A designer Ráisa Guerra foi a vencedora da categoria profissional do Prêmio Salão Design 2023, considerada uma das mais relevantes premiações nacionais do design mobiliário. A criação responsável pela vitória nasceu a partir de uma peça de berço, pronta para ir para o lixo, mas que ganhou nova função diante de um olhar criativo.

Nascida em Jaraguá (GO) e formada em Design de Interiores pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Ráisa comemora o reconhecimento profissional e mantém uma comunidade ativa de seguidores em seu perfil Mania de Decoração.

Keep it Simple

Estante Kis (Foto: Arquivo Pessoal)

No inglês, a expressão transmite uma indicação: “mantenha simples”. Essa ideia aparece na estante KIS, móvel criado por Ráisa e vencedor da premiação na modalidade profissional, definida por voto popular.

”Me inscrevi para mostrar principalmente que o design, ao mesmo tempo que pode ser muito bonito e funcional, ele também pode ser acessível e surgir de coisas simples”, explica a designer.

A estante une estética, funcionalidade e baixo impacto ambiental, um tripé que Ráisa considera essencial. O princípio “Keep it simple, stupid!” tem origem norte-americana e data da década de 60.

”Mostrava que para ser um bom design ele não precisa ser complexo, mas pode ser simples. Quanto mais simples você puder manter a solução, melhor”, afirma.

Para Ráisa, o contato com o conceito apareceu pela primeira vez durante uma aula em Portugal, no período em que estudou design de mobiliário no país europeu, após conseguir uma bolsa de estudos pela UFG.

”Desde então, carrego esse princípio tanto nos projetos que faço, quanto na minha vida”, garante.

Mania de Decoração

Uma comunidade de 2 milhões de pessoas. É assim que Ráisa escolhe enxergar o seu perfil Mania de Decoração que, desde 2019, se tornou o seu principal trabalho.

“Eu acredito muito no trabalho de arquitetos e designers, porém, principalmente em um período de pós-pandemia em que todo mundo percebeu a importância de se sentir bem em sua casa, é importante trazermos esse design mais acessível. De que as pessoas podem colocar a mão na massa e transformar a casa delas”, defende.

Assim, no perfil aparecem dicas para aproveitar melhor os espaços, conselhos para decoração e indicações que unem escolhas acessíveis e assertivas. Recentemente, Ráisa apostou ainda em um novo quadro, em que recebe imagens de um cômodo de seus seguidores e depois, publica uma série de possibilidades para o cenário.

”Existem soluções simples, aplicáveis no dia a dia, que vão melhorar muito a sua experiência. Nossa casa é o nosso refúgio no mundo e onde precisamos nos sentir bem”, sintetiza.

Ao mesmo tempo em que aposta em soluções simplificadas, a designer também enxerga nos “acabamentos imperfeitos” um modo de transformar casas em lares, e seguidores em mentes mais criativas.

“No Mania eu quero mostrar o valor de fazer com as mãos e que o imperfeito também é bonito. O ‘Faça você Mesmo’ é muito forte lá fora e aqui no Brasil, é algo que ainda estamos construindo”, destaca.

Comunidade

“O Mania é onde compartilho minhas ideias esperando que as pessoas comentem suas experiências a partir daquilo que postei. O objetivo não é entregar uma fórmula pronta, mas incentivar a criatividade nas pessoas”, explica.

Ao olhar para o ambiente das redes sociais, Ráisa enxerga boas oportunidades, mas também conclui que o digital ainda carece de boas comunidades.

“É incrível que tenhamos tanta informação. Mas, às vezes podemos nos perder isso de sentir uma conexão e de pertencer a alguma coisa”, reflete.

Ao falar de quem a acompanha, Raísa faz questão de frisar que o prêmio recente é resultado, em grande parte, do apoio vindo de diferentes lugares do país.

”Foi por conta da comunidade que ele veio. Todo mundo abraçou a causa, e acompanharam o início de todo projeto. É algo que significa muito pra mim”, diz.

A escolha pelo Design

Antes do Design, Ráisa trabalhou como jornalista por dez anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Antes de chegar a casa dos milhões de seguidores, a paixão pelo design já aparecia em seus conteúdos, no entanto, em uma “casa digital” mais antiga, os chamados blogs.

Em 2012, morando em Curitiba, após se formar em Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Ráisa compartilhava dicas de compras e soluções que implementava em seu próprio apartamento.

Ali, o design ainda era hobbie, já que apenas 7 anos depois, Ráisa decidiu deixar o exercício do jornalismo e apostar no design como centro de sua vida profissional. Durante a faculdade de Design de Interiores, ela conciliava o trabalho como jornalista e os estudos na capital goiana.

“Trabalho é trabalho, mas no design encontrei algo diferente. Essa paixão eu só encontrei mesmo como designer”, conclui.

Além disso, ela explica que a transição de carreira tornou-se possível porque encontrou apoio vindo de pessoas essenciais. Na época, o marido disse que iria “segurar as pontas” e assim, Raísa ganhou confiança para apostar na criação de conteúdo.

Sustentabilidade

Se o design pode ser simples e funcional, ele também pode ser sustentável. Esse é um dos princípios defendidos pela designer que em agosto, viaja com destino a Bento Gonçalves (RS), para cerimônia de entrega dos prêmios.

”Pretendo mostrar para as empresas que é preciso abrir esse espaço para um design mais interativo, acessível e capaz de produzir algo que alcance mais pessoas. Não deixar o design só em uma parte da sociedade”, ressalta.

Além disso, Ráisa relembra que no passado, existia o imaginário de que tudo o que era descartado, seria aproveitado facilmente pela própria natureza. Um pensamento que ameaça o meio-ambiente e que deve ser combatido por diferentes setores produtivos.

“O design pode entrar nisso. Ajudando a reaproveitar o que normalmente seria descartado e pensar no futuro das próximas gerações. Gosto de juntar tudo isso e esse é um caminho que sempre vou seguir”, assegura.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 12 – Consumo e Produção responsáveis

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