Durante o evento da Agro Centro-Oeste Familiar, que ocorre na UFG, em Goiânia, a nutricionista e palestrante, Suzi Cavalli, participou de um workshop com o tema do evento: Mais Comida, Menos Agrotóxico. Na discussão, o assunto foi a produção de alimentos e segurança alimentar e nutricional no Brasil.

De acordo com Suzi Cavalli, existe uma cultura de que o consumidor é o responsável pela qualidade do alimento. Apesar disso, ela defendeu que “quem tem que provar que o alimento é seguro é quem está produzindo, não quem está consumindo”. Sendo assim, a nutricionista explicou que, para saber se um alimento é de qualidade, é preciso analisar um cenário multidimensional.

A palestrante afirma que a questão nutricional, a sustentabilidade, a parte sensorial, o higiênico-sanitário, o cuidado e a regulamentação são alguns pontos para definir a qualidade de um alimento. Ainda conforme Suzi Cavalli, qualidade abarca os atributos da segurança alimentar e nutricional, enquanto a quantidade é a dimensão necessária para a manutenção da saúde-nutrição.

“Partindo da premissa que a nutrição está relacionada diretamente com o sistema alimentar, é imperativo que a qualidade em todas as suas dimensões seja o foco primordial da alimentação fornecida/produzida. Dimensões que perpassam segurança, qualidade nutricional, com aspectos sensoriais importantes, com uma relação social entre produtor e consumidor, priorizando a produção de alimentos de qualidade, de forma global e holística”, destacou.

Obesidade x desnutrição

Para ela, o mundo vive em um paradoxo na alimentação da população mundial, em que há uma dualidade de obesidade e desnutrição. “A alimentação é um paradoxo para grande parte da população mundial e para a ciência, já que duas faces contraditórias da má nutrição coexistem e crescem, que é a obesidade e a desnutrição. Em conjunto às mudanças climáticas, o cenário atual representa um dos grandes desafios contemporâneos e é, em grande parte, determinado pelo sistema hegemônico”, ressaltou.

Para contextualizar a situação da fome e da insegurança alimentar, Suzi Cavalli relembrou as três fases da Revolução Verde. Na primeira, conforme ela, foi durante o êxodo rural e a urbanização.

Em seguida, veio o aumento do uso de agrotóxicos e os transgênicos como justificativa para combater a fome e a insegurança alimentar. Por fim, a palestrante lembrou da terceira fase com as novas biotecnologias e o impacto que a crise ambiental mundial e pandemia trouxeram.

Durante a palestra, a nutricionista também afirmou que existe um consenso mundial de que a questão das dietas saudáveis e sustentáveis são a chave para se repensar os sistemas alimentares. Sendo assim, a agricultura compartilha uma relação simbiótica com a nutrição e saúde, e ambas se afetam. “Precisamos refletir sobre como a agricultura, no sentido amplo, poderá ser sensível à nutrição”, explicou.

Produção de alimentos

O Relatório EAT – Lancet, de 2019, destaca que sem uma ação global não será possível cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e o Acordo de Paris. Isso vai colaborar para a degradação do planeta e também o risco maior de doenças e desnutrição para a população.

Cultivos Geneticamente Modificados (GM), transgênicos, são hegemônicos no Brasil. Soja é de 97%, milho 88,9% e algodão 84%, segundo Suzi Cavalli. Apesar disso, ela pontua que a afirmação reversa é importante.

“Não temos estudos científicos suficientes para se dizer que os produtos GM são seguros. Não temos estudos epidemiológicos que avaliem a relação de consumo humano desses produtos e a saúde. Por isso, é preciso adotar o Princípio de Precaução”, defendeu.

*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 02 – Fome Zero e Agricultura Sustentável

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