Nesta terça-feira (29), durante o programa Hora do Esporte, a Sagres seguiu a sabatina com os candidatos à presidência executiva do Goiás para o próximo triênio. Encabeçada por Paulo Rogério Pinheiro, a chapa denominada ‘Nova Gestão’ foi a única a ser registrada e a tendência é que seja aclamada na manhã desta quarta-feira (30) como responsável pela direção executiva do clube entre 2021 e 2023.

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Além de Paulo Rogério, filho de Hailé Pinheiro, atual presidente do Conselho Deliberativo e histórico dirigente do clube, a chapa também conta com cinco vice-presidentes. Enquanto o futebol será chefiado por Harlei Menezes, Sérgio Cecílio (administrativo-financeiro), Frederico Valtuille (jurídico), Eduardo Júnior (patrimônio) e Cristiano Costa (esportes olímpicos) completam a formação da direção executiva esmeraldina.

Questionado pelo repórter André Rodrigues, o apresentador Wendell Pasquetto e os comentaristas Charlie Pereira, Evandro Gomes, José Carlos e Tim, o futuro presidente do Goiás esclareceu sobre os seus projetos e desafios à frente do clube nos próximos quatro anos.

Principais objetivos

Segundo Paulo Rogério, “o Goiás foi criado para ter o futebol, então realmente será o norte da gestão. Como disse no plano de gestão, temos que, no futebol, recuperar muita coisa. O Goiás, na década passada, ou estagnou ou cresceu muito pouco, seja no futebol ou no patrimônio. Talvez a categoria de base seja onde o Goiás mais cresceu. Primeiramente, é não tirar receita do futebol para assuntos que não venham a produzir receitas para o futebol. Do jeito que estamos pegando o clube, com alguns problemas, teremos um caminho muito difícil. Primeiro, temos que ver a nossa base. Segundo, contratar os jogadores corretos, tentar o mínimo possível com os jogadores baratos e não podemos errar com os jogadores caros”.

“O nosso norte é o futebol e montar uma equipe competitiva. Ainda não sabemos se estaremos na Série A ou Série B para planejar melhor o ano de 2021, mas, sendo Série A ou Série B, buscar as metas. Se for Série B, logicamente que precisa ser campeão. Se for na Série A, é brigar sempre entre os primeiros, buscar um título ou uma Libertadores, e não dizer apenas ‘vamos entrar para participar ou não cair’, isso na minha gestão não existirá. O Goiás tem que recuperar essa década, que chamo de década perdida. Perdemos muita coisa, e até o torcedor deixou de apoiar o clube em alguns momentos. Isso tem que ser resgatado urgentemente. Quero resgatar a torcida, o respeito do Goiás perante a opinião pública, os outros clubes, a CBF e a federação, porque nessa década realmente perdemos muita coisa”, completou.

Gestão do futebol

Sobre a divisão de responsabilidades no futebol, Paulo Rogério ressaltou que “o Harlei é o vice-presidente de futebol, mas todos sabem que não sou nenhum leigo de futebol. Nas conversas que tive com Harlei, Osmar (Lucindo, diretor da base) e Marcelo Segurado, deixei bem claro o perfil que entendo que seja o correto para o Goiás. O Harlei será um olheiro junto com o Osmar também, porque a minha filosofia é buscar muitos jogadores com 16, 17, 18 e até 21 anos de idade. Jogadores que nem serão apresentados no profissional, mas que virão e que, de repente, pincelaremos um, dois, três ou quatro por ano”.

O dirigente revelou ainda que “foi o que fizemos, eu, Osmar e meu irmão, na base desse ano na Copa São Paulo. Hoje é muito difícil pegar um jogador de nove anos na escolhinha e trazer até os 18 ou 19 anos. Nesse caminho tem os pais, que atrapalham muito até os 15 ou 16 anos, tem os empresários, que quando o jogador começa a dar certo ele tira esses jogadores do clube, então decidimos também investir em atletas pré-formados ou já até formados para termos um giro mais rápido. Então não será o Harlei sozinho, será uma equipe”.

“Se ganhar, vão ganhar todos, se perder, será o Paulo Rogério. Se assinei o contrato, é porque eu concordei e assinei. Só que para assinar um contrato de jogador, treinador, preparador físico ou gestor que seja, será bem difícil, você terá que realmente me comprovar que é necessário, principalmente jogadores caros. Jogadores caros virão sim, mas quero jogador que venha, pegue a camisa e fala ‘sou titular e ponto’. Jogador caro, para ser aposta, eu aposto na base e nesses que estamos olhando há dois meses”, acrescentou.

Outra característica da sua gestão é que “vou determinar dentro do Goiás que o sub-20 deixe de ser base. O sub-20 já é time B: terá toda a estrutura do profissional e compartilhará o departamento de fisiologia, muscular, físico e médico do profissional. Quero que esse atleta, quando suba para o profissional ou entre para o time A, já tenha pelo menos a estrutura física e muscular de jogador profissional. Na parte técnica, o time B estará treinando nos moldes do time profissional para que o impacto técnico não seja tão grande”.

Remuneração da diretoria

Uma questão sempre levantada em novas gestões, a remuneração no Goiás, segundo Paulo Rogério, “como todo vice-presidente e seus diretores, não podem ser remunerados. O Harlei, o Eduardo Júnior, que é o vice de patrimônio e gestor na gestão passada, passarão a não serem remunerados. A lei não permite que associações sem fins lucrativos tenham diretores remunerados, muito menos os vice-presidentes e o presidente. Já os gestores não, todos serão remunerados”.

Marcelo Segurado

Na gestão do futebol do clube esmeraldino, além de Harlei, que agora assume o cargo de vice-presidente do setor, também está Marcelo Segurado, executivo de futebol. De acordo com o candidato à presidência pela chapa ‘Nova Gestão’, “temos hoje dois executivos no futebol, e isso já é um grande ganho. O Marcelo está no clube e continuará até que se pense ao contrário. Não tem nada de discussão sobre isso e o Marcelo continua com a gente. Futuramente, caso alguém queira trocar o Marcelo ou alguém do futebol, será uma decisão do Harlei”.

“A partir do momento que tomar posse como presidente, deixarei muita responsabilidade para os vice-presidentes e os diretores. Não vou ficar dando entrevista ou aparecendo para falar de alguma coisa que o diretor e o vice tem que responder. Agora, se fizer coisa errada, eu venho a público chamar a atenção. Então o Harlei não é remunerado e compartilhará com Marcelo, Osmar e comigo as ideias do futebol para seguir uma filosofia de trabalho única. Lógico que terá desacordos internos, mas nada de briga: isso é normal e salutar. Mas a decisão final será sempre minha”, finalizou.

Nova oportunidade para Harlei

Para Paulo Rogério, “o Harlei agora está no papel da vida dele. Quando entrou com o Sérgio (Rassi, ex-presidente do Goiás), ele era inexperiente nessa função e não tinha estudado para isso. Inclusive, foi infeliz com as palavras ao Sérgio e pediu desculpas. Tudo veio da imaturidade dele na época. O trabalho que acho que possa ser questionado do Harlei foi realmente com o Sérgio, mas naquela época o Goiás tinha uma limitação de 30 mil reais de salário, estava em uma situação financeira e política totalmente adversa e nada o ajudava. Não estou aqui justificando, o trabalho do Harlei naquela gestão foi ruim”.

“Ele foi estudar, fez diversos cursos e passou a conhecer dezenas de pessoas no Brasil e a ser respeitado perante empresários e dirigentes. O Harlei não tem nada a ver com o que aconteceu em 2020, ele não trouxe nenhum atleta e simplesmente foi apagar incêndio a pedido do presidente do conselho (Hailé Pinheiro) e do Marcelo (Almeida). O Goiás estava com 52 atletas treinando no clube e ele deu um limpa. O Marcelo Segurado saiu daqui sendo execrado pela torcida. Ele também era inexperiente, rodou, estudou, fez um grande trabalho no Ceará e voltou para o Goiás pela porta da frente. É a chance que tem o Harlei agora e confio nele, senão não estaria na minha chapa”, finalizou.

Reforços para 2021

Perguntado sobre buscar reforços de peso já no começo do ano, Paulo Rogério ponderou que “no início de 2021, não, porque tenho um problema financeiro gigante para resolver agora em janeiro. Eu sou contra contratar atleta por atacado: chegar cinco, seis ou quatro atletas na semana, isso não acontecerá. Prefiro pagar melhor para um jogador que chega e resolva, do que pagar quatro apostas com salários altos e que não resolvam”.

“Não quero mais do que 32 atletas treinando no clube: mais do que isso você não fecha a união do grupo e acaba tendo muita ‘conversinha’ e perda do foco da competição e do objetivo do clube. A ideia é contratar jogadores que cheguem e resolvam. As apostas virão, mas baratas, não caras. Vamos errar? Podemos errar sim, mas o mínimo possível e deixando uma válvula de escape se esse atleta não jogar”, concluiu.

Treinador

Na indefinição sobre qual divisão o Goiás estará na próxima temporada, Paulo Rogério explicou que Augusto César e Glauber Ramos, dupla que comanda a equipe principal desde novembro, ficam “no mínimo, até o dia 28 de fevereiro, no final da Série A e do Goianão 2020. O futuro do Glauber e do Augusto depende dos dois, não depende de mim. Trouxemos treinadores que ganharam centenas de reais esse ano e no passado que não deram nem contar de dar padrão de jogo ao time: o Goiás não teve padrão de jogo com nenhum treinador esse ano”.

“O Glauber e o Augusto já conseguiram dar padrão de jogo. Se eu gosto, se é bom ou ruim, os resultados que dirão. Eu não sou treinador de futebol para dizer que não quero que jogue no 4-3-3, no 4-5-1 ou no 4-4-2, não é eu que determino isso. Eles têm total liberdade para tudo, então depende deles. Se o Goiás ficar na Série A, como que eu tiro o Augusto e o Glauber? Não vou ter jeito. Eles continuarão tendo as chances deles”, destacou o provável futuro presidente do Goiás.

Em uma comparação com o presidente do Atlético Goianiense, Paulo Rogério brincou que “eu sou meio Adson Batista: o treinador que vier para o Goiás terá que conversar comigo. Não vou escalar, mas terá que trocar ideia comigo e com o Harlei. Esse negócio de treinador se eu falar, emburra, já não é o meu perfil de trabalhar. Eu tenho capacidade de conversar, não de escalar ou mexer em esquema tático, mas de cobrar certas coisas do treinador, como o Harlei também tem que ter”.

“Como já falei para o Harlei e o Marcelo, treinador que indicou jogador já está 50% negado o pedido deles. Eles trazem aquela ‘carreada’ de jogador, muitas vezes ligados ao mesmo empresário dele, chega aqui, come, dorme, ganha um rio de dinheiro e vai embora. Então consertaremos o que está errado e melhorar o que deu certo dentro dessa experiência de vida que tenho no Goiás desde 1998. Sei bem o que é certo ou errado, seja no futebol ou na parte administrativa do clube”, completou.

Patrimônio do clube

Em 2020, o estádio Hailé Pinheiro passou por mais um processo na sua reforma. Depois do setor sul (tobogã, rua T-62), foi a vez do setor leste (rua S-5). Segundo Paulo Rogério, “temos que terminar a parte que começou. Está quase pronta e falta muito pouco para acabar. O estádio, para ter continuidade, tem que haver uma verba ou parcerias. O Goiás não vai tirar dinheiro do futebol ou de outros setores para o estádio. Vamos terminar o que está lá para poder colocar o público, porque isso é um investimento e rapidamente volta para nós. Agora, ampliar a terceira e a quarta etapa somente com parcerias”.

Apesar da situação financeira, “em matéria de patrimônio, no dia que tiver dinheiro sobrando nós investiremos, mas o patrimônio precisa ser investido naquilo que volta para o clube. Algumas obras têm que ser feitas, por exemplo: o Goiás tem o pior departamento médico em matéria de estrutura física e de material tecnológico e técnico entre os 20 clubes da Série A. O Goiás precisa investir urgentemente no DM do clube, que está totalmente defasado e não foi investido nada nesses últimos dez anos. Também investir na capacitação das pessoas envolvidas, e isso já está sendo estudado”.

Problemas financeiros

Entre estar na Série A ou na Série B do Campeonato Brasileiro, “lógico que temos que pensar nos dois cenários, isso é fundamental. Nesse primeiro momento, estamos trabalhando com jogadores que encaixem no nosso perfil, seja para Série A ou para Série B. O treinador depende muito do que acontecer nesses dois meses, porque na Série A o salário do treinador é X e, na Série B, é dividido por quatro ou cinco vezes”.

“Em relação às dívidas, temos um déficit financeiro, mas vamos entender que é pagável. Tem o dinheiro do Michael para entrar e mais alguma coisa. É manter os pés no chão e gastar o que arrecadará menos 10 a 15%, então temos que ter discernimento para isso. Não posso contar que vou chegar à semifinal da Copa do Brasil, que vou pegar 20 milhões, e caio na segunda fase”, ressaltou Paulo Rogério.

Segundo o dirigente, “existe uma dívida tributária que é mais tranquila, isso se negocia com o governo, mas ainda não temos essa dívida. Temos dívidas a curtíssimos prazos, que já estão vencidas. Posso dizer que chega a 30 a 40% do que o Goiás vai arrecadar se tiver na Série A no ano que vem”. Sem revelar valores, destacou que “é um número alto, mas volta a repetir: nada é impossível de pagar, mas vai dar trabalho e vou pagar”.

Ouça a entrevista na íntegra de Paulo Rogério Pinheiro à Sagres

Assista a entrevista na íntegra de Paulo Rogério Pinheiro à Sagres