Embora 2022 tenha registrado queda no analfabetismo entre pessoas de 15 anos ou mais, ou seja, jovens, o índice entre idosos, pretos, pardos e nordestinos ainda é alto. É o que apontam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). A pesquisa foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de junho.

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Segundo o levantamento, a taxa de analfabetismo caiu de 6,1% em 2019 para 5,6% em 2022. Isso corresponde a uma redução de 0,5 ponto porcentual dessa taxa no País, ou seja, cerca de 490 mil analfabetos a menos. No entanto, os dados também mostraram que mais da metade das pessoas que não sabiam ler e escrever tinham 60 anos ou mais.

Já a taxa de analfabetismo de pretos e pardos é duas vezes maior do que a dos brancos. Ao analisar as regiões do País, o Nordeste tinha a taxa mais alta, de 11,7%, e o Sudeste, a mais baixa, de 2,9%.

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Essa realidade impacta o Plano Nacional de Educação (PNE), que pretende erradicar o analfabetismo até 2024. Desde 2014, o PNE possui metas e estratégias para a política educacional que deveriam ser cumpridas até 2024. A Meta 9 diz que o objetivo é elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015. Ademais, até o final do PNE, pretende-se erradicar o analfabetismo absoluto, que compreende a incapacidade de ler e escrever, e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional, que é a inaptidão para compreender textos simples. 

Analfabetismo: idosos estão entre os que mais sofrem com falta de alfabetização (Foto: TV Brasil)

Atraso

Entretanto, para a professora Soraya Pacífico, do curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, erradicar o analfabetismo não é uma questão exata. Segundo ela, fatores históricos e o modo que a alfabetização, letramento, leitura e escrita são concebidos no Brasil precisam ser considerados. 

Em 1947, o então Ministério da Educação e Saúde promoveu a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA). Tratava-se da primeira iniciativa governamental para a educação de jovens e adultos com caráter de uma campanha massiva de alfabetização. Conforme Soraya, basta ter uma visão histórica para entender que essa questão não é simples, pois esse marco deveria ter acontecido há muito tempo. 

“Estamos no século 19 e ainda temos esse problema. É uma tragédia, uma vergonha para um país em um mundo de tecnologia digital, com tantos avanços científicos e tecnológicos, aceitar que ainda existem pessoas que não sabem ler e escrever. Acreditar que o analfabetismo pode acabar em um ano é impossível”, declara a professora em entrevista ao Jornal da USP

Soraya pontua que os maiores desafios relacionados ao combate do analfabetismo estão mais ligados a questões sociais, políticas e ideológicas do que a metodológicas e pedagógicas. “Pensar em alfabetização e letramento não significa pensar somente na aquisição de um código escrito, no sentido restrito de alfabetização, como a aquisição de um alfabeto ou a aprendizagem de um sistema linguístico, mas, sim, garantir que quem esteja aprendendo a ler e escrever realmente possa fazer uso da leitura e da escrita em suas práticas sociais”, explica.

EJA

O professor José Marcelino de Rezende Pinto, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e especialista em políticas educacionais, acrescenta que a meta do PNE é de que pelo menos 25% das matrículas sejam na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Contudo, o Brasil só possui 2,5%, ou seja, um décimo da meta. 

“Alfabetizar é algo que tem que estar ligado com a vida, tem que fazer sentido, por isso é que no PNE tem a meta que os programas de EJA estejam vinculados com a educação profissional”, declara o professor, também em entrevista ao Jornal da USP

Rezende Pinto ressalta ainda a queda maior na taxa do analfabetismo entre os idosos. No entanto, trata-se de um dos grupos que mais sofrem com essa defasagem. Infelizmente, o que explica isso não é uma boa notícia. Segundo o professor, isso ocorre pois os mais velhos vão morrendo e os que ainda não eram idosos e tiveram mais acesso à escolaridade atingem a idade com vantagens. “Isso ajuda a melhorar as estatísticas, mas não porque os programas de alfabetização com os mais velhos estão funcionando, mas simplesmente porque eles morrem”, pontua. 

Com informações do Jornal da USP

Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 04

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