Você já ouviu falar em somatização? Trata-se de uma condição psicossomática que se manifesta como uma desordem física no corpo, cuja origem ou agravamento se dá pelas emoções do paciente. Muitas pessoas enfrentam dificuldades para obter um diagnóstico para dores físicas não detectáveis.

Este é um desafio tanto para médicos quanto para pacientes. Isso porque a somatização pode surgir após um trauma, uma separação, um episódio de estresse ou luto. Segundo especialistas, pessoas que somatizam não relacionam o problema a algum transtorno mental, pois percebem apenas os sintomas físicos.

São dores articulares, musculares, de cabeça e abdominais. O coordenador médico de saúde mental do Hospital Israelita Albert Einstein, Luiz Gustavo Vala Zoldan, diz que a somatização é um termo guarda-chuva.

“Refere-se a um conjunto de sintomas físicos relacionados a algum conflito intrapsíquico, mental ou estresse vivenciado por uma pessoa que tem dificuldade de falar sobre ou lidar com seus sentimentos e emoções”, explica, em entrevista à Agência Einstein.

Ainda conforme Zoldan, a somatização pode causar taquicardias, dormências, formigamentos em partes do corpo, distúrbios na fala, alterações na marcha ou até mesmo um tipo de paralisação de algum membro inferior ou superior.

Sintomas que duram anos

De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), para ser considerado um somatizador, o paciente deve apresentar três sintomas. Além disso, precisam estar ligados a sistemas orgânicos distintos por um período superior a dois anos.

Entre eles estão for de cabeça, nas costas ou articular; gastrointestinais como náusea, vômito ou diarreia; cardiorrespiratórios como falta de ar, palpitação, taquicardia ou aperto no peito; neurológicos como lapsos de memória, visão embaçada ou turva ou dificuldade de raciocínio, dormências, paralisias, distúrbios na fala; e sexuais ou reproduvitos como baixa libido, dores na relação sexual ou alterações no ciclo menstrual.

Diagnóstico

Ainda segundo Zoldan, só quem passa pela somatização é que consegue compreender o peso dessa carga. A autônoma Maria Martha da Fé, de 58 anos, relata que começou a sentir os sintomas aos 38 e teve o diagnóstico correto só foi possível aos 45.

“Recebi diversos diagnósticos como sobrecarga emocional, síndrome de Burnout, fibromialgia, condropatia patelar (quando as lesões da cartilagem ocorrem na patela do joelho), abaulamento da coluna (hérnias de disco em estágio inicial), até que busquei um psiquiatra por indicações desses profissionais. Foram oito anos para que eu fosse diagnosticada corretamente”, enumera.

Maria Martha integrou um grupo de apoio de mulheres assistidas por uma terapeuta. “Nos últimos anos, entendi que a somatização dessas dores e inflamações afeta o meu emocional, as relações sociais e conjugais, além do trabalho. Todo esse processo trouxe um prejuízo emocional muito grande. Tive que repensar toda a minha vida. É importante explicar que os sintomas não desaparecem, apenas tratamos do nosso emocional e conseguimos estabilizar os sintomas”, pontua a paciente.

De acordo com Zoldan, o diagnóstico correto de somatização é obtido por meio de uma história clínica bem-feita, uma anamnese psiquiátrica adequada, além de exames físicos e psíquicos. Ainda assim, serão necessários exames complementares para eliminar a possibilidade de causas orgânicas e fechar o diagnóstico de somatização”, explica o psiquiatra do Einstein.

O tratamento da somatização deve ser sempre com uma equipe multidisciplinar, envolvendo a participação de médicos, psicólogos e psiquiatras. O objetivo é ajudar o paciente a entender a relação entre os seus sintomas físicos e a sua saúde mental, além de desenvolver mecanismos de enfrentamento para lidar com o estresse e as emoções negativas.

*Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 03 – Saúde e bem-estar

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