Qual a relação entre arte e fé? O que essas duas coisas têm em comum? Para Rachel Lobo, porém, ambas estão interligadas. Ela conta que há 20 anos, após uma pausa, resolveu voltar a trabalhar com esculturas de argila, e descobriu a paixão pelas imagens sacras.

“Foi quando o professor me disse ‘o que você quer fazer?’, e eu falei ‘não quero fazer pote’. E ele disse ‘então vamos fazer um São Francisco’. E assim eu fiz. O primeiro São Francisco, por incrível que pareça, fiz com as feições do meu filho”, relata.

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Cada escultura de São Francisco é única, e representa a interação da artista com o divino. Emocionada, Rachel relembra essa conexão a partir de um acidente que sofreu recentemente. À época, ela chegou a ir para a UTI. Como se isso não bastasse, ainda descobriu que estava com Covid-19.

“Foi lá que tive uma conversa com o Espírito Santo. Eu disse a Ele ‘ou você me tira daqui ou eu vou embora’. No outro dia, tive alta. Porém, ainda peguei Covid, e fui para um quarto separado”, recorda.

Estimular pensamentos e sensações nas pessoas, causa a reflexão. Seja por meio de telas ou imagens, é possível entender como a arte busca inspirar, demonstrar vivências e diferentes formas de fé.

Além do São Francisco, a escultura de Nossa Senhora do Leite está entre as favoritas de Rachel. “É aquela que o Papa Francisco pediu para que prestássemos mais atenção à ela. É um apoio à mãe solteira, ou seja, do corpo dela ela alimenta o filhinho”, afirma.

A também artista e amiga de Rachel, Cláudia Gianotti, preferiu seguir um rumo diferente. Filha de pintor e escultor, ela retrata as vivências, o abstrato, as cores em diversas telas.

“Ele me incentivava muito. Perto do cemitério tinha a maçonaria. Lá, meu pai fez obras como o pelicano, o Nasser Gabriel. Eu ficava encantada com as obras dele”, conta.

Fé e Cores

Nesse sentido, Rachel e Cláudia realizaram em agosto e setembro deste ano a exposição gratuita Fé e Cores, no Museu Frei Confaloni, em Goiânia. Pintor, muralista, desenhista e professor, o religioso italiano foi uma das principais referências da arte no estado.

Além disso, a exposição foi inspiração para o jovem Henrique Oliveira. O goiano, que voltou recentemente da Irlanda, onde morava, luta contra uma doença grave. Contudo, ele encontrou nas obras da Rachel e da Cláudia um momento de paz e reflexão.

Henrique Oliveira contempla uma das telas da artista Cláudia Gianotti (Foto: Sagres TV)

“A arte te inspira de um jeito que eu nem sei explicar. Ela me deixa um pouco mais em paz, é um jeito de passar o tempo, entreter, ser mais suave”, afirma o jovem.

Suavidade que é possível encontrar no sentimento de cura da Rachel, que vive da arte e que celebra a vida por meio da fé. “As pessoas precisam cada vez mais de fé. Estamos em um mundo em que as pessoas não têm respeito nem carinho. Eu falo, com toda a franqueza, foi a fé que me tirou da UTI. Muito obrigada”, conclui, emocionada.

Capital da fé

Goiás, aliás, possui um lugar que respira arte e religião profundamente. Trindade, localizada no coração do Brasil, é, sem dúvidas, um dos símbolos desta forte relação entre fé e arte. Prova disso são os 14 painéis que ficam na Rodovia dos Romeiros, a GO-060. Eles representam a Via Sacra, o caminho feito por Jesus Cristo, e são porta de entrada para a cidade da fé.

Divididos em sete estações, os painéis do artista plástico goiano Omar Souto ilustram a Paixão, morte e ressurreição de Cristo ao longo de quase 20 quilômetros da rodovia.

Um dos painéis de Omar Souto na Rodovia dos Romeiros (Foto: Sagres TV)

O superintendente municipal de Cultura de Trindade, Amarildo Jacinto, é fundador do Grupo de Teatro Desencanto, que realiza o espetáculo Vida, Paixão e Morte de Jesus.

“É o único espetáculo no mundo feito em uma rodovia, e o único ao ar livre, de forma extremamente democrática, em que o cidadão participa da forma que quiser. Seja entrando no espetáculo, assistindo. Temos passagem livre para que a nossa comunidade possa ver, presenciar e entender melhor o que foi a grande via crúcis de Jesus”, afirma.

O superintendente de Cultura de Trindade, Amarildo Jacinto (Foto: Sagres TV)

Mais um exemplo dessa relação entre fé e arte é a Festa do Divino Pai Eterno, que acontece todos os anos. Trata-se da segunda maior peregrinação do Brasil, e que celebra a Santíssima Trindade.

A devoção começou através de um medalhão encontrado por um casal de agricultores da região, por volta de 1840. “Esse medalhão foi transformado em uma bela imagem da Santíssima Trindade pelo artista plástico Veiga Valle. Então essa relação entre fé, arte, religiosidade e cultura em Trindade é muito forte e está presente na vida de todo cidadão trindadense”, destaca o superintendente.

Amarildo é natural de Unaí, no Noroeste do estado, a 360 quilômetros de Goiânia. Ele conta, no entanto, que foi exatamente a fé que o levou a escolher Trindade como a sua nova morada. “Eu vim pagar uma promessa, e essa promessa me fez ficar aqui. Eu me emocionei muito, era uma situação extremamente complexa. Aqui eu finquei as minhas raízes”, conclui Amarildo.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 03 – Saúde e Bem Estar

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