O Ribeirão João Leite é uma das fontes hídricas do abastecimento público de Goiânia. Sua nascente está localizada na Serra do Sapato Arcado, em Ouro Verde de Goiás. As águas do ribeirão correm pelos municípios de Goiânia, Anápolis, Nerópolis, Ouro Verde de Goiás, Goianápolis, Campo Limpo de Goiás e Terezópolis de Goiás. Por isso, Marcos Antônio Correntino,  que é especialista em hidrologia e recursos hídricos, afirmou que é necessário monitorar a qualidade de toda a bacia hidrográfica.

“Não basta só monitorar o curso do Ribeirão João Leite, tem que monitorar todos os seus afluentes, ou seja, a sua bacia hidrográfica. Deve-se monitorar a sua quantidade, ou vazão, ou volume em vários pontos, desde a nascente até a sua foz com o Meia Ponte. Como também coletar amostras de água para analisar os parâmetros físicos, químicos e biológicos como o oxigênio dissolvido, acidez, ph da água, coliformes fecais, coliformes totais e metais pesados, entre outros”, afirmou.

A preservação dos recursos hídricos é um desafio para as grandes cidades por causa das várias fontes de poluição e degradação ambiental produzidas pela própria sociedade. No entanto, além dos múltiplos usos cotidianos, um curso d’água pode ser usado também para  despejo de esgotos, tratados ou não, produção de energia hidrelétrica e como insumo de produtos industriais em geral.

Reservatórios

Barragem João Leite
Paredão da barragem do Ribeirão João Leite. (Foto: Samuel Straioto)

O uso da água é automático no cotidiano. Basta abrir uma torneira para conseguir a quantidade de água desejada para o momento. Isso é possível por causa do processo de captação e transporte da água de um rio e do armazenamento em reservatórios. Além disso, ao longo de um curso d’água estão presentes atividades diversas como pecuária e a agricultura.

Mas antes de chegar na nossa torneira, esses usos influenciam a qualidade e a quantidade da água que é reservada numa barragem, visto que muitas atividades podem estar aliadas ao uso de agrotóxicos e à falta de conservação de solos. Correntino avaliou que é necessário monitorar, além da qualidade, a quantidade de sedimentos que entram no reservatório diariamente.

“Dependendo da quantidade de sedimentos a vida útil do reservatório vai ser reduzida. Então é um trabalho importante de observar, é preciso codificar a tonelada de sedimentos que entram por dia no reservatório. Com isso dá pra fazer o cálculo da sua verdadeira vida útil para abastecimento de Goiânia e Região Metropolitana”, afirmou.

O especialista em recursos hídricos frisou que monitorar a qualidade da água e os sedimentos do reservatório João Leite é muito importante, pois o ribeirão faz parte de uma bacia de captação para abastecimento público. E esse monitoramento reflete na qualidade da água que chega à população e na economia para tratar essa água. 

“Num reservatório para abastecimento que a água é poluída ou de má qualidade o custo com o tratamento dessa água pode ser 200 vezes mais do que em um reservatório com água de boa qualidade. Então se dá aí a importância de monitorar e sempre olhar não só a qualidade como também a quantidade de sedimento que está chegando no reservatório”, disse. 

Abastecimento público

Já sabemos que água é imprescindível para todas as atividades do homem e, por esse motivo, possui múltiplos usos. Por ser essencial a vida, o acesso a esse recurso natural é também considerado um direito fundamental de todos pela Organização das Nações Unidas. Porém, esse acesso deve ser de qualidade e na quantidade necessária, respeitando os usos prioritários.

A regulação dos recursos hídricos do Brasil é realizada de acordo com a Política Nacional de Recursos Hídricos. Marcos Antônio Correntino afirmou que a legislação prevê que a gestão dos recursos hídricos proporcione um uso múltiplo das águas. Sendo assim destinada para a geração de energia, irrigação, lazer, entre outras atividades. No entanto, o especialista destacou que reservatórios para abastecimento público devem ser usados para este único fim. 

No caso do João Leite, já houve uma proposta da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad) para liberar a barragem do reservatório para atividades de lazer.  Em entrevista à Sagres na época, a secretária da pasta Andrea Vulcanis avaliou que o ecossistema do reservatório já é protegido por dois parques estaduais que promovem a educação ambiental. Mas Correntino contestou a possibilidade de atividades recreativas no reservatório.

“Quando o reservatório é só para abastecimento, a experiência mostra que não se deve usar o mesmo para lazer. E atualmente há uma série de controvérsias sobre atividades recreativas na lâmina de água nas proximidades do reservatório de abastecimento”, explicou.

Leia mais: Lago do Ribeirão João Leite pode ser usado para atividades de lazer

Leia mais: MP-GO aponta ineficiência do Estado no possível uso recreativo do João Leite

Impactos

Bacia Hidrográfica do Ribeirão João Leite (Foto: Semad)

O Reservatório João Leite representa segurança hídrica para o abastecimento público, pois atualmente ele atende 70% da população de Goiânia, Aparecida, Trindade e Goianira e Senador Canedo. Entretanto, as estimativas apontam que essa segurança hídrica do sistema do João Leite pode atender até 3 milhões de pessoas somente até 2055. 

Se ultrapassar a capacidade dessa infraestrutura pode ser necessário a construção de um novo reservatório para abastecimento. Mas, embora a previsão seja pela capacidade da estrutura, outros problemas podem diminuir o tempo de vida útil do reservatório ao longo dos anos, como a irregularidade das chuvas e a contaminação do lençol freático.

“É preciso conservar as matas ciliares do João Leite e seus afluentes e fazer a disposição correta do lixo em todos os municípios. Porque se não fizer a disposição correta e deixar o lixo simplesmente na calçada, não colocá-lo num plano mais elevado, quando vem a chuva as enxurradas vão levar o lixo para os mananciais. E isso contamina os nossos cursos d’água”, explicou Correntino.

Repense: Uso consciente de água é vital em meio a previsão de seca intensa para 2023

Fonte hídrica

Todo curso d’água deságua no oceano e isso faz com que qualquer área com manancial contaminada afete outras fontes hídricas. Para que o Reservatório João Leite continue com água de qualidade é necessário que essa fonte chegue sem poluentes. 

A relação com a quantidade de água também está diretamente ligada aos demais municípios que compõem a bacia hidrográfica. O Ribeirão João Leite recebe água de 18 riachos e córregos próximos a sua região e, ao mesmo tempo, o ribeirão é um afluente muito importante do Rio Meia Ponte. 

Leia mais: A riqueza do Rio Meia Ponte para o desenvolvimento de Goiânia

Ernesto Augustus, ambientalista que integra os Guardiões do Meia Ponte, afirmou que o Ribeirão João Leite impacta positivamente o rio, auxiliando na recomposição da degradação ambiental e também com o menor uso do rio para o abastecimento. 

“O João Leite fornece água de qualidade muito superior ao rio Meia Ponte, o que o ajuda a diluir os lançamentos de esgoto, eleva a oxigenação do Meia Ponte e também traz microorganismos benéficos ao rio”, contou.

Porém, o ambientalista pontuou que esse ciclo natural do encontro de um curso d’água com outro passa pelo uso humano dessa água, muitas vezes sem a preocupação com os danos ambientais. “Existe um grande problema para o Meia Ponte, pois ele recebe as águas mais limpas do João Leite logo após um dos trechos com maior quantidade de esgoto despejado in natura no rio, que é a partir ali do Negrão de Lima. Então meio que anula”, explicou.

Leia mais: Agentes da Comurg retiram diariamente meia tonelada de resíduos de mananciais em Goiânia

Leia mais: Projeto recupera nascentes e aumenta produção de água

Água limpa

Água potável (Foto: Bio-Manguinhos/Fiocruz)
Água potável (Foto: Bio-Manguinhos/Fiocruz)

Quando olhamos para um copo com água percebemos que o líquido é transparente. E quando vemos alguma coloração já sabemos que há alguma substância diluída nela. Esse aspecto natural aos olhos já nos indica que aquela água não está limpa ou tratada, ou seja, potável. Sendo assim, uma água imprópria ao consumo humano.

O especialista em recursos hídricos Marcos Antônio Correntino explicou que é essa relação que devemos observar quando pensamos nos mananciais e, consequentemente, nos reservatórios para abastecimento público. 

“Temos que considerar que o reservatório João Leite é igual a caixa d’água da nossa casa. Então, na caixa d’água da nossa casa e do nosso prédio,não pode ter nada de sujeira e poluição”, disse.

Correntino ressaltou o que especialistas em áreas ambientais defendem constantemente em relação ao consumo sustentável dos recursos naturais do planeta. É importante investir na educação ambiental.

“É interessante fazer um programa de educação ambiental voltado para a proteção e conservação da bacia do João Leite envolvendo todos os municípios da bacia. Envolvendo também toda a população, estudantes, empresas e comércio, para que todos tenham consciência e sensibilizem para a importância dos recursos hídricos”, destacou. 

Leia mais: