O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em entrevista exclusiva à Sagres, nesta sexta-feira (12), afirmou que quando estava à frente da pasta, identificou que a única maneira de sair da pandemia da Covid-19 era com a vacina. O médico contou que já conversava com os laboratórios e que eles mostravam interesse em testar vacina no Brasil, que tem cultura de vacinação, apesar de ter problemas para realizar o isolamento. “Perdemos a chance de ser exemplo”, lamentou.

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A priorização do Brasil, para as empresas, era vista como um “cartão de visitas” para que a eficácia dos imunizantes pudessem ser atestadas pelo mundo. “A gente poderia ter começado a vacinar em novembro do ano passado. A gente, provavelmente, nesse momento, já teria vacinado os nossos idosos, que são principal grupo que vai para as UTIs. A gente não estaria falando de colapso hospitalar”, declarou Mandetta.

Segundo o ex-ministro, com as negociações pela vacina ocorrendo agora, é provável que o Brasil só receba as doses necessárias no segundo semestre e só aí consiga “virar essa página”, caso não haja uma cepa resistente aos imunizantes. “Eu lamento que a gente não tenha feito isso ali em julho ou agosto, mas eu tenho que ter esperança de que essas vacinas vão chegar”.

Condução da pandemia

Nesta quinta-feira (11), fez um ano que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia da Covid-19, enquanto o primeiro caso da doença registrado no Brasil, ocorreu em 26 de fevereiro de 2020. À época, Mandetta, então ministro, pediu união e disse que a pandemia separaria “homem de menino”.

O ex-ministro afirmou que via acontecer, durante o combate à pandemia, caso de pessoas que sabotariam as principais medidas, que jogariam “o jogo do vírus, o jogo da morte”. Assim o médico definiu a separação entre homens e mulheres que enfrentariam o problema de frente e meninos que seriam irresponsáveis.

“A gente usa, às vezes, essas expressões para que as pessoas entendam o tamanho do que a gente iria passar […] Era exatamente para informar que, olha, nós íamos ser atacados por um inimigo invisível, implacável, ele só pega carona de organismo em organismo e vai deixar um rastro de morte, ele não vai respeitar se você é petista, se é Bolsonaro, se você torce para o Atlético ou para o Vila Nova”.

Dificuldades do Governo Federal

Demitido em 16 de abril, pelo presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro explicou que não é possível afirmar que o país teria menos mortes se ele continuasse à frente do Ministério da Saúde, pois era necessário uma ação conjunta. “Você pode colocar lá, os últimos 10 Prêmios Nobel de Medicina, que se o presidente falar: ‘não, não vamos, é para vocês saírem’, as pessoas, elas escutam os dois lados e falam ‘o que é mais conveniente?'”.

Mandetta prosseguiu e declarou que faltou liderança e comunicação por parte do Governo Federal, além de citar dúvidas que a população poderia ter em função de frases do presidente Jair Bolsonaro. “Afinal de contas, é para eu ficar em casa? Isso é uma gripezinha? Para de mimimi, vamos trabalhar, tomar cloroquina”.

Ainda assim, o médico vê com ressalvas a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), pois no momento todos os esforços precisam ser para contenção da doença. “Tudo que eu fizer diferente de tirar o foco desse problema aqui, eu não vou estar ajudando agora”. O ex-ministro continuou e disse que a hora de uma CPI ainda vai chegar e que a população vai avaliar.