Dados do Todos Pela Educação mostram que cerca de 425 mil crianças de 4 a 5 anos não frequentam a pré-escola no Brasil. O problema ocorre apesar da meta de universalização da educação infantil na pré-escola até 2016, presente no Plano Nacional de Educação (PNE) previsto para o período de 2014 a 2024.

O PNE também prevê a ampliação do ensino infantil para atender também 50% das crianças de até 3 anos. No entanto, do total de 425 mil da faixa etária de 4 a 5 anos que não frequentam a pré-escola, 180 mil afirmam que há dificuldade de acesso às unidades de ensino.

Segundo o levantamento da ONG, muitas crianças da faixa etária residem longe das escolas ou as unidades próximas não aceitam a idade. 

Educação infantil

A Educação Infantil engloba as creches e pré-escolas, sendo que as unidades recebem crianças de até 3 anos e entre 4 e 5 anos, respectivamente. Anete Abramowicz, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE/USP), afirma assim que os dados da ONG revelam a estrutura de desigualdade presente na sociedade brasileira.

“É importante realçar que esse e qualquer dado relativo à desigualdade de acesso à educação infantil é maior entre as crianças pretas, pobres, filhos de mães mais jovens com baixa escolaridade e famílias monoparentais”, diz.

A especialista aponta o déficit educacional na economia do país. Pois segundo a professora, a educação infantil é muito importante para toda a sociedade. “Do ponto de vista econômico, por exemplo, inúmeras pesquisas nacionais e internacionais revelam um aumento significativo do PIB de um país quando as crianças têm acesso a uma educação infantil de qualidade”, argumenta.

Abandono

Anete Abramowicz critica os vouchers que as famílias recebem para escolherem a escola ou a creche de seus filhos. Para a professora, o método seria “uma maneira de o poder público abandonar as crianças de 0 a 3 anos”, faixa etária que tem política educacional prevista no PNE.

Além disso, Abramowicz argumenta que há um apostilamento dos materiais didáticos para a primeira infância. “Esse é um processo de despolitização dos sujeitos e, na verdade, produz a expansão de uma precarização. Essa liberdade individual desorganiza o sistema de educação e faz isso naqueles lugares em que prevalece o bem comum e a coletividade”, conta.

Ademais, a professora da USP defende a necessidade de instituições de ensino público de qualidade que promovam os processos de socialização das crianças. Por fim, Abramowicz afirma que a Educação Infantil é negligenciada no país.

“As próprias crianças são negligenciadas como categoria social. Elas são invisibilizadas na história, na sociologia, na sociedade geral e nas políticas públicas”, finaliza.

*Com informações do Jornal da USP

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