“O resultado final da COP28 não é uma vitória histórica, é mais um exemplo de textos extremamente vagos e diluídos e cheios de lacunas que de forma alguma estão perto de serem suficientes para permanecer dentro do limite de 1,5° e garantir justiça climática.” Essa é a avaliação da ativista sueca Greta Thunberg, de 20 anos. A crítica da fundadora do movimento Fridays For Future foi feita após a divulgação dos resultados da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP28), realizada em Dubai, Emirados Árabes.

Greta Thunberg, em seu perfil na rede social X (antigo Twitter), destacou a morosidade dos governos em adotar medidas mais drásticas em relação aos combustíveis fósseis, principais responsáveis pelo aumento das temperaturas globais e pela mudança climática causada pelas atividades humanas.

O texto final da conferência, após 28 edições da COP, concorda com a necessidade de progredir em direção ao fim programado do uso de combustíveis fósseis como base da economia mundial, mas não estabelece metas rigorosas. Em contrapartida, a cúpula em Dubai indicou um aumento nas fontes renováveis de energia, apontando para o compromisso de triplicar o potencial global até 2030.

“A eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é o mínimo. Precisamos de cortes drásticos e imediatos nas emissões e de compromissos vinculativos por parte dos maiores contribuintes da crise climática para financiar perdas e danos, adaptação e uma transição justa nas áreas mais afetadas”, disse a ativista. Ela já foi escolhida pessoa do ano pela revista Time, em 2019.

Contradição

Embora o entendimento alcançado pela COP28 seja considerado um avanço significativo para a discussão sobre a geração global de energia no século 21, sinais contraditórios, como o investimento contínuo em petróleo nos Emirados Árabes e a possível abertura de poços na Amazônia brasileira, mostram que há um longo caminho a percorrer para eliminar essa fonte de energia. Enquanto isso, a “janela de oportunidade” para manter o aquecimento global em 1,5°C está se fechando, de acordo com cientistas.

“Não podemos falar de ação climática sem abordar as causas profundas desta crise. Vamos denunciar esta COP pelo que ela é: outra traição e uma facada nas costas”, disparou Greta.

As críticas de Greta Thunberg coincidem com os resultados sombrios da mudança climática, com 2023 registrando-se como o ano mais quente após o período pré-industrial (1850-1900). A previsão para 2024 é que a humanidade sinta os impactos do mundo 1,5°C mais quente, com a intensificação de eventos climáticos extremos, como tempestades, enchentes e secas severas.

“Enquanto não tratarmos a crise climática como uma crise e enquanto mantivermos os interesses do lobby influenciando estes textos e estes processos, não chegaremos a lugar nenhum”, comentou Greta em entrevista à agência Reuters na sexta-feira (15).

Brasil

No Brasil, que sediará a COP30 em 2025, o Ministério do Meio Ambiente está desenvolvendo o plano nacional de adaptação às mudanças climáticas, com conclusão prevista para 2024, visando atender mais de 1.000 cidades em risco de impacto por eventos climáticos extremos. Durante um seminário em São Paulo, a ministra Marina Silva sugeriu que emendas parlamentares ajudem a financiar parte do projeto.

Enquanto o Brasil elabora seu plano de adaptação climática, foi criticado por integrar a Opep+, um grupo de países produtores de petróleo que complementa a Opep, órgão que reúne os maiores comerciantes de combustíveis fósseis do mundo. Em resposta, o presidente Lula afirmou que, se ingressar no grupo, o Brasil defenderá a transição energética.

Na mesma semana em que a COP28 encerrou, o Brasil leiloou 602 blocos para exploração de petróleo, um leilão duramente criticado por ambientalistas e apelidado de “leilão do fim do mundo”, incluindo campos na Margem Equatorial, que faz parte da região amazônica. O Ibama autorizou a exploração em outubro, e, no início de dezembro, a Petrobras enviou uma sonda para retomar a perfuração de poços.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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