Celebrado em 11 de setembro, o Dia do Cerrado é uma data que traz luz às discussões sobre as estratégias de preservação do segundo bioma mais extenso do país e que enfrenta fatores de risco em todo o país, incluindo a principal região turística do Tocantins: o Jalapão.
Criada há 23 anos, a Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão possui 461.730 hectares e ocupa terras dos municípios de Mateiros, Novo Acordo e Ponte Alta do Tocantins e serve como uma zona de amortecimento para o Parque Estadual do Jalapão (PEJ), localizado dentro da APA.
A região impressiona pela exuberância da natureza, com vegetação típica do cerrado, aliada a atrativos naturais como as Dunas, formadas a partir da erosão da Serra do Espírito Santo. É o destino mais procurado no Tocantins e atrai turistas do mundo inteiro.
Principal ameaça ao cerrado no país segundo organiza WWF Brasil, a expansão agropecuária também é um fator que gera preocupação em solo tocantinense, segundo o diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), Warley Carlos Rodrigues.
“Podemos citar como fator de risco o avanço da Fronteira agrícola que é o que está mais perto. Se isso acontecer de forma desordenada, pode prejudicar de maneira significativa a paisagem do Jalapão, porque é um solo frágil, então qualquer erro na implantação de alguma cultura do agronegócio pode trazer impactos que demoram muito a serem revertidos”, explicou.
Fonte de renda para as comunidades e moradores da região, o turismo também pode ser fator de risco, se feito de forma desordenada, bem como os incêndios, conforme alerta o diretor do Naturatins.
“O turismo sem o devido controle e também um terceiro fator são os incêndios, que naquela região são comuns devido à paisagem aberta, onde os incêndios se propagam com muita facilidade. Então, em termos de riscos para a região a gente tem trabalhado com essas três hipóteses desenvolvendo ações para tentar mitigar esses resultados negativos”, afirmou.
Estratégias
Segundo o diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Naturatins, o diálogo, a fiscalização e a prevenção são os principais instrumentos do Naturatins para atuar nas frentes de preservação do cerrado na região.
“Implementar a fiscalização na região para coibir avanços de maneira ilegal, seja de turismo, seja de fronteira agrícola. Investimos muito no Manejo Integrado do Fogo (MIF) e no Manejo de Fogo de Base comunitária, para conter os incêndios. Adotamos ainda uma estratégia de diálogo com as comunidades e proprietários de terras para que a gente consiga manejar a paisagem, fazendo pequenas intervenções em locais estratégicos com queimas prescritas e controladas”, relatou.
Ainda segundo Warley, a partir da experiência obtida ao longo dos anos com o Manejo Integrado do Fogo no Jalapão foi possível elaborar um roteiro metodológico para a execução de um plano para o MIF.
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Rede Jalapão
Criada em 2007 com o objetivo de incentivar a produção artesanal e promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais na região, a Rede Jalapão visa garantir às famílias que vivem nas zonas rurais da APA do Jalapão, o extrativismo sustentável, que preconiza o manejo de práticas de exploração que causam o mínimo impacto ambiental, fomentando a renda da população e agregando valor aos produtos por meios de processamento artesanal.
“Temos investido também na rede Jalapão e a rede de Lapão é uma iniciativa que privilegia o extrativismo e comunidades tradicionais. Então, ao mesmo tempo que a gente fiscaliza, protege contra incêndios e também apoia as atividades da sócio biodiversidade nas comunidades tradicionais ali existente através da Rede”, destacou Warley.
O diretor destacou ainda que através do “Orienta Naturatins” o órgão está investindo na proximidade ao cidadão como forma de esclarecer sobre os processos de licenciamento ambiental facilitando ao interessado que legalize a sua atividade.
“Qualquer pessoa que queira se desenvolver em alguma região e tenha dúvidas sobre o processo de licenciamento, pode participar desse evento, levando as suas dúvidas e questões ali quanto ao processo de licenciamento com a sua atividade, seja ela vinculada ao agronegócio, seja ela vinculada ao turismo ou qualquer outra atividade que possa ter na região”, explicou.
Além dos mutirões de orientação, o Naturatins investe em pesquisa a região, voltadas para o manejo das unidades de conservação.
Chuvas reduziram incêndios
Com chuvas “fora de época” no mês de agosto, o Tocantins registrou um índice pluviométrico acima da médica histórica – na capital Palmas, onde está localizada a estação convencional do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) foram registrados 23,0 milímetros (mm) de chuva, enquanto a Nomal Climatológica (média histórica) de 1991 a 2020 é de 1,3mm, o que corresponde a um saldo de 21,7mm em volume.
Essa surpresa no clima tocantinense contribuiu para que o mês de agosto apresentasse uma redução no número de incêndios, mas a equipe do Naturatins permanece em estado de alerta enquanto o clima estiver favorável às ocorrências. Além de fazer as queimas preventivas e o Manejo Integrado do Fogo, o órgão fiscaliza para que as queimas só sejam feitas dentro do período autorizado.
“Nós trabalhamos prevenção e combate a incêndios florestais e queimadas. A mudança do clima nesse ano ajudou, mas não quer dizer que no período de 2023 total ela vai ter alguma incidência, porque nós temos ainda que preparar aí para as os incêndios que podem ocorrer no mês de setembro e no mês de outubro, que também pode estar muito quente e com baixa umidade. Então a gente fica na realidade em estado de alerta com essa mudança do clima e preparados para atuar em caso de ocorrência de incêndios”, explicou o diretor do Naturatins.
Sempre trabalhando junto à comunidade na prevenção e combate à incêndios, Warley pontua que a população pode contribuir com a preservação do cerrado no Jalapão seguindo os protocolos municipais para uso do fogo, estando atentos às normas e calendários para utilização do fogo.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima e ODS 15 – Vida Terrestre.