O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar revela que a segurança alimentar é menor em lares chefiados por mulheres. Segundo o levantamento, as famílias chefiadas por homens apresentam taxa de segurança alimentar de 47,9%.

No entanto, o número cai para 37,05% quando as mulheres são as chefes. Ou seja, mais de seis em cada dez lares chefiados por mulheres classificam-se em algum nível de insegurança alimentar.

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A professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Dirce Marchioni, explica o significado da expressão. “A insegurança alimentar significa falta de acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequadas para a garantia da saúde. Em contraponto, a segurança alimentar representa a realização do direito de todos ao acesso regular, permanente e irrestrito a alimentos de qualidade, seja por meio de aquisições financeiras ou diretamente, alimentos que sejam seguros e em quantidade e qualidade adequadas e suficientes, sem que isso comprometa o acesso a outras necessidades essenciais como educação e saúde”, esclarece em entrevista ao Jornal da USP.

Além disso, ainda segundo o reltório, mesmo em famílias com rendimentos mais altos, sendo a mulher a pessoa de referência, o risco de insegurança alimentar é maior. 

Desigualdade de gênero

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a igualdade de gênero pode promover a diminuição da insegurança alimentar de 45 milhões de pessoas. Conforme o relarório, diminuir essa desigualdade pode aumentar a produção dos sistema agroalimentares.

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Isso acontece, entre diversos motivos, pelo fato de as mulheres ganharem menos que os homens pelo mesmo tipo de trabalho, por exemplo. Quando elas trabalham nos sistema agroalimentares ganham apenas 82 centavos para cada dólar recebido por homens. Dessa forama, o aumento de salário, condições igualitárias e maiores políticas sociais (creches integrais) podem auxiliar no combate à fome.

“Sempre há também uma precarização no modus operandi de trabalho dessa mulher. Muitas vezes relacionado aos papéis sociais. Então, esse é um ponto importante que precisa ser destacado. As melhores formas que a gente entende para promoção de igualdade de gênero parte primeiramente da consciência. A consciência que a sociedade precisa ter sobre o trabalho de homens e mulheres, é assim que a gente vai avançar na discussão de igualdade de gênero, principalmente no campo, onde a gente tem uma agricultura familiar também com forte trabalho”, comenta a professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Heliani Berlato, também ao Jornal da USP.

Também segundo a FAO, 36% das mulheres que trabalham globalmente estão envolvidas com sistemas de produção agroalimentares. Heliani Berlato explica ainda que a relação entre a insegurança alimentar e o trabalho feminino na agricultura fazem referência à promoção de condições dignas ao trabalho das mulheres. Segundo ela, esse fator promoveria a produtividade do sistema e a redução da fome em uma escala mundial. De acordo com a professora, atribuir o devido protagonismo ao trabalho das mulheres pode ser um bom caminho para a solução da problemática. 

“A partir dessa consciência de que todos e todas são iguais na força de trabalho entregue, aí a gente vai começar a dar passos nesse sentido”, complementa.

Subalimentação

Também de acordo com o inquérito, formas menos severas de insegurança alimentar também estão aumentando. Em 2021, a subalimentação chegou a atingir 9,8% da população mundial, valor que representa cerca de 800 milhões de pessoas. O professor completa que existem diferentes formas de subalimentação, as menos severas atingem 30% da população mundial, cerca de 2,3 bilhões de pessoas.

No cenário nacional, de acordo com o documento, seis em cada dez brasileiros não têm acesso pleno à alimentação. Além disso, 15% da população enfrenta situação de fome, ou seja, cerca de 33 milhões de pessoas. A mesma pesquisa revelou que 8,2% das famílias relataram sensação de vergonha, tristeza ou constrangimento para garantir o que comer.

Com informações do Jornal da USP

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