A expectativa da área da Saúde é que nesta época, fim de dezembro e início de janeiro, os casos de Dengue fossem aumentar devido ao período chuvoso. No entanto, os casos de Influenza e Covid-19 são maioria entre os pacientes que buscam atendimento nas unidades de saúde de Goiás. Mas, apesar desse aumento do número de casos positivos, uma parcela significativa da população não apresenta complicações graves.

Em entrevista à Sagres, a médica infectologista Marina Roriz afirmou que são vários os vírus respiratórios em circulação neste período, e isso tem causado um aumento no número de atendimentos nos prontos-socorros goianos. “Esse quadro de mal-estar, febre, coriza e tosse podem ser ocasionado por diversos vírus, entre eles Sars-CoV 2, Influenza, vírus sincicial respiratório (VSR), adenovírus, rinovírus, são vários. A gente está vendo um grande aumento de positivados com Covid-19 e influenza, eles têm prevalecido pela nossa observação”, detalhou a médica.

Ouça a entrevista completa:

Dentre todos os vírus citados e a prevalência da Covid-19 e da Influenza, a infectologista também chamou atenção para o VSR, que causa leves quadros gripais em adultos, que não necessitam de internação, mas pode ser mais grave, principalmente, em recém-nascidos.

“Se a gente tivesse, proporcionalmente, o número de casos graves que a gente teve quando ocorreu a primeira onda [da pandemia], antes de todo mundo estar vacinado, provavelmente estaríamos vivendo um colapso maior”, declarou Marina.

A médica reforçou ainda que tem percebido que a variante Ômicron tem maior afinidade de infecção nas vias aéreas superiores, como a garganta, o que causa rouquidão e bastante dor, mas evolui com menor gravidade.

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Assista à entrevista no Sagres Sinal Aberto:

Confira a entrevista na íntegra:

Cileide Alves: O que está levando mais as pessoas aos hospitais?

Marina Roriz: Estamos classificando tudo como síndrome gripal. Então, é esse quadro de mal estar, febre, coriza, tosse, pode ser ocasionado por diversos vírus, entre eles Covid-19, Influenza, e nós temos também adenovírus, são vários. Todos eles estão levando as pessoas para o pronto-socorro. Estamos vendo um grande aumento no número de exames positivados de Covid-19 e também de Influenza. Os dois estão prevalecendo.

Cileide Alves: Os outros vírus que você citou são comuns?

Marina Roriz: Não, nenhum desses vírus é comum nessa época. Nessa época o que a gente geralmente espera é o aumento do número de casos de Dengue, mas este ano, como as pessoas acabaram ficando mais restritas em casa durante a temporada que esperamos que tenha os vírus, como houve baixa adesão à vacinação de Influenza, e também porque voltamos a ter uma maior circulação de pessoas… Então, tudo isso está colaborando para a gente ter um aumento de casos nesse momento, totalmente fora da sazonalidade que a gente espera.

Cileide Alves: Nesses casos, o paciente faz só exame de Covid-19 ou faz outros também? O que é o painel viral?

Marina Roriz: O painel viral é como se fosse um RT-PCR como a gente para Covid-19, só que fazemos para diversos vírus. O mais utilizado testa 18 vírus. Então, consegue dar um diagnóstico mais preciso de qual vírus está causando os sintomas. Como a gente tem um aumento de casos de Covid-19, geralmente a gente pede um teste de Covid-19 e, caso venha negativo, a gente solicita então o painel viral para identificar outro vírus que esteja infectando aquela pessoa. 

O painel viral não é coberto pelos planos de saúde, mas está disponível em algumas unidades hospitalares. Não é um teste que está disponível em larga escala para a população, mas a gente tem utilizado cada vez mais e estamos conseguindo definir exatamente quais os vírus que estão circulando.

No início, quando ele ainda não era tão utilizado, era um exame bastante caro. Agora o preço melhorou um pouco porque vários laboratórios começaram a fazer, então tem um pouco mais de concorrência, mas ele ainda tem um preço um pouco elevado. Acho que a grande maioria da população, talvez, não tenha acesso.

Cileide Alves: Com esses paineis virais, vocês estão conseguindo ter uma amostra dos vírus que estão circulando?

Marina Roriz: Sim, a gente sabe que há uma grande circulação da Covid-19, da Influenza A e também do vírus Sincicial Respiratório, que é um vírus menos falado, mas que está sendo bastante comum. 

Esse vírus provoca um quadro gripal também, um pouco mais leve. Mas pode ser mais grave em crianças, principalmente em recém-nascidos prematuros. Em UTI neo-natal a gente tem toda uma programação e precaução em relação a esse vírus. Mas para os adultos ele costuma causar quadro gripal leve.

Cileide Alves: A grande maioria desses pacientes é tratada em casa, nos hospitais? Qual a porcentagem dos casos que se agravam?

Marina Roriz: A gente tem visto que a maioria dos casos está sendo leve, no máximo moderado, a gente está tendo pouca internação, inclusive de UTI, ainda bem, porque se tivéssemos proporcionalmente o número de casos graves quando tivemos a primeira onda, antes da vacina, provavelmente estaríamos vivendo um colapso muito pior do que já vivemos. 

Cileide Alves: Quem tem a necessidade de internação, a grande maioria é por Covid ou a Influenza e outros vírus também têm causado essa necessidade?

Marina Roriz: A Influenza também tem levado para o hospital. Atualmente, eu tenho pacientes internados tanto com Influenza quanto com Covid-19. Tenho só um paciente com vírus Sincicial Respiratório. É importante lembrar que todos os vírus respiratórios podem ser transmissíveis e podem levar a quadros graves. A infecção é o resultado de uma interação do vírus, do agente com o hospedeiro, que é o paciente. Então, todas as pessoas podem ter quadros graves ou não. Então, a gente precisa fazer um acompanhamento desde o início dos sintomas por causa disso.

Cileide Alves: Durante o tratamento do paciente atualmente, dá para notar que o vírus é outro, devido às variações, se comparado como foi o tratamento no início da pandemia?

Marina Roriz: A variante aparentemente tem mesmo um quadro mais leve. A maioria dos casos a gente está tratando no pronto-socorro, no ambulatório, não precisam de internação. Os pacientes que vão para a internação têm uma evolução parecida com a variante anterior, mas a minoria dos pacientes precisa de internação e, principalmente, de UTI.

Cileide Alves: A gente ouve falar que a Ômicron provoca mais infecção nas vias respiratórias superiores, enquanto as variantes mais antigas atacavam o corpo como um todo, pulmão e outros órgãos. Como é isso?

Marina Roriz: É como se fosse uma afinidade da variante. A Ômicron, aparentemente, tem uma preferência pelas vias aéreas superiores, como a gente tem visto. Então, ela causa bastante dor de garganta, rouquidão, às vezes até uma dificuldade para engolir, por conta de tanta informação na garganta, mas causa menos acometimento no pulmão. Então, a maioria dos pacientes estão com tomografias normais, tem aquela porcentagem de acometimento como a gente via antes, mas não tem a necessidade de uso de oxigênio. Isso é um fator positivo por causa da sobrecarga do sistema de saúde. 

Cileide Alves: Um fator que causa confusão é a mudança dos prazos de isolamento. Qual é o padrão que você indica sobre quantos dias o paciente deve ficar em isolamento?

Marina Roriz: Na verdade, o CDC, que é uma instituição norte-americana, tinha reduzido o número de dias de isolamento, mas já voltou atrás. É importante falar isso. Ontem eles já soltaram um documento voltando atrás nessa recomendação e nós, infectologistas, que estamos na linha de frente continuamos – não mudamos – recomendando 7 dias para síndromes gripais, 10 dias quando tem confirmação de Covid-19. Esse é o isolamento que a gente considera mínimo, e estamos falando de pacientes com poucos sintomas ou assintomáticos. 

São 10 dias a partir do início dos sintomas. Quem não tem o dia do sintoma muito bem definido, é a partir do dia do exame. 

Cileide Alves: Tem muita gente que faz o exame depois dos 10 dias e ainda consta o vírus. Isso é normal?

Marina Roriz: É normal. O exame é muito sensível, ele é capaz de detectar uma quantidade muito pequena de material genético do vírus. Então, às vezes o vírus nem está viável, é como se fossem restos do vírus e, mesmo assim, o exame detecta. Por isso que a clínica é tão importante na hora de definir o isolamento. É claro que se essa pessoa for ter contato com uma população de imunodeprimidos, por exemplo, recém-nascidos, idosos, pacientes que estão em quimioterapia, essas pessoas têm que manter um tempo maior de isolamento. Mas no geral são 10 dias mesmo.

Cileide Alves: Todas essas doenças estão em uma sazonalidade. A duração também será sazonal? Ela tem prazo para diminuir o número de casos?

Marina Roriz: A gente não tem uma informação muito precisa. A gente tem percebido que tem sido rápido em outros países, tem sido um aumento muito elevado, mas rápido. Então, a gente espera que aqui também seja assim. A gente tem uma previsão de que a partir de fevereiro já estejamos em uma situação melhor. É claro que não temos uma confirmação disso, mas é uma expectativa.