Um estudo mostra que o Brasil está entre os cinco países com menor porcentual de estudantes com matrícula na educação profissional. O Education at a Glance (em português ‘Visão geral da educação’), analisou 45 nações e teve divulgação no início de setembro. A pesquisa é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A pesquisa analisa parâmetros como financiamento, acesso à educação, formação de professores, entre outros pontos. O Brasil não integra a OCDE, mas é um país parceiro da organização.

De acordo com o levantamento anual, apenas 11% dos estudantes no Brasil estão nessa modalidade. Para se ter uma ideia, a média dos países do grupo analisado é de 44%.

Além disso, o Brasil registra alto índice de jovens entre 18 e 24 anos que nem estudam e nem trabalham. São os chamados “nem-nem”. Cerca de 24,4% estão nessa situação.

Nesse sentido, no levantamento, a OCDE afirma que “Transformações profundas e contínuas estão remodelando a forma como vivemos, aprendemos e trabalhamos. Isso reforça a importância de competências como resolução de problemas, trabalho em equipe e comunicação, que são fundamentais para a empregabilidade e complementam tanto o ambiente acadêmico quanto habilidades práticas. O ensino e a formação profissionais se tornarão cada vez mais importantes para dotar os alunos de uma combinação dessas competências, facilitando a transição da escola para o trabalho”.

Ainda segundo o estudo, o Brasil fica à frente apenas de três países. São eles: Índia (9%), Canadá (10%) e África do Sul (10%), considerando a quantidade de alunos no Ensino Médio. Além disso, as maiores taxas de matrículas na educação profissional estão na Eslovênia (70%) e na Croácia (70%).

Produtividade jovem

Em entrevista à revista Exame, a presidente do Instituto Singulares, Claudia Costin, afirma que o Brasil ainda tem dificuldades para inserir produtividade jovem no mercado. O instituto atua na formação de professores, gestores da educação e de especialistas de ensino.

“Essa ideia muito brasileira de não levar tão a sério o ensino técnico profissional ou fazer com que os institutos técnicos ambicionem virar universidades com todo seu academicismo é parte dos problemas do País de gerar inserção produtiva dos jovens”, diz a presidente do Instituto Singulares, Claudia Costin. “Não vamos ter um desenvolvimento inclusivo se não olharmos para a questão do primeiro emprego do jovem, da inclusão produtiva, do jovem que vai para o mundo do trabalho, seja logo depois do ensino médio, enquanto cursa ou depois do ensino superior”, completa.

Desigualdade

Ainda conforme o levantamento, a disparidade de gênero na população nem-nem chama a atenção. As mulheres são as mais atingidas pelo desemprego e a exclusão escolar.

“As taxas de ‘nem-nem’ entre a população de 18 a 24 anos no Brasil são altas especialmente entre mulheres. Nesse país, 30% das mulheres entre 18 e 24 anos nem estudam e nem trabalham, comparado a 18,8% entre os homens da mesma idade”, mostra o estudo.

Desse modo, o índice entre as brasileiras corresponde a mais do que o dobro da taxa de 14% registrada na média da população feminina dos países da OCDE. No caso dos homens, porém, a média da OCDE é 15%.

Segundo a coordenadora de pesquisa e avaliação do Instituto Unibanco, Raquel Souza, o índice resulta da sobrecarga nas mulheres. Isto é, em relação a afazeres domésticos e cuidados, especialmente as que têm filhos até 7 anos e são mais pobres.

“Para assegurar o direito dessa população de continuar os estudos e entrar no mercado de trabalho, precisamos de redes de apoio para as mulheres e a creche é uma delas”, completa.

Em agosto, o Congresso aprovou uma lei que estabelece novas regras para o ensino técnico brasileiro. A legislação, citada no relatório da OCDE, é vista como uma ferramenta para incentivar a entrada de jovens nessa modalidade. Uma das medidas da nova lei é permitir aos estudantes aproveitarem créditos de disciplinas cursadas durante o ensino médio técnico na educação superior.

*Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 08 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico

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