Cientistas da Unicamp, Universidade de São Paulo (USP) e Universidad Nacional Autónoma de México (Unam) elencaram oito fatores determinantes para o crescimento da obesidade na América Latina. São eles: ambiente físico, exposição alimentar, interesses econômicos e políticos, iniquidade social, limitação do acesso ao conhecimento científico, cultura, comportamento contextual e genética.

Os cientistas brasileiros e mexicanos trabalharam juntos numa pesquisa sobre abordagens multidisciplinares e globais sobre a obesidade. Eles chegaram a conclusão que o combate à obesidade vai muito além da luta individual para mudar o estilo de vida, mas engloba todos os oito elementos que provocaram o aumento da doença crônica nos países latino-americanos. 

O artigo sobre a pesquisa está publicado na revista Nature Metabolism. Segundo os pesquisadores, os oito elementos são fundamentais para a construção de políticas e estratégias contra a obesidade.

O caso da América Latina

O artigo ratifica que fatores socioeconômicos, culturais e epigenéticos são situações para observar no tratamento da obesidade. Portanto, afirmam os pesquisadores, a solução do problema de saúde precisa de soluções coletivas e não somente individuais. Em 2020, cerca de 14% da população global estava obesa, e a estimativa é que 24% estará com a doença crônica em 2035.

A América Latina chama atenção com o crescimento de casos da doença crônica. O estudo destaca pesquisas nacionais sobre a condição de sobrepeso ou obesidade da população adulta: México (75%), Chile (74%), Argentina (68%), Colômbia (57%), Brasil (55%). Além disso, observaram também dados entre crianças e adolescentes: Chile (53%), Argentina (41%), México (39%), Brasil (30%) e Colômbia (22%).

Marcelo Mori, da Unicamp, afirma que as estratégias nutricionais e farmacológicas são necessárias, mas não suficientes para a América Latina. “Os países de renda média e baixa, como é o caso da maioria dos países da América Latina, em menos de 50 anos saíram de uma realidade com altas taxas de desnutrição para um crescimento acelerado da obesidade”, diz.

“É possível que essa rápida transição da carência alimentar e desnutrição para a abundância de alimentos ultraprocessados e hipercalóricos seja um aspecto relevante na indução de uma herança epigenética, contribuindo para as altas taxas recentes de obesidade, sobretudo em crianças. É algo que precisa ser mais investigado na obesidade humana”, explica.

Solução terapêutica

Segundo o estudo, pesquisas em animais demonstram que carência e excesso de ingestão alimentar podem causar alterações que resultam em doenças metabólicas. Desta forma, então, os cientistas apontam a possibilidade de prevenção terapêutica da obesidade, com a alimentação tradicional, regulação de alimentos ultraprocessados, prática de atividades físicas e promoção de hábitos saudáveis, sobretudo, nas escolas. 

Os oito fatores determinantes surgiram do estilo de vida dos países latino-americanos, pois os pesquisadores consideraram a falta de conhecimento científico como um dos determinantes da obesidade. “Além de um maior acesso ao conhecimento científico produzido nos países do bloco. “A maior parte desses estudos é feita em países do Norte Global”, diz.

Por isso, os fatores indicados cuidam da doença crônica de forma mais ampla. “São mudanças no estilo de vida? São, mas elas precisam ser especialmente baseadas em alterações na comunidade e no ambiente, não atribuindo exclusivamente ao indivíduo tal obrigação”, diz o pesquisador.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 03 – Saúde e bem-estar.

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