Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) alertam para os efeitos do El Niño no Cerrado. Os especialistas que estudam o fogo no Centro de Sensoriamento Remoto da universidade apontam que o fenômeno adiou o início dos incêndios no bioma. Mas afirmam que eles podem começar nos próximos meses com o aumento das temperaturas em estados do Centro-Oeste e do Sudeste.

O inverno foi diferente no bioma. Geralmente, o início da estação coincide com o período de seca, que então provoca os riscos de incêndios florestais. Mas o inverno começou em 21 de junho de 2023. Então, chegou poucos dias depois da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos anunciar o retorno do fenômeno El Niño no Pacífico. 

Assim, mesmo com os recordes de temperaturas do planeta em julho, o El Niño causou instabilidade atmosférica no Cerrado. O resultado foram chuvas em áreas do bioma que em agosto já estariam bastante secas. Então, estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Bahia registraram chuvas de até 90 milímetros acima do normal para esse período do ano.

No entanto, a última semana do inverno ficou marcada pela onda de calor extrema em 11 estados e no Distrito Federal. E com esse aumento das temperaturas em estados do Cerrado nas últimas duas semanas, os pesquisadores alertam para o risco de incêndios no bioma nos próximos meses, incluindo o verão.

El Niño em formação

A agência de clima dos Estados Unidos anunciou o retorno do El Niño no dia 8 de julho, quando a temperatura da superfície do mar no pacífico equatorial era de 0,8°C. Argemiro Leite-Filho, climatologista e pesquisador da UFMG, aponta as mudanças climáticas como um dos fatores para o inverno diferente no Cerrado e indica a possibilidade de novas anomalias no clima.

“Organizações de meteorologia e de pesquisa nacionais e internacionais indicam mais de 90% de probabilidade de que o fenômeno El Niño se intensifique ainda mais entre setembro e outubro”, disse. “E as diferentes regiões do Cerrado sentirão impactos distintos”, aponta.

Os pesquisadores da UFMG alertam que o El Niño ainda está em formação. Sendo assim, existe a probabilidade de outras anomalias como a onda de calor ocorrer ainda em 2023. Até então, há previsão de temperaturas acima da média para as regiões Centro-Oeste e Semiárida do Cerrado, que fazem parte do alerta dos pesquisadores para o risco de incêndios na primavera e no verão.
 

“Isso significa a ocorrência de um período bem mais seco e quente do que o normal no Cerrado, ampliando ainda mais os riscos de incêndios e queimadas. E tudo isso em um período mais tarde do que o comum”, afirmou Leite-Filho.

Boletim

Previsão para o Cerrado nos próximos meses (Fonte: Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG)

Argemiro Leite-Filho e os demais pesquisadores do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG trabalham com o Boletim de Risco de Incêndio para os estados e municípios do Cerrado. O monitor pode ser acessado aqui

Por fim, alertam também os pesquisadores, as projeções para o El Niño atual indicam um aquecimento de 1,5°C do planeta, limite para o aumento de temperatura global conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

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