A educação antirracista é um importante mecanismo para enfrentamento ao racismo estrutural, além do combate à evasão e exclusão escolar e o trabalho infantil, por exemplo. Um dos entraves para a sua implementação nas escolas, no entanto, está exatamente na sociedade, que desmobiliza esse debate. É o que afirma o professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Câmpus Goiás, José Humberto Rodrigues dos Anjos.

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“O grande entrave ainda é a mobilização. Muita gente ainda acredita nessa ideia de um Brasil cordial, em que todos são iguais. Há ainda a ideia concebida de que todos são seres humanos, enfim, essa fala vai desmobilizando as lutas. Se existe uma crença de que o Brasil é cordial, de que não precisamos de consciência negra e de que o que precisamos é só ‘consciência humana’, como muita gente diz, está colaborando para que se estabeleça que o racismo não existe. A mobilização hoje é um desafio”, afirma o professor, que também é vice-presidente do Núcleo de Estudos Afro-descendentes e Indígenas da UFG.

Antirracismo nas escolas

José Humberto ministrou uma das palestras do I Seminário do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME), realizado nesta quarta-feira (7), em parceria com Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). O tema é a elaboração de projetos para o trabalho pedagógico voltado às relações antirracistas e olhares sensíveis a essas práticas.

Foto: Johann Germano/Sagres Online

No seminário, mais de 50 escolas municipais de Goiânia expuseram projetos complementares de educação afro-brasileira e indígena.

Para o professor, uma educação antirracista e inclusiva deve abranger toda a comunidade escolar, o que inclui a formação dos professores. Além disso, segundo José Humberto, é preciso que haja um combate efetivo às práticas racistas.  

“Como elaborar projetos, como fazer práticas que sejam realmente antirracistas e que não apenas reforcem, porque o que temos visto em muitos locais é que as pessoas desenvolvem os projetos, mas em vez de combater acabam reforçando estereótipos antigos e que, por conseguinte, acabam fomentando o racismo”, pontua José Humberto.

Racismo institucional

Para o secretário-adjunto de Inclusão, diretor de Ações Afirmativas e presidente da Comissão de Heteroidentificação da UFG, professor Pedro Cruz, a não-preparação dos professores também é um fator de desmobilização quando se pensa em combate ao racismo nas universidades.

“Do ponto de vista jurídico podemos dizer que avançamos de 1988 para cá. É uma Constituição que recepciona direitos e que nos possibilita avanços nesse campo do reconhecimento das diferenças e do respeito às diferenças. Mas ainda temos problemas que estão focados na própria sociedade, quando a gente vê as pessoas reproduzindo todas essas práticas. O racismo institucional é um modelo dessa reprodução. Seminários dessa natureza que trabalham a conscientização apontam de forma objetiva para que a gente possa ir rompendo essas barreiras que estão colocadas em relação à questão racial no Brasil”, analisa.

*Este conteúdo contempla os Objetivos de Desevolvimento Sustentável (ODS) 04 e 10 da Agenda 2030 da ONU, por uma Educação de qualidade e pela Redução das desigualdades, respectivamente.

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