O PodCast Debates Esportivos mostrou na sua última edição, qual a realidade de uma das modalidades paralímpicas mais vitoriosas da história do paradesporto brasileiro: o futebol de cegos. A seleção brasileira é praticamente imbatível. São quatro títulos panamericanos, cinco mundiais e cinco paralímpicos. O esporte cresce em todas as regiões do país e já tem seus ídolos, como Raimundo Nonato.

Aos 35 anos, Raimundo Nonato, ou simplesmente Nonato, é o cara! Depois de grandes atuações no jogos paralímpicos de Tóquio (2021) que culminaram com o gol do título na decisão da medalha de ouro contra a Argentina, se consolidou como o melhor jogador brasileiro de futebol de cegos e, pra muitos, o melhor do mundo.

Como começou?

Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro

A história de Nonato, assim como de milhares de pessoas com deficiência, é de muita superação. Pernambucano de Orocó, foi no sertão que começou a jogar futebol com os “enxergantes”.

“Nunca enxerguei. Nasci cego por conta de retinose pigmentar. Sempre fui apaixonado por futebol, então eu jogava com os meus colegas que enxergam, aqui na roça, em Orocó, e daí desenvolvi uma habilidade, antes mesmo de conhecer a bola com guiso. Eu conseguia fazer algumas coisas com a bola convencional me guiando com o barulho que ela fazia na terra”, recorda Nonato, que é corintiano e atualmente joga pela AGAFUC – Associação Gaúcha de Futsal para Cegos.

E os olhos de Nonato “brilharam” quando foi para Petrolina e conheceu a bola com guiso. Afinal, foi aquele contato que mudaria sua vida. O primeiro passo para torna-lo uma das referências no esporte.

“Em 2010, conversando com um rapaz que fazia parte da ADVP – Associação dos Deficientes visuais de Petrolina -, ele perguntou se eu tinha interesse de jogar futebol. Então aceitei o convite, fui até Petrolina, conheci a bola, foi quando brilhou meus olhos. Daí comecei a treinar e participar de competições e Graças a Deus estamos aí até hoje”, detalha Nonato, que acha que pode jogar em alto rendimento até os 40 anos, afinal mantém uma desafiadora, porém rigorosa, rotina de treinos.

“Durante o ano todo, temos uma rotina de treinos por algumas semanas com a seleção brasileira. Quando não estamos juntos, seguimos uma cartilha feita pelos nosso preparadores físicos. Agora, quando estou aqui em Orocó, treino duas vezes por dia, muitas vezes sozinho, mas sempre aparece uns meninos pra me ajudar nos trabalhos de passe, chute ao gol. Eles ficam lá pra tomar boladas”, brinca o jogador.

Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro

Regras

Para conhecer um pouco mais sobre o esporte, Nonato nos passou detalhes sobre as regras. Além da bola com guiso, os jogadores de futebol de cegos usam venda para os olhos e tampões oftalmológicos. Também tem outras regras especiais, como o “voy”.

“Nosso jogo é em uma quadra de futsal, embora as competições internacionais aconteçam em quadras sintéticas. As únicas exceções são a regra do “voy”, que é quando um adversário tá com a bola, o outro dele falar “voy” para desarma-lo e, assim, evitar choques mais violentos. A outra regra especial é que a bola não sai na lateral. A bola bate em uma parede e só sai pela linha de fundo. Tem também os goleiros, que por causa da visão normal, têm uma área limitada. Caso toque na bola fora dessa área é marcado o pênalti”.

Sucesso da seleção

E a seleção brasileira que não perde pra ninguém? Logo ela colocará sua hegemonia em jogo novamente, com o Grand Prix, em São Paulo, no mês que vem; Campeonato Mundial, na Inglaterra, em Agosto, Parapan, em Santiago, em novembro.

“Temos de buscar a vaga porque não estamos garantidos. O futebol de cegos tem evoluído bastante no mundo. Temos como bons adversários, especialmente o Irã, Turquia, Marrocos, China, Inglaterra e Argentina”, ressaltou Nonato, que aposta no trabalho para mais um sucesso com a seleção brasileira.

“Atribuo isso a vários fatores. Graças a Deus temos muitos atletas talentosos, comissão técnica que trabalha bastante e, principalmente, uma boa estrutura para treinamentos. Acho que isso nos leva a grandes resultados”.

Começo

Além da história de Nonato, o PodCast Debates Esportivos também discutiu questões inclusivas para pessoas cegas que podem ter o esporte como alternativa. E Nonato destacou a importância das entidades e de políticas públicas por mais oportunidades.

“O caminho para que a pessoa possa ingressar no esporte é através das entidades para cegos. Muitas vezes a pessoa cega fica retraída em sua casa e não tem acesso a essas entidades, que junto com o poder público, podem proporcionar mais oportunidades para essas pessoas”.

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