No último sábado (16), o Rio de Janeiro enfrentou uma temperatura recorde, atingindo uma sensação térmica de 60,1ºC, conforme reportado pelo sistema Alerta Rio, órgão da prefeitura. Apesar de o verão ser conhecido por seu calor intenso, esse evento foi excepcional.
A onda de calor que assola principalmente o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país está elevando as temperaturas em até 5°C acima da média para esta época do ano. Esta condição climática desencadeou consequências alarmantes, resultando em um aumento significativo no risco de mortalidade no Brasil, conforme revelado por um estudo conduzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Entre os anos de 2000 e 2018, o calor contribuiu para a ocorrência de 48.075 óbitos no país, principalmente relacionados a doenças crônicas, como doenças circulatórias, respiratórias e câncer.
Além disso, pesquisas realizadas pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da UFRJ, publicadas na revista científica Plos One, destacam que essas ondas de calor estão exacerbando as desigualdades socioeconômicas no Brasil, afetando desproporcionalmente mulheres, idosos, pessoas negras, pardas ou com níveis educacionais mais baixos.
“Esse resultado traz a importância de que, no contexto das mudanças climáticas, a gente fale sobre racismo ambiental e justiça ambiental”, diz Djacinto Monteiro, um dos pesquisadores do estudo e integrante do laboratório.
Ao analisar as taxas de mortalidade durante as ondas de calor nas 14 principais áreas urbanas do Brasil, que representam mais de um terço da população nacional, os pesquisadores observaram um aumento significativo na frequência desses eventos. Enquanto nas décadas anteriores havia no máximo três ondas de calor por ano, na década de 2010 esse número aumentou para até 11 episódios anuais.
A situação tende a se agravar, como evidenciado por uma onda de calor em pleno inverno de 2023, tornando o ano o mais quente da história, de acordo com a agência climática europeia Copernicus. Janeiro de 2024 registrou o mês mais quente já registrado, seguido por uma terceira onda de calor no Brasil desde o início do ano.
Estudos adicionais realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam um aumento de até 3°C nas temperaturas máximas diárias em algumas regiões do Brasil. O aquecimento global, em conjunto com fenômenos climáticos como o El Niño, é apontado como um dos principais impulsionadores desses eventos extremos.
De acordo com a World Weather Attribution (WWA), é pelo menos 100 vezes mais provável que a mudança climática induzida pelo homem seja a principal causa do calor na América do Sul entre agosto e setembro de 2023. Alertas dos cientistas destacam que, se as emissões de gases de efeito estufa não forem drasticamente reduzidas, as mortes relacionadas ao calor podem aumentar em até 370% em todo o mundo.
“Muitos estudos têm mostrado que o principal responsável por esse aumento é, de fato, a mudança climática induzida pela ação humana e que está associado principalmente com a queima de combustíveis fósseis para geração de energia, para o setor de transporte e também com as emissões do desmatamento”, completou o pesquisador Monteiro.
A inação diante do aquecimento global representa um risco significativo para a saúde pública. No entanto, há esperança se medidas urgentes forem tomadas, incluindo a rápida eliminação dos combustíveis fósseis, a intensificação dos esforços de mitigação e o apoio às adaptações para a saúde.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática.
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