A hipermedicalização no cuidado com a saúde mental é algo que preocupa pesquisadores que estudam o sofrimento psíquico. Thiago Marques Leão, pesquisador do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP afirmou que o tema possui complexidades sociais, mas defendeu a ressignificação do sofrimento psíquico para diminuir o uso de medicamentos.
“O mal-estar pode ser importante para que se perceba situações negativas e se repense escolhas para continuar caminhando. Então, geralmente o sofrimento é importante para não ficar estagnado e aceitar de forma passiva situações que são problemáticas”, explicou Leão.
Apesar dos relatos de ansiedade, dificuldades de dormir e comer, uma pesquisa do Datafolha mostrou que cerca de 70% dos brasileiros apontaram ter uma saúde mental boa ou ótima. O professor da USP contou que a presença de sintomas relacionados ao sono e a relação com comida não significa ter uma saúde mental ruim.
“As questões de saúde mental não são como a febre, que até 37,4ºC o paciente está bem e a partir de 37,5ºC tem febre, porque há algo efetivamente singular e que não pode ser reduzido a métricas frias”, destacou.
Saúde mental
Thiago Leão apontou que o cuidado com a saúde mental é medicalizado pela sociedade. O fato estaria ligado a busca por uma solução imediata para o mal-estar. No entanto, o professor pontuou que nem sempre o cuidado mental deve ser levado pelo viés clínico médico e respondido pela tecnologia farmacêutica.
Nesse sentido, o pesquisador aponta a ressignificação da saúde mental por meio de um conjunto de fatos sociais e das relações interpessoais. Vários aspectos da vida influenciam o bem-estar mental das pessoas, como o ideal de felicidade, trabalho e produtividade de cada pessoa em particular. Assim, Leão destacou a importância do equilíbrio entre o cuidado mental e a hipermedicalização do sofrimento psíquico.
“Sem dúvida é uma balança e um equilíbrio muito delicado que se tem entre os perigos de não conhecer a necessidade de buscar cuidado e o risco dessa hipermedicalização dos impasses sociais subjetivos”, disse.
Sofrimento psíquico
A percepção do sofrimento psíquico torna-se então uma via para o cuidado mental. Para Leão, é necessário entender o sofrimento psíquico como um fenômeno social.
“Sem essa percepção, não só se responde de forma inadequada, mas potencialmente piora os quadros psicopatológicos, porque reafirmamos a sobrecarga individual e os sentimentos de culpa”, alertou o pesquisador.
Hipermedicalização é diferente da necessidade de usar o medicamento. Leão afirmou que há casos em que “o sofrimento se torna insuportável e impacta negativamente a rotina das relações”. No entanto, quando há a hipermedicalização, tratar um paciente com medicamentos pode dificultar o processo de ressignificar a experiência.
O professor apontou formas de tratamento alternativas à medicação, dentre elas estão meditações, arte e clínica psicológica e psicanalítica.
*Com informações do Jornal da USP
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