Quando o Mané de Oliveira assumiu a direção da equipe de Esporte da Rádio Difusora, fui o primeiro contratado dele. O Mané gostava da forma como trabalhava. Achava que havia identificação com o que ele fazia como repórter, com o estilo dele quando era repórter. Benevolência do Mané: jamais daria conta de ser o repórter que ele foi.

Logo veio a Copa São Paulo de Juniores. O Atlético representou o Estado na competição. Como repórter que cobria o Clube fui escalado para viajar para cobrir o torneio.
Eu e o narrador Romes Xavier. Por falta de comentarista comentei os dois jogos do Atlético e gravei um comentário sobre a desclassificação do time goiano na Copinha.

Quando voltei, o Mané me chamou para uma reunião com portas fechadas e me disse que gostaria que eu deixasse a reportagem e passasse para a condição de comentarista, pois os comentários em São Paulo haviam demonstrado conhecimento e competência para a função. Manifestei minha alegria com o reconhecimento, mas expliquei que estava imaturo para o desafio e por ter o verbo muito duro, seria melhor esperar. Contrariado, o Mané entendeu.

Quando o José Carlos Rangel me disse que eu passaria a acumular a função de comentarista diário, com a de repórter, me disse ao mesmo tempo, que não tinha como abrir mão desta iniciativa. Trabalhávamos na TV Serra Dourada. O José Carlos Rangel é um coração desmedido em bondade… é um grande amigo. Tão grande que propôs dividir comigo o comentário que ele fazia ao final de cada programa Tele Esportes, sessão chamado de Jogo Limpo.

Aliás toda equipe do Tele Esportes, da TV Serra Dourada, era amiga sincera. Sem saída, aceitei. Fomos brindados com o recorde de audiência de um programa produzido pela Televisão Goiana, 75 pontos, até hoje não batidos.

Logo após o anúncio do José Carlos Rangel, fui visitar o Mané de Oliveira, para colher instruções para o novo desafio. Como sempre foi solícito. Me disse que estava começando a carreira de comentarista com três anos de atraso. Me orientou para nunca abrir mão da imparcialidade, de expor com palavras claras e objetivas minhas verdades e não compactuasse com o erro – nem dos alvos dos meus comentários e nem de quem estivesse presente em debates comigo.

Entendia que eu era estudioso e me orientou para que continuasse sendo. Lembrou que receberia oposição de todos os lados, inclusive de colegas, mas que não aceitasse a pressão para mudar o ponto de vista em minhas convicções desde que estas estivessem embasadas na verdade e na imparcialidade.

Ao final da nossa conversa disse que um bom comentarista não foge da responsabilidade de elogiar quem merece e de criticar quem quer que seja, quando estiver defendendo o erro ou errando.

Agradeci o Mané e saí da visita com aqueles conselhos na cabeça. Como foi ele o primeiro a querer me transformar em comentarista, fui nele para ser orientado. Foi muito proveitoso.

Isto custa caro. Dez elogios, não impedem a mágoa de uma crítica contundente, principalmente quando o criticado não tem outra opção que não seja apelar para as justificativas, por falta de razão.

Posso afirmar com experiência de 24 anos como comentarista que a missão não é fácil. É muito mais agradável elogiar, mas a consciência de quem sabe que ganha para analisar não deixa o profissional comprometido fugir da responsabilidade da crítica com base na verdade.

Internamente não gosto de ter de falar de erros gritantes de arbitragem, várias vezes repetidos. No jogo Vila Nova e Goiás ocorreu um erro do árbitro FIFA, Wilton Pereira Sampaio e do árbitro auxiliar Cristian Passos. Ambos experientes e conceituados entre os melhores do estado, aliás, o Wilton está entre os melhores árbitros brasileiros.

O Wilton marcou um pênalti, numa falta, do zagueiro Fábio Sanches do Goiás, no atacante Pedro Júnior do Vila Nova, que ocorreu fora da área como se tivesse ocorrido dentro e o Cristian Passos confirmou a marcação do penal. A falta foi muito próxima a linha, justamente onde a linha da meia-lua da grande área se encontra com a da grande área.

Foram dois erros. Ao assinalar o pênalti, o árbitro deixou de expulsar o zagueiro do Goiás, isto a três minutos do segundo tempo, ou seja, o Vila Nova cobraria uma falta com muita chance de fazer o gol e ainda jogaria 47 minutos com um jogador a mais (já que os acréscimos levaram o jogo até os 50 minutos). A marcação do pênalti impede a expulsão do jogador para não haver punição dupla para a equipe que cometeu a infração.

Acho erro gritante a marcação de pênalti que não foi ou deixar de marcar pênalti que foi. No jogo Grêmio Anápolis e Atlético ocorreu um lance semelhante. Caía uma chuva impiedosa no Estádio Jonas Duarte e o árbitro Rubens Paulo sinalizou uma falta ocorrida dentro da área, como fora. A chuva diminuía a visibilidade da linha e a posição do árbitro não favorecia a convicção de onde a falta realmente ocorreu. Mesmo as cenas mostrando que as pernas se encontraram no lado de dentro da linha da grande área, ainda teve quem foi contra a imagem. Entendi o erro como grave, mas justificável, pela falta de visibilidade da linha.

No caso do erro do Wilton e do Cristian Passos também entendo como erro grave, mas aceitável. Foi muito próximo à linha e a acuidade visual não permitia o discernimento.
Entrevistado pelo excelente Wendell Pasquetto, o diretor do Departamento de Árbitros da FGF, o sempre educado coronel Júlio César Mota, reconheceu o erro do Wilton, mas considerou o erro como eu, aceitável.

Na mesma entrevista o repórter, com todo o profissionalismo que marca sua conduta, volta ao assunto dos erros da arbitragem desastrosa de Eduardo Tomaz no primeiro jogo entre Goiás e Vila Nova, quando um pênalti claro não foi marcado a favor do Vila Nova.

Junto com o erro gritante do árbitro, Eduardo Tomaz ainda foi denunciado pelos jogadores Pedro Bambu e Alan Mineiro de agressões e coações verbais contra eles.

Por que Wendell Pasquetto voltou ao assunto com o coronel Mota neste tema? Porque antes do jogo de domingo (11) o goleiro Georgemy voltou a tocar neste assunto que é muito sério: um árbitro utilizando da prerrogativa de autoridade para agredir um atleta não é admissível… dois então!!!

Após o jogo, o educado coronel Júlio César Mota já havia tido a coragem de classificar a desastrosa arbitragem de Eduardo Tomaz como merecedora de nota 10. Nesta nova abordagem o comandante do Departamento de Árbitros voltou a falar palavras incoerentes. O repórter lembrou a ele que o goleiro do Vila Nova afirmou que viu Eduardo Tomaz agredindo e coagindo os dois jogadores vilanovenses. Júlio Cesar Mota sugeriu que os três jogadores do Vila Nova estão mentindo e os chamou de covardes.

Nunca conversei com o Alan Mineiro, sobre quem ouço que se trata de um homem de caráter e pai de família exemplar. Também não conheço o goleiro Georgemy e procurei saber sobre seu caráter, antes de escrever este comentário. Também ouvi elogios sobre seu caráter.

Júlio César Mota ainda disse que clubes não vetam escalações de árbitros por erros em Goiás, porque ele jamais pede para que os clubes não escalem este ou aquele jogador. Quanta diferença. A escalação de um jogador não atrapalha em nada o trabalho no Departamento de Árbitros, mas a atuação desastrosa de um árbitro estraga todo trabalho de um clube.

Quando sugeriu que os três jogadores do Vila Nova mentiram e os chamou de covardes, o coronel foi corporativista. Como disse, não conheço dois dos atletas envolvidos nas denúncias contra o comportamento do árbitro, mas conheço o Pedro Bambu e posso afirmar que este não mente. Este eu atesto que não é e jamais foi covarde.

O coronel Júlio César Mota está há muito tempo comandando a arbitragem goiana. Isto é prejudicial. Em todas as funções públicas é preciso haver renovações. Só se muda uma realidade se mudarem os personagens. A arbitragem goiana precisa de mudanças. Chamar os jogadores vilanovenses de covardes foi demais. Inadmissível.