A Divisão Sexual do Trabalho é um conceito que faz referência aos papeis que historicamente são vistos como “para mulheres” ou “para homens”. Nos ambientes domésticos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres dedicavam cerca de 21,3 horas nas atividades em 2022.

Por outro lado, o número é reduzido para 11,7 horas ao se observar o envolvimento de homens com o mesmo tipo de tarefas. Mulheres também são maioria nas áreas “de cuidado”, como Enfermagem (85%) e professoras na Educação Infantil (90%).

Debate

“A equidade de gênero vai além da igualdade salarial”, afirma a advogada trabalhista Esther Pitaluga, durante bate-papo para o Conexão Sagres, em programa sobre igualdade salarial entre homens e mulheres.

“Onde está a sua criança enquanto você está trabalhando?”, essa é uma pergunta frequentemente feita às mulheres, relembrou a pesquisadora e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Andrea Vettorassi.

Segundo ela, é esperado que mulheres criem uma rede de suporte que atue como um facilitador. Assim, homens passam a dedicar mais horas ao seu trabalho.

“Sempre tem uma mulher resguardando toda uma estrutura doméstica para que o homem não precise se preocupar”, explica Vettorassi.

“Muitas vezes homens e mulheres começam ganhando o mesmo salário em uma empresa. A discrimação não começa logo de cara. Porém, esse homem vai galgando oportunidades e tendo mais acesso a condições melhores”, complementa.

Questionamentos

O programa também citou os diversos questionamentos dirigidos às mulheres ao longo das diferentes etapas da vida. Nesse sentido, é possível notar a construção de um contexto que dificulta a ascensão do público feminino em diferentes cenários no mercado de trabalho.

De acordo com pesquisa publicada pela empresa Vagas.com, mulheres com pós-graduação ganham 35,04% a menos do que homens com a mesma formação.

“Quando falamos de cargos mais elevados e ocupados por pessoas que passaram pela universidade, o marcador que irá sobrar é o de gênero. Assim, fica mais evidente e alargada essa desigualdade”, aponta a professora Andrea Vettorassi.

Em estudo publicado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), “é possível notar no continente “lacunas de gênero em termos de retorno esperado aos aspectos educacionais e culturais que favorecem o papel reprodutivo e do trabalho de cuidado das mulheres”.

Além disso, a publicação destaca que apesar de ser notória o aumento da participação feminina em postos no mercado de trabalho nas últimas décadas, é preciso o fortalecimento de políticas públicas em prol da equidade.

“No sentido econômico, o aumento da participação da força de trabalho feminina está associado a mais crescimento, redução da desigualdade de renda e aumento da resiliência econômica”, aponta o documento.

Carga mental

“Talvez esse seja o momento de mulheres e homens olharem com mais atenção, cuidado e generosidade para os espaços privados e a importância desse lugar de cuidado e que ele não seja executado exclusivamente por mulheres”, sugere a professora Andrea Vettorassi.

Nesse sentido, a professora explica que o papel da mulher em ambas as dimensões, pública e privada, merecem a validação em termos sociais.

“Um lar bem cuidado impacta diretamente em nossa saúde mental, em nosso lazer e quem somos nas nossas relações de trabalho”, ressalta.

Já a secretária adjunta da Comissão de Direito do Trabalho da OAB Goiás, Esther Pitaluga, ressalta a não existência de “caixinhas”, ou seja, a inexistência de limites bem definidos entre as múltiplas funções exercidas por mulheres.

“Nós somos seres humanos. Se estamos no trabalho, e o seu filho está doente em casa, sua cabeça está ali também”, conclui.

“Nós estamos batalhando por essa equidade nos espaços públicos de trabalho, mas vamos também lutar por essa equidade nos espaços domésticos, porque os números são muito discrepantes”, afirma Andrea Vettorassi.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 05 – Igualdade de Gênero

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