Especialistas da Universidade de São Paulo (USP) que estiveram na delegação da entidade na COP 28 acreditam que houve avanços em alguns temas e negligência com os mais importantes. O resultado da conferência é crucial para os próximos anos, como explicou Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM). “Esta é a primeira geração a entender completamente a mudança climática e a última a ser capaz de fazer algo sobre isso”.

A transição energética e as negociações para o fim do uso de combustíveis fósseis foram apontados como os principais temas da 28° Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas que ocorreu em Dubai. 

Diante do recuo dos países nas negociações para o fim dos combustíveis fósseis, o secretário-geral da ONU, António Guterres, enumerou diversos eventos climáticos extremos de 2023, que ele classificou como “colapso ambiental”. São os “recordes de temperaturas, ondas de calor, tempestades, enchentes e incêndios florestais devastadores”. Então, para Guterres, o fim do uso dos combustíveis fósseis é um assunto “inevitável” no combate às alterações climáticas.

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Caminho sem volta

Era esperado um compromisso global e ao mesmo tempo imediato contra a crise climática. Mas a USP aponta as divergências finais da reunião num artigo publicado no Jornal da USP por Rose Talamone e intitulado “O caminho (quase) sem volta”.

Entre os avanços da COP 28 estão os compromissos com as energias renováveis e a criação do Fundo para Perdas e Danos. Entretanto, especialistas indicam que o texto final abre espaço para a permanência da indústria de combustíveis fósseis.

Superintendente de Gestão Ambiental da USP, a professora Patrícia Iglecias, por exemplo, acredita que as metas deveriam ser mais robustas e mensuráveis. A especialista destacou a inclusão do tema da restauração de ecossistemas na agenda climática, assunto já pesquisado em vários trabalhos da USP.

“O balanço é positivo e reforça o papel da academia na agenda climática e o acerto da USP com os novos centros de pesquisa no âmbito da Reitoria, permitindo que docentes, discentes e pesquisadores dediquem-se aos temas mais relevantes do contexto climático atual.”

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Protagonismo do Brasil

Diversos especialistas brasileiros apontam o importante protagonismo que o Brasil pode construir quando o assunto é transição para a sustentabilidade. Decepcionada com o pouco avanço da agenda energética, a professora Tamara Gomes da USP de Pirassununga, ressaltou esse protagonismo do país em matriz energética limpa. Além disso, no importante papel na manutenção das florestas e agricultura regenerativa e captura de carbono.

“A principal tarefa de casa é identificar como promover uma economia de baixo carbono, com justiça climática, num país em que as desigualdades sociais são enormes”, disse.

O futuro da agenda climática passa pelo Brasil, pois o país irá sediar a COP 30 em Belém, no Pará, em 2025. Fernanda Brando Fernandez da USP de Ribeirão Preto disse que a conferência será uma oportunidade para o país abraçar esse possível protagonismo. 

“É uma oportunidade para colocar o País no protagonismo das discussões ambientais globais, trazendo para a arena um debate técnico sobre biodiversidade que carece de atenção mundial e melhor articulação com a pauta climática”, disse. Antes da COP 30, a ONU vai realizar a COP 29 neste ano, no Azerbaijão.

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*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática.