Foto: Fernando Leite

 

Parada, a máquina política do governo se desgasta. Adormecida, enferruja. Fazê-la andar em ano de eleição, eis tarefa nada fácil quando ela está, além de parada e adormecida, acomodada na direção, na cúpula, no topo da bonomia do poder. Como se trata de um gigante, e um velho gigante de 20 anos, mexer um dedo custa. Sacudir a poeira, torna-se quase um parto.

Nos últimos dias, a base mexeu o dedo. Acordou. Foi acordada. A tempo? Ainda com o ex Marconi Perillo viajando ao exterior, o governador José Eliton já tinha indicado o plano. À rádio Sagres 730, ele disse que Marconi seria o coordenador de sua campanha à reeleição, que vale, por extensão, a campanha dele ao Senado e a manutenção do seu ‘tempo novo’ no poder, depois de duas décadas comandando geral. A pré-campanha, então, estava devagar, quase parando. Com a volta de Marconi, a realidade é outra.

Marconi tem feito o básico: trabalhar para juntar a base aliada, abalada por desgastes internos e uma conjuntura de mudanças nos grupos em volta e em busca do poder. Ele esteve com Vilmar Rocha (PSD), fez gestos ao PP de Alexandre Baldy (vice ou suplência), e tenta equilibrar a disputa entre o PTB de Jovair Arantes, que acena com Demóstenes Torres para o Senado, e o PSB da senadora Lúcia Vânia, que quer a reeleição. A decisão está tomada, segundo aliados do governo: Lúcia Vânia será a companheira de chapa de Marconi. Falta combinar com Jovair, o que está em curso.

Semana passada, José Eliton deu um xeque em Vilmar. Os dois se estranham há tempos. Vilmar advoga a tese de renovação de nomes para o governo na base, o que não rima com Eliton. Durante encontro organizado pelo deputado federal Thiago Peixoto (PSD), que parece sonhar em ser vice, o governador elogiou o presidente da legenda e disse que vai buscar o diálogo até o último minuto. Falou para os filiados de Vilmar, que respondeu como quem forma o golpe, em vez de buscar a conciliação.

“Já disse que vou ouvir o partido democraticamente, mas ainda tenho a opinião de que, para vivermos a eleição, nós tínhamos que ter um candidato a governador com um perfil de renovação, que não seja do governo, que seja da sociedade. Tenho uma convicção de que o melhor para a base seria um processo de renovação interna”, disse Vilmar. Nestes termos, o governador mostra disposição para o entendimento, e recebe um pé atrás como resposta, o que faz pesar mais sobre os ombros de Vilmar a desconfiança de que seu posicionamento tem, na verdade, motivação apenas pessoal. É, pelo menos, a mensagem que fica (ou que é propagada) para a base e o PSD em particular, onde os deputados já estão definidos por José Eliton.

No equilíbrio das contas está, sempre, Marconi Perillo, como promotor e como fiador das alianças. Enquanto isso, outras ações são postas em campo. A estruturação da campanha já vai longe. Há equipes formadas para marketing, plano de governo e para o atacado e o varejo da política, e que já se encontram em foco conjunto. Um exemplo elementar: lideranças de todos os municípios estão criando grupos de WhatsApp com pegada local, municipal, para municiar aliados com informações positivas sobre o governo e material profissional de pré-campanha. É o início da mobilização para a corrida até as convenções que começa, de fato, depois da Copa da Rússia.

A Copa é o divisor. A avaliação interna é que o espaço agora é para negociações, articulação e organização. Movimentação mesmo, o jogo bruto, virá depois, quando a militância e o público que gira em torno da política estarão mais propensos a entrar em campo para o jogo eleitoral. Entenda-se por jogo bruto a investida na atração de partidos hoje com Caiado e Daniel; a convocação dos aliados para o campo aberto da disputa, com formação de grupos de campanha para rodar o Estado; a separação, na estrutura de poder, dos que estão juntos e dos que querem seguir com outra candidatura. Nesse sentido.

Animou bastante os governistas uma pesquisa recente do Instituto Real Time Big Data/TV Record. Ela mostrou, em linhas gerais, que apesar da aprovação baixa do governo, pontualmente a administração é bem avaliada. Dizem os números: 73% entendem que obras e programas atuais devem continuar. Mais especificamente: 91% dos entrevistados avaliam que o próximo governador deve dar continuidade aos atuais programas sociais, como Bolsa Universitária, Cheque Moradia, Renda Cidadã e Passe Livre Estudantil. E 59% aprovam as Organizações Sociais (OS), motivo de crítica dos adversários. Em resumo: se os 20 anos pesam como fator negativo em virtude do desgaste e da fadiga do poder, eles também carregam o discurso e as armas que podem reverter a situação.

Marconi tem passado preocupação a aliados, que reverteram isso em conversas de bastidores. Esta será, acreditam, a sua campanha mais difícil. Basicamente plebiscitária – colocando em julgamento popular o seu legado -, estará em questão também o seu futuro. Conseguirá chegar ao Senado? Com que votação? Fará o sucessor ou terá de enfrentar um inimigo no governo, com força para desconstruí-lo? Reflexo disso está na reação silenciosa dos próprios aliados: ao mesmo tempo que o reconhecem como único capaz de unir a base e puxar a campanha rumo à vitória, calculam – e até torcem – que, para ele, o melhor seria mesmo concorrer a uma vaga de deputado federal. O risco de derrota, admitem, seria bem menor. E se avaliam assim, é porque trabalham para o melhor, porém acreditam que o pior tem tudo para acontecer.

José Eliton faz sua parte governando. No exercício do comando da máquina do governo, procura manter agenda positiva, ao mesmo tempo em que tenta transmitir confiança aos seus aliados – principalmente os do interior -, que é combustível para a perspectiva de poder, essencial em uma eleição. Na semana passada, fez barulho com o lançamento da Faculdade do Esporte Eseffego. Realização de governo, plataforma de campanha. O maior desafio, de todo modo, continua a ser a manutenção da engrenagem pública: pagamento em dia, obras em andamento, programas sem interrupção. Entra nessa conta, por exemplo, a garantia de que não faltará água para a população este ano. Porque, se faltar, o desgaste eleitoral é líquido e certo.

Como andam as campanhas

Na estratégia de confronto, José Eliton centra fogo público em Ronaldo Caiado (DEM) e, nos bastidores, em Daniel Vilela (MDB). De forma pragmática, busca a polarização com o líder nas pesquisas. Jogo que, por sua vez, interessa a Caiado, que tem no governo o seu contraponto, a razão de ser do seu discurso de oposição.

Caiado, ao mesmo tempo, evita movimentos bruscos. Quanto menos campanha agora, melhor para ele, que pode se concentrar no avanço pelo interior e na consolidação de seu maior capital no momento: a perspectiva real de poder. Ele também economiza fôlego para o período das convenções partidárias, quando inevitavelmente sofrerá cerco mais forte do governo, interessado em esvaziar seu leque de apoios, hoje em mais de dez legendas.

Daniel Vilela é quem corre atrás. É visível a sua mudança de estratégia: está mais duro contra o governo de José Eliton, e mais direto no ataque a Ronaldo Caiado. O cerne de seus discurso: Caiado e Eliton são ‘farinha do mesmo saco’, já que foi o DEM quem indicou Eliton como vice oito anos atrás, quando ambos integravam o mesmo grupo que há duas décadas governa Goiás. Daniel corre atrás ainda pata melhorar nas pesquisas. Agora, além da cobrança por não rivalizar com Eliton e Caiado, ele tem que lidar com outro fator que pesa negativamente para seu projeto: o empate técnico com a candidata do PT, Katia Maria.

Katia Maria, Weslei Garcia (PSOL) e Edson Braz (Rede), sem a estrutura dos candidatos há mais de ano em campanha, buscam se firmar. A petista lançou projeto de governo, está melhorando nas pesquisas, e prepara movimento de base para se fortalecer, aproveitando o fato de o partido estar estabelecido em praticamente todos os municípios goianos. É a mais animada de todos. Vale um registro: a pré-campanha de Weslei Garcia nas redes sociais. Ele conta história. A sua história, enquanto discute temas de interesse da nossa história.

 

Regras do jogo

1

É consenso desde o ano passado, inclusive na oposição, que José Eliton vai crescer. A máquina do governo sempre carrega o seu candidato. Isso se confirmando, o provável é alguém da oposição sobrar. Não à toa Ronaldo Caiado decidiu deixar de lado Daniel, empacado nas pesquisas, para se segurar no alto. Não à toa José Eliton prefere polarizar com Caiado: seus estrategistas calculam que as chances de puxar para seu lado os apoiadores de Daniel Vilela em um eventual 2o. turno são maiores do que as de atrair caiadistas derrotados, que tenderiam para Daniel.

2

A tese de que Caiado tem um teto está por se confirmar. Por ora, o que há é um Caiado se mantendo no topo. Isso é positivo, e não negativo. A dúvida se ele vai se manter lá é do mesmo tamanho das outras: se Zé Eliton vai crescer além do chão dos candidatos de governo (o suficiente pra ganhar), e se Daniel vai conseguir chegar ao nível histórico dos nomes do MDB.

3

Caiado não vai cair pela força do pensamento. José Eliton não vai subir pela fé. Da mesma forma, Daniel nem crescerá porque o MDB é grande, nem desaparecerá porque o MDB não o quer. O que Daniel não conseguiu foi o que Eliton já alcançou: fazer a sua máquina eleitoral acordar. O MDB de base – muito alem do dissidente – está parado, inerte, adormecido. Assume Daniel oi abraça Caiado? Eis a questão nos rincões. Essa máquina, se mexer um dedo a favor de Daniel, a história muda. Vai mexer? A tempo? Para seu lado mesmo? Daniel não está fora do jogo; mas também ainda não está dentro.

4

O PT está no jogo. Pra valer.

 

* Publicado também na Tribuna do Planalto.

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