionalismo

Foi o presidente Sérgio Rassi quem deu início ao chamado processo de profissionalização, apostando, mesmo que sob muitas críticas e resistência, em gestores para administrar cada uma das áreas que compõem um clube de futebol.

Foi ele também quem acreditou na Gestão de Campeão, ainda em novembro de 2016, quando a Ambev lançou o projeto, convidando todos os clubes da primeira e da segunda divisão do futebol brasileiro.

Inicialmente, 27 dos 40 times toparam participar. Ao longo do caminho, foram várias desistências, seja pela dificuldade de cumprir todos os requisitos – 310 no total – ou, principalmente, pela indisposição em apresentar as mecânicas internas de gestão de cada clube. Isso implica transparência, e nem todos estão interessados em se abrir.

Restaram 13 clubes – Atlético-MG, Ceará, Coritiba, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Juventude, Palmeiras, Ponte Preta, Santos e Vitória – , apenas um goiano, que já merecia os parabéns por optar colocar em cheque aquilo do que sempre mais se gabou: estrutura e administração.

Um ato de coragem, que só poderia ser executado por alguém muito seguro de sua idoneidade à frente do mais alto cargo do clube e convicto quanto ao projeto de profissionalização.

Muitas vezes alvo de chacota e menosprezo, esse movimento, mesmo mesclando erros e acertos ao longo do caminho, o que é natural em qualquer processo de mudança, foi o que elevou o Goiás a um outro patamar.

Administração e Finanças

Em 2015, apenas três dos 20 clubes que, então, disputavam a Série A, conseguiram um decréscimo de suas dívidas: Flamengo, Vasco e… Goiás. Começava ai o bem-sucedido processo de austeridade financeira, capitaneado por Sérgio Rassi.

Com um rígido controle de despesas e a busca por novas fontes de receita, o Goiás negativou suas certidões de débito. Com uma forte política de responsabilidade fiscal e fairplay financeiro, garantiu adesão ao Profut, essencial para pleitear novas parcerias e investimentos, como o patrocínio da CAIXA, até hoje o maior da história do clube.

Outra fonte importante de renda foi a negociação de atletas. De 2014 a 2016, período que coincide com a Gestão Sérgio Rassi, o Goiás revelou talentos como Bruno Henrique, Erik, Fred, Thiago Mendes e Richard, rendendo, além de boas jogadas em campo, cerca de 45 milhões de reais aos cofres do clube.

Nesse mesmo período, o patrimônio esmeraldino aumentou em 50%, um crescimento expressivo considerando a estrutura já robusta da qual o Goiás se orgulha – com razão – em ter.

Todos esses quesitos foram analisados tanto pela Ambev quanto pela Ernst & Young, uma das quatro maiores empresas de serviços profissionais do mundo, rendendo, merecidamente, ao Goiás nota máxima. Mas não foi só nas áreas administrativa e financeira que o clube se destacou.

Marketing

“A marca do clube é seu patrimônio mais valioso”. A citação vem do próprio book de exigências da Ambev, entregue a cada um dos participantes do prêmio Gestão de Campeão.

Mencionada 39 vezes de forma direta nesse mesmo book, a palavra “marca” ganhou ainda mais relevância interna no Goiás quando o clube percebeu que, na auditoria da Ambev, ela poderia render cerca de 420 pontos, um peso gigante comparado às outras áreas avaliadas – gestão e planejamento, administração e finanças, futebol profissional, categorias de base e sócio-torcedor.

Em 2016, o Goiás já havia registrado, segundo pesquisa do BDO Brazil, um crescimento de 88% no valor de sua marca. Foi, pela 21ª vez consecutiva, a marca mais lembrada entre os goianos no segmento futebol. E não parou por aí.

Internamente, o clube seguia com projetos complexos e de longo prazo, entre eles, planejamento estratégico com metas e planos de ação; desenvolvimento de um manual de marca, preservando e reforçando a identidade do clube; pesquisas que verificam o pulso e a saúde da marca; ações de relacionamento com torcedor; exaltação da história do clube, através de materiais de comunicação, como revista e VT institucional; investimento em novos negócios, como eSports; negócios digitais, como desenvolvimento de um novo site e novas estratégias para as redes sociais; além de projetos de rejuvenescimento da marca.

Para quem visa uma gestão de resultados, são ações até corriqueiras no mercado. Porém, no futebol, que de maneira geral ainda é sufocado pelo amadorismo, ainda são raridade.

Nesse sentido, ponto pra Monara Marques, que foi quem iniciou dentro do clube um projeto de Gestão de Marca, que contemplava todos os projetos acima.

Sem um marca forte, não há patrocínio, não há torcida, não há vendas.  É o que prega a ex-gestora de marketing do Goiás, atualmente responsável por um dos maiores e mais bem estruturados projetos da Sagres 730, a cobertura da Copa do Mundo da Fifa Rússia 2018TM.

Legado

Apostar em projetos de longo prazo, abrindo mão do reconhecimento imediato, exige coragem e a certeza de que o objetivo não são os aplausos, mas algo muito maior: um legado, que aos poucos vai dando frutos ao Goiás.

Se fosse para eleger um capitão, daríamos a braçadeira a Sérgio Rassi. É justo que ele seja o escolhido para levantar esse troféu, que reconhece as boas e árduas práticas para se implementar o profissionalismo no futebol brasileiro. Mas, como todo título, essa conquista deve ser celebrada por todos os esmeraldinos.

Independentemente de quem tenha dado o ponta pé inicial, tais projetos só teriam validade se abraçados por quem continuou no clube, e foram por todas as áreas.

Ao todo, foram quatro auditorias, duas delas realizadas na Gestão Sérgio Rassi; a terceira, cerca de 10 dias após a sua renúncia; e a última, já na gestão de Marcelo Almeida, que também foi peça importante para a conquista esmeraldina. Veio dele a contratação de uma empresa de consultoria que auxiliou o Goiás durante todo o processo de avaliação da Ambev.

Mais que um prêmio, uma cultura

O desafio é não se contentar com o louvável e merecido segundo lugar no prêmio, que avalia a excelência em gestão, mas fazer disso uma cultura dentro do clube, de forma que o profissionalismo caminhe independentemente das figuras que ali apitam.

Que o futebol esmeraldino não vai bem, todos sabem. A pontuação mediana na avaliação da Ambev neste quesito é apenas um reflexo do que já temos visto em campo.

Mas, como diria Ferran Soriano, a bola não entra por acaso. Essa frase intitula um dos livros que explicam o sucesso do Barcelona, e ele começou justamente assim, estruturando outras áreas até que o futebol, seara cheia de particularidades e resistências, incorporasse a nova filosofia do clube.  

Exaltar esse passo rumo ao profissionalismo é dever de quem preza e sonha com um futebol de qualidade. E nesse grupo, inclui-se a Sagres 730, que já tem feito sua parte, implementando um novo estilo, mais construtivo e profissional, de cobertura esportiva.

O torcedor merece esse novo futebol. Afinal, é para ele que são levantados todos esses troféus.

vinicius tondolo gestor

Vinicius Luiz Tondolo é jornalista profissional, professor universitário e especialista em Docência Universitária e Gestão em Radiodifusão. É gestor online do Sistema Sagres de Comunicação