O jogo de xadrez proporciona diversos benefícios para o desenvolvimento das crianças e muitas escolas já oferecem a prática do esporte. No Colégio Externato São José não é diferente, mas no colégio confessional dominicano que fica em Goiânia, a novidade é um “tabuleiro gigante”, em tamanho que as crianças conseguem pisar e mover as peças literalmente de dentro do jogo.

Gustavo Cruvinel é o professor de xadrez do Colégio Externato São José e explica que o xadrez às vezes é um esporte um tanto quanto chato para as crianças, porque exige que elas fiquem muito tempo paradas, quietas e pensando. Assim, com o tabuleiro gigante, a criança pode se locomover entre as linhas e colunas dos 64 quadrados do tabuleiro e interagir com as peças. 

“Ao trazer o xadrez gigante para a criança interagir com as peças, se divertir, ela acha mais interessante porque ela está mexendo nas peças. Então para ela fica muito mais interessante e interativo. E acaba com essa monotonicidade do xadrez de ficar sentado, ela pode ficar de pé, então o xadrez fica mais dinâmico para elas”, conta.

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Atividade extracurricular 

As aulas de xadrez no Externato São José acontecem na modalidade extracurricular, ou seja, são ofertadas fora das aulas da grade normal dos estudantes. O professor Gustavo diz que isso é bom porque aparecem nas aulas os alunos que gostam e querem aprender o jogo. 

“É uma aula específica só de xadrez para quem quer participar, então todo mundo que está na aula está interessado no xadrez. Então é uma aula mais focada em evoluir no xadrez”, destaca. A aula é para alunos das turmas do Infantil 5 ao 8° ano, sendo assim atende crianças com idade entre cinco e 11 anos.

Mesmo sendo uma atividade extracurricular no colégio que trabalha, o professor inclui o xadrez como uma metodologia ativa. Cruvinel cita, inclusive, que em colégios particulares o xadrez já está presente na grade curricular como uma aula normal, semelhante ao português, matemática e educação física. Ademais, Gustavo pontua que os benefícios adquiridos com a prática do xadrez aparece em outros aspectos da vida da pessoa e também nas demais disciplinas.

“Os benefícios do xadrez são muito grandes, principalmente hoje que temos muitas crianças tendo dificuldades na área de exatas e o xadrez muitas vezes diminui essa dificuldade. Então acaba beneficiando demais as crianças, por mais que elas não gostem, porque às vezes o xadrez pode ser um esporte chato, mas elas acabam tendo muitos benefícios sem perceber”, destaca.

Crianças interagem com xadrez gigante na Praça Independência, em Mandaguari no Paraná (Foto: portal/mandaguarionline)

Idade para começar 

Apesar de não ter idade indicada para aprender xadrez, estudos indicam que a partir dos 4 anos as crianças já possuem capacidade de entender regras e normas. “A partir dos 4 ou 5 anos é a idade mais indicada, menos que isso elas não têm muita noção de regra, de espaço, então não conseguem compreender muito bem o xadrez. Mas a partir dos 4 já é mais tranquilo de ensinar”, ressalta Gustavo. 

O professor afirma que os maiores jogadores da história do xadrez começaram a jogar com 4 anos, em média. Gustavo também destaca a importância da observação do professor em relação aos alunos, pois pode não ser viável dar a mesma aula para todos, mesmo que tenham a mesma faixa etária.

“Eu tenho aulas diferentes porque percebo que as crianças do infantil 5 são muito pequenas. Eu tenho uma aluna nova que entrou esse semestre e, assim, ela vem se desenvolvendo muito rápido no xadrez, no raciocínio, o que não é fácil”, celebra.

“Mas o xadrez é um esporte muito lento de aprendizado, com muita regra, muito conceito que às vezes tem que ir muito devagar para eles irem pegando. E esses alunos estão tendo esse aprendizado muito rápido. Mas às vezes eu tenho que parar um pouco porque eu estou avançando rápido demais e eles não estão acompanhando”, pondera.

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Esporte da mente

Campeonato de Xadrez em Brasília (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O xadrez é um jogo de tabuleiro reconhecido como esporte desde 2016, pela Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados. O projeto de lei reconhece os jogos da mente como esportes e os capacita para registro no Calendário Esportivo Nacional do Ministério dos Esportes. Além do xadrez, o projeto reconhece também o pôquer, a dama, o Bridge (xadrez de cartas) e o Go (jogo de tabuleiro chinês).

“O xadrez, como todo esporte, desenvolve a sociabilidade e as tomadas de decisão. Então todos os benefícios que qualquer esporte que seja tem, o xadrez também tem. Só que além desses benefícios o xadrez trabalha muito o intelecto da pessoa, e é tido como um esporte da mente. Então ele trabalha muito a mente, o raciocínio lógico e matemático”, detalha Gustavo.

Entre os benefícios do jogo de xadrez para as crianças, destacam-se o desenvolvimento da memória, melhora da concentração, planejamento e a capacidade de tomar decisões. No xadrez, a pessoa é obrigada a pensar muito antes de fazer um movimento e precisa calcular muito bem o movimento do jogo. 

“Então, no dia a dia, essa pessoa que joga xadrez provavelmente antes de fazer alguma coisa vai ter que parar e pensar muitas vezes antes de fazer, então isso é muito comum. Sem contar no trabalho da mente, pois tem estudo que diz que quando você exercita a sua mente diminui-se a possibilidade de ter demência e alguma doença degenerativa no cérebro em mais de 15%. Então, tem esse benefício a longo prazo também”, conta.

Xadrez nas escolas

Os benefícios do xadrez nas escolas já são evidentes. Sendo assim, o tabuleiro gigante chegou como uma alternativa de fazer as crianças se interessarem cada vez mais pelo esporte. Para Gustavo, “todo mundo deveria jogar xadrez” por causa dos benefícios do desenvolvimento mental.

“Não precisa ser muito bom e nem nada, mas tinha que jogar xadrez pelo menos o mínimo porque é um esporte que não tem um ponto negativo. Por exemplo, num futebol ou no basquete a gente pode se lesionar, mas no xadrez essa possibilidade não existe. Então essa parte negativa do esporte não existe no xadrez e o ponto principal é o desenvolvimento do raciocínio e do cálculo mental”, argumenta.

Gustavo Cruvinel começou no xadrez aos quatro anos de idade, com o pai, que é professor de matemática. O professor conta que à época, por volta de 2001, os campeonatos de xadrez estavam começando a surgir no Brasil e também nas chegava às escolas.

No entanto, poucos colégios ofertavam as aulas, mas em 2006 o esporte chegou ao colégio em que ele estudava. Então, como já praticava e gostava do jogo, evoluiu muito rápido nas aulas. “Como eu aprendi muito cedo, eu evolui muito rápido e comecei a ir para os campeonatos e ficar entre os três primeiros. E desde então eu nunca mais parei”, conta.

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Profissão em alta

Tabuleiro de xadrez convencional (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O professor revela que ficou um tempo afastado dos campeonatos, mas nunca deixou de jogar com os amigos. Gustavo é enxadrista há muitos anos e desde o ano passado, também é professor de xadrez. “No ano passado surgiu a oportunidade de virar professor de xadrez. Eu comecei a dar aulas, gostei e agora é o que eu faço. Agora eu virei professor em definitivo”, afirma. 

A profissão está em alta e Gustavo percebe o movimento pelos campeonatos de escolas. Ele conta que em sua época de estudante participavam cerca de 100 pessoas em todas as categorias. Mas atualmente o esporte reúne 500 crianças entre os competidores.

“Hoje vem crescendo muito, pois muitas escolas já tem o xadrez e a cada dia que passa outras escolas querem implementar, seja extracurricular ou no núcleo de aulas. Então, assim, a perspectiva para os professores de xadrez é só crescente daqui para a frente”, aponta.

Gustavo começou na profissão em um colégio e até junho deste ano atuou em sete unidades como professor de xadrez. “Agora eu reduzi um pouco e estou dando aulas em cinco. Mas tem professor amigo meu que dá aula em 10 colégios, então tem muita vaga, para quem quer ser professor de xadrez e gosta, tem muito mercado para atuar ainda”, conta.

Campeonato oficial de xadrez

Assim como ocorre nos outros esportes praticados nas aulas de educação física, o xadrez desde cedo na escola pode ser uma oportunidade para surgir um enxadrista. 

Além dos campeonatos escolares, existem os torneios profissionais registrados na Confederação Brasileira de Xadrez (CBX). Existe ainda a Olimpíada de Xadrez que a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) realiza a cada quatro anos.

Assim, o movimento das escolas que beneficia o desenvolvimento das crianças é também uma oportunidade de inserir um esporte considerado elitista na vida das crianças.

“O xadrez é um esporte extremamente elitista, hoje já vem tirando essa imagem, mas ele sempre foi um esporte muito elitista. E hoje o xadrez tem uma olimpíada própria”, ressalta Gustavo.

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