A Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid está prevista para ser oficialmente criada nesta terça-feira (13/4), com a leitura do requerimento pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cumprindo ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. A sessão está marcada para às 16h de hoje. Pacheco avalia a possibilidade de ampliar o escopo das investigações como propõe o requerimento do parlamentar Eduardo Girão (Podemos-CE).

Em entrevista à Sagres, os senadores Vanderlan Cardoso e Luiz do Carmo afirmaram ser contra a instalação da CPI no momento de pandemia, mas assinaram o requerimento de Eduardo Girão para que a Comissão investigue além da União, governadores e prefeitos.

A CPI paralela, que já foi protocolada, surgiu como uma alternativa dos governistas e foi, inclusive, um pedido do próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) em áudio divulgado no final de semana. A divulgação da conversa abriu um novo impasse entre os poderes e rendeu até um convite de desfiliação de Kajuru do partido.

Vanderlan Cardoso ressaltou que não seria o momento ideal para iniciar uma CPI, já que que o Brasil registra 3 mil mortes por dia por causa da Covid. “É um momento inoportuno para abrir qualquer uma das duas CPIs. As discussões precisam ser voltadas para a vacina e a minha preocupação é que isso desvie o foco ao invés de concentrar esforços na aquisição de vacinas”, explicou.

Ouça a entrevista completa de Vanderlan:

Mesmo assim, Vanderlan foi um dos 37 parlamentares que em menos de 12 horas assinaram um pedido para abertura da segunda CPI. ”Eu vi muito interesse político na CPI ordenada pelo STF, já que foi pedido somente pra investigar o governo Federal. A do Girão foi mais ampla. O ano passado teve muito recurso que veio para estados e municípios e vimos ações da PF relacionadas ao desvio de verbas”, argumentou ao negar que a assinatura atendeu vontade de Jair Bolsonaro.

Ele concorda em se apurar as responsabilidades, mas que se aguarde o avanço da vacinação, uma vez que seria uma CPI virtual. “Uma investigação tão profunda será feita de forma remota?”, questionou Vanderlan.

O senador Luiz do Carmo defendeu que o Senado espere a estabilização da pandemia e a diminuição de mortes para só depois iniciar as investigações, mas achou justo a inclusão de todas as esferas na CPI. “O senador Girão estava atrás de mim há mais de 40 dias pedindo para que eu assinasse o requerimento. Eu acho justo investigar União, estados e prefeituras. Só não é o momento certo para isso”, disse.

Sobre o motivo de mesmo ser contra a abertura do processo neste momento e mesmo assim ter assinado o requerimento, Luiz do Carmo negou que esteja tentando beneficiar o presidente. “Eu não sou amigo dele. Não sou parente dele. Eu não tenho que proteger ninguém. Tem que investigar todo mundo, não só o presidente”, afirmou.

O parlamentar concordou que Bolsonaro errou na condução das ações de enfrentamento à pandemia, mas justificou que outros gestores erraram tanto quanto o chefe do executivo. “No começo era uma gripezinha, depois que a doença se tornou terrível. Ele cometeu erro, mas não foi só ele. Ele podia ter feito mais coisas, poderia ter comprado vacina, mas será que existia essa vacina lá atrás?. Todo mundo errou. Não foi só Jair Bolsonaro. Se ele tivesse agido um pouquinho diferente, as coisas estariam melhores”.

Ouça a entrevista completa de Luiz do Carmo:

GOIÁS

Vanderlan e Luiz do Carmo não vêem problema em uma possível investigação sobre as ações do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. “Não vi nenhum escândalo de superfaturamento, mas se tiver tem que ser investigado. O governador será o primeiro a concordar com isso. Goiás multiplicou o número de leitos, então o governo do estado tem feito um bom trabalho em relação ao combate à Covid”, destacou Vanderlan.

Ao contrário do que disse anteriormente de que todos erraram na condução da pandemia, Luiz do Carmo afirmou que Caiado não errou. “O governador de Goiás não errou nada. Ele apoiou o fechamento quando foi necessário”.

GRAVAÇÕES

Na conversa gravada com o senador Jorge Kajuru na noite de sábado (10), o presidente Jair Bolsonaro chamou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) de “bosta” e afirmou que teria que “sair na porrada” com o autor do requerimento de criação da CPI da Covid-19.

Os dois senadores discordaram da postura do presidente. “Tem que haver mais respeito”, afirmou Vanderlan. “A gente não pode ameaçar ninguém. Isso não pode acontecer e está erradio fazer isso. É crime ameaçar as pessoas”, completou Luiz.

Vanderlan reforçou que Bolsonaro já previa a divulgação da conversa uma vez que o presidente já conhece o parlamentar. “Ele sabia que ia ser divulgado. Se ele queria mandar recado, o recado chegou e chegou pela pessoa certa, que grava todos e não tem escrúpulos nenhum, tanto é que tem a desconfiança de todos os seus pares”, rechaçou o senador. Para Luiz do Carmo, a gravação foi “malandragem”. “Eu sou contra isso. Gravar sem a pessoa saber”.