Nesta sexta-feira (5), o mundo celebra o Dia Internacional da Língua Portuguesa. A data, contudo, foi oficialmente estabelecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2019. Falado por mais de 275 milhões de pessoas nos cinco continentes, o português teve destaque nesta semana por parte do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.

“Em um contexto global marcado por crises múltiplas e interconectadas, as línguas de comunicação global são um indispensável veículo de entendimento e esperança. E são também um lugar de resistência contra quem pretende disseminar o ódio, a exclusão, a violência, o extremismo e a misoginia e discriminação. A língua é, muitas vezes, o refúgio e a esperança dos mais vulneráveis. A esperança de serem ouvidos, de que suas vozes contem de não serem deixados para trás. A língua portuguesa é, também nisso, um bom exemplo, sendo partilhada e construída por populações em todos os continentes”, discursou Guterres, em bom português lusitano.

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O português, no entanto, não é uma língua oficial da ONU. Figuram como idiomas oficiais da organização o inglês, o espanhol, o francês, o chinês, o russo e o árabe.

As línguas oficiais são utilizadas em reuniões de vários dos órgãos da ONU, em particular na Assembleia Geral (Artigo 51 do regimento), bem como no Conselho de segurança. Desse modo, cada representante de um país pode falar em qualquer uma das seis línguas, ou, se ele desejar falar na sua própria, deve providenciar um intérprete.

O Conselho de Segurança da ONU, cuja liderança é rotativa, já teve à frente Moçambique, país lusófono. Além disso, a língua portuguesa já é oficial na União Africana, na União Europeia e na Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac).

Ademais, em 17 de julho de 1996, em Lisboa, realizou-se a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo que marcou a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A entidade reuniu Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Integra ainda a CPLP a Guiné-Equatorial. Timor Leste, em 2002, porém, foi a última nação a integrar a comunidade.

Valorização

O advogado, linguista e professor de Língua Portuguesa Carlos André, lembra de quando representou a Ordem dos Advogados do Brasil na Comissão de Relações Internacionais junto ao fórum dos Brics, em 2019, no Rio de Janeiro. O grupo de cooperação econômica é formado por cinco países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Carlos André destacou a postura do representante chinês no evento, no que se refere à valorização da língua materna de uma nação. “Enquanto todos os outros (representantes de países) falaram inglês, ele falou mandarim. Minha pergunta, então, é: para onde a China está indo? Para um crescimento, para a liderança, e honra a própria língua, assim como os Estados Unidos fizeram. Minha reflexão é: será que estamos fazendo a mesma coisa? Nós não sofremos um complexo de vira-latas? Então esse dia simboliza uma lembrança. Fim ao complexo de vira-latas que acontece no Brasil”, afirma.

Carlos André no VI Brics Legal Forum, em 2019 (Foto: Arquivo Pessoal)

Para o professor, entretanto, a luta pela valorização da língua materna deve partir do povo. Ele analisa o discurso do secretário-geral da ONU. “É preciso não apenas fazer um discurso cultural. É preciso fazer um discurso político, de gestão. Isso parte do povo brasileiro. Se o povo brasileiro não valorizar a língua, fica muito difícil, para nós, lutar por isso. Mas nós professores de português somos incansáveis, e os jornalistas também são”, acrescenta.

Por fim, o professor Carlos André faz referência ao poema “Língua Portuguesa” de Olavo Bilac. O linguista menciona especificamente a última estrofe “Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”, E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!” para expressar a importância de se valorizar a língua materna.

“Quando nós conhecemos a nossa língua, nós conhecemos a nossa mãe. Metaforicamente a mãe, neste caso, são as nossas raízes. Então veja a ligação que a nossa língua tem com as raízes, com o povo e com o destino desse povo. Quando nós pensamos, não pensamos em inglês. A língua é a materialização do seu pensamento naquela cultura. O Dia Internacional da Língua Portuguesa simboliza o respeito com a língua portuguesa e com a cultura do nosso país”, conclui.

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