Desde que se habituou a estar na elite do futebol brasileiro, a partir da década de 1970, o Goiás nunca passou tanto tempo na segunda divisão nacional quanto nos anos 2010. Foram cinco anos divididos em dois períodos, o último um recorde negativo para o clube esmeraldino, que após três temporadas voltou para a Série A. Um retorno aliviador para a equipe, que busca uma nova estabilidade na primeira divisão.

Se 2019 foi um ano para recuperar experiência na elite, 2020 será de desafio para consolidar o trabalho e alçar voos maiores. Esta é a expectativa da direção alviverde, que não cogita pensar em luta contra o rebaixamento e quer superar o resultado da temporada passada, quando terminou na 10ª posição da Série A e conquistou uma vaga na Copa Sul-Americana. Por outro lado, também existe cautela no grupo.

Em quatro décadas de Campeonato Brasileiro, os visitantes acostumaram a viajar para Goiânia para enfrentar o Goiás no estádio Serra Dourada. Nesta temporada, contudo, os esmeraldinos terão sua verdadeira casa à disposição. Na Serrinha, terreno que pertence ao clube desde os anos 1960, o estádio Hailé Pinheiro foi construído em 1995. 25 anos depois, receberá o seu primeiro Brasileirão, com um jogo de estreia especial.

Calendário nacional do Goiás na temporada de 2020; datas e horários confirmados até a 10ª rodada (Foto: Sagres Online)
Contratações no início da temporada

Para 2020, a direção do Goiás optou por não renovar com alguns jogadores que participaram da campanha da temporada passada, dois deles titulares e importantes no sistema do treinador Ney Franco: enquanto o volante Yago Felipe se mudou para o Fluminense, o atacante uruguaio Leandro Barcia assinou com o Sport. Ambos serão adversários na Série A, assim como Michael, vendido para o Flamengo em um grande negócio para os esmeraldinos.

Seguindo a política de valorizar jogadores criados nas categorias de base do clube, o Goiás, além de ter mantido o volante Breno e o atacante Vinícius Lopes, que já participaram do Brasileirão em 2019, também foram integrados o zagueiro Heron e o meia Miguel Figueira. Enquanto o volante Ratinho retornou de empréstimo da Coreia do Sul, o atacante Marcinho, que estava no Sport, também voltou a fazer parte do grupo.

Diante de opções limitadas no mercado nacional, a direção esmeraldina virou suas atenções para outros países. Da América do Sul, chegaram o lateral-direito uruguaio Juan Pintado, o meia-atacante chileno Ignacio Jara, o atacante argentino Keko Villalva, este por último no México, e o atacante peruano Kevin Quevedo. Da Europa, foram repatriados o lateral-esquerdo Caju, de Portugal, o volante Sandro e o meia Daniel Bessa, da Itália. O segundo, emprestado pelo Verona, nunca tinha jogado profissionalmente no Brasil.

Além dos sete “estrangeiros”, o Goiás também buscou o velho conhecido Lucão, artilheiro do time que conquistou o acesso para a elite em 2018 e que estava no Fluminense. O atacante Mike, protagonista na promoção do Atlético Goianiense em 2019, também não foi um nome estranho, assim como o zagueiro Luiz Gustavo e os atacantes Victor Andrade e Henrique Almeida, já treinados por Ney Franco. A outra novidade foi o lateral-direito Vidal. Ao todo, foram 13 contratações.

Desempenho antes da pandemia

Para o primeiro semestre deste ano, a grande expectativa era a volta para uma competição internacional, a Copa Sul-Americana. Missão que, contudo, falhou. Eliminado logo na primeira fase do torneio, a equipe de Ney Franco caiu para o Sol de América, do Paraguai, com duas derrotas por 1 a 0. Porém, teve na Copa do Brasil a oportunidade de se recuperar: depois de passar por Fast-AM e Santo André-SP, bateu o Vasco da Gama por 1 a 0 no primeiro jogo da terceira fase e aguarda o retorno em Goiânia.

Já no Campeonato Goiano, o Goiás sofreu sua terceira derrota da temporada para o rival Atlético Goianiense, por 3 a 0. Também não teve sucesso contra o seu outro adversário local, o Vila Nova, com quem empatou em duas oportunidades. Com maior foco em outras competições, a equipe chegou até a 10ª rodada do estadual com cinco vitórias, quatro empates e uma derrota, com 15 gols marcados e 10 gols sofridos, na 3ª posição, com 19 pontos.

Como foi a quarentena

Antes de entrar em isolamento, o time esmeraldino vinha em crescimento na temporada. Em março, venceu quatro de cinco jogos, o último contra a Aparecidense, em 15 de março. As atividades na Serrinha e no CT Edmo Pinheiro foram suspensas dois dias depois. Após um período de indefinição, a direção seguiu as orientações e adiantou o período de férias dos atletas, que voltaram a trabalhar com treinos físicos em home office em abril.

Enquanto Atlético Goianiense e Vila Nova se movimentaram nos bastidores para garantir o retorno dos treinamentos presenciais, o Goiás manteve uma posição neutra, porém retornou assim que teve a autorização do poder público municipal. Depois dos primeiros testes da covid-19 – já foram realizadas nove baterias de exames -, o grupo voltou a trabalhar na estrutura do clube em 5 de junho. Com a nova proibição do governo estadual, realizou treinos em Trindade e Aparecida de Goiânia antes de retornar para Goiânia.

Contratações na volta do futebol

Durante toda a preparação para o Campeonato Brasileiro, a direção esmeraldina adotou uma postura cautelosa sobre reforços. O motivo se deu pelas tratativas para a redução salarial dos seus funcionários durante o período de inatividade. Situação que mudou na reta final, com a admissão da possibilidade de voltar a contratar, com atenção especial para o meio-campo.

Depois da venda do volante Léo Sena, Ney Franco destacou que tinha alternativas para substituir seu ex-titular, porém frisou a necessidade de reforços. Além de buscar uma nova opção para a função de segundo volante, a direção mira ainda outro jogador para o setor, este mais ofensivo. Para o ataque, nessa semana chegou Douglas Baggio, que estava no Santo André, onde disputou o Campeonato Paulista.

Preparação para o Campeonato Brasileiro

Depois das tentativas frustradas de um torneio amistoso em Brasília com adversários da Série A, o Goiás realizou jogos-treinos com equipes de estados vizinhos como teste preparatório para o seu time e também o estádio Hailé Pinheiro. Em 18 de julho, venceu o Capital-DF por 1 a 0. Também do Distrito Federal veio o segundo adversário, que goleou por 5 a 1: o Brasiliense, no dia 25. Contra o Cuiabá, a derrota por 2 a 0, no dia 1º de agosto, assustou.

Time para a Série A

Tadeu; Juan Pintado, Fábio Sanches, Rafael Vaz e Jefferson; Sandro, Ratinho e Daniel Bessa; Victor Andrade, Rafael Moura e Keko Villalva

Nos jogos-treinos, Ney Franco manteve a mesma base da equipe que já era considerada titular no primeiro semestre. Enquanto não pode contar com Caju na lateral esquerda na reta final da preparação, no último teste conseguiu ter os retornos de Daniel Bessa e Victor Andrade. Na função de Léo Sena, o teste com Gilberto Júnior como primeiro volante e Sandro adiantado não agradou, enquanto Ratinho deu boa resposta.

Se Pintado ainda não convenceu na lateral direita, Yago Rocha e Vidal são alternativas que mantêm as características, porém o zagueiro Luiz Gustavo foi testado como uma solução diferente. David Duarte, já disponível depois de longa recuperação, também busca seu lugar no time e pode ser uma nova possibilidade a ser testada por Ney Franco, que, na espera por um novo meia-atacante, também já usou Keko no meio.

Treinador do time

Em sua segunda passagem pelo Goiás, Ney Franco teve o mérito de conduzir o time para o acesso em 2018 e a temporada de recuperação em 2019, quando assumiu com a equipe na zona de rebaixamento, na 14ª rodada. Após uma arrancada de vitórias entre setembro e outubro mudou o foco do clube, finalizou o ano na 10ª posição e classificado para a Copa Sul-Americana. A missão, agora, será melhorar esse resultado.

Taticamente, seu objetivo é “ter uma equipe forte defensivamente e com força para chegar no ataque. O campeonato tem um grau de dificuldade enorme e temos que nos preocupar com a armação da nossa equipe para os confrontos fora de casa também. Estamos tentando criar uma forma de jogar para ser aplicada tanto nos jogos dentro de casa, como fora de casa para que possamos ter um bom desempenho no Campeonato Brasileiro”.

Presidente do clube

Há muitos anos no clube, Marcelo Almeida saiu da área médica para a presidência do Goiás, cargo que ocupa desde 2017. Depois de um semestre como interino, foi eleito presidente para o triênio 2018-2020. O seu mandato, inclusive, encerra no no final do ano, ainda com o Brasileirão na metade. Sem a possibilidade o interesse por um novo período no comando executivo, sua substituição será um grande desafio.

Sobre a meta que planeja para esta temporada, Marcelo afirmou que “não podemos de fato abraçar uma ideia que o objetivo nosso é ser campeão do Brasil. Em um momento como esse e, aliás, em vários momentos anteriormente, ser campeão brasileiro em um campeonato tão disputado, talvez um dos maiores do mundo, onde existem times de qualidade internacional, é muita pretensão falarmos que queremos ser campeões. Apesar de esse ano é diferente, um ano de exceção e de se buscar coisas diferentes”.

“Todo mundo fala que o Goiás lutará para não cair, mas discordo frontalmente disso e essa linguagem não existe dentro do clube. No ano passado, mais uma vez estávamos desacreditados e beliscamos uma 10ª colocação. Se ‘papai’ do céu atendesse um pedido meu, ficaria muito satisfeito de conseguirmos uma coisa melhor do que no ano passado. Ficamos em 10º, se ficasse em 9º este ano já estava de bom tamanho para mim. Agora, qual o grande feito e conquista? Beliscar uma vaga na Libertadores. Se isso acontecesse de fato, o meu sonho estaria realizado”, completou o presidente esmeraldino.

Expectativa para a temporada

Já na visão dos comentaristas da Sagres, a posição da equipe esmeraldina é outra. Para Evandro Gomes, “não sei se o Goiás terminará o campeonato com o time atual. Evidentemente que não, porque se assim o fizer correrá um sério risco de ser rebaixado. O Goiás costuma surpreender, e normalmente surpreende quando menos se espera, mas não é bom se escorar nessa possibilidade, porque uma hora não dá certo e o time acaba caindo, como ficou da última vez três anos na Série B, o que é um duro castigo para um time que é de Série A desde 1973”.

“Do time atual, não espero muita coisa. A única contratação, Douglas Baggio. O primeiro jogo será importantíssimo para dar uma ideia do que será o time na sequência do campeonato. Uma vitória, o que seria uma surpresa para muita gente, pelo time que tem o São Paulo, poderia elevar o moral desses jogadores a conquistarem outras grandes vitórias. Não há jogo fácil nessa competição, mas acredito que o Goiás também não seja o pior time e está no nível de várias equipes. Mas o Goiás tem que se reforçar sob pena de passar um ano muito difícil”, finalizou Evandro.

José Carlos Lopes também ressaltou que “o Goiás ainda é carente em muitas posições” e espera que, “ao longo da competição, que é extensa, se reforce e consiga realmente terminar com um time bom. Começa sob forte desconfiança, como também começou no ano passado: era um time com muitas dúvidas e acabou fazendo um campeonato tranquilo, apesar das goleadas que sofreu”.

“Este ano, o Goiás tem de novo esse desafio, da superação, da garra e da entrega para lutar com um objetivo inicialmente curto: a permanência na Série A. Espero que a diretoria consiga buscar mais reforços para o time, que inicialmente vai pelo conjunto, com alguns jogadores que já disputaram uma Série A e têm experiência, alguns que se deram bem no campeonato do ano passado e que podem repetir, e muitos que estão sendo cobrados. O Goiás, para mim, é uma esperança”, finalizou Lopes..

Por sua vez, Téo José destacou que “esse é um ano diferente para muitas equipes e aquelas que tiveram mais responsabilidade podem sofrer um pouco mais. O que chamo de ‘mais responsabilidade’? Aquelas que olharam o lado financeiro, que sabem que não vão faturar o que faturariam em um ano normal e fizeram poucos investimentos. Esse foi o Goiás, e concordo. Primeiro, você tem que pensar em pagar as suas contas para depois ir ao mercado. Sei que, na parte administrativa-financeira, o Goiás ainda tem muita gordura, e precisaria cortá-la, mas isso é outra história”.

“Nunca gostei desse negócio de ‘entrar para se manter na Série A’, sempre pensei em buscar coisas maiores, mas neste ano estou com esse pensamento. As contratações têm que ser pontuais e certeiras. Sei que não há essa história de 100% sem erro, mas tem que partir para isso. Por exemplo, o Douglas Baggio não: não é que está arriscando, você está correndo um risco monstruoso”, ressaltou Téo. Por isso, a responsabilidade é da comissão técnica, porque “o time que o Goiás tem hoje, que não é de muita qualidade, com um bom trabalho tem condições de permanecer na Série A. O que espero é isso”.

Histórico no Campeonato Brasileiro da Série A

Considerando a presença na Taça Brasil de 1967, que posteriormente foi reconhecida como parte do Campeonato Brasileiro pela CBF, esta será a 41ª temporada do Goiás na primeira divisão nacional. Apesar de 67, é o torneio de 1973 que está guardado na mente dos esmeraldinos como a estreia no Brasileirão. Na ocasião, o time de Paulo Gonçalves desafiou o Santos de Pelé e chegou até a segunda fase com os gols de Lincoln e jogadores históricos como Amauri, Triel, Macalé, Matinha, Tuíra, Paghetti e Raimundinho.

Ainda sob o comando de Paulo Gonçalves, mas com uma nova geração, o Goiás superou todas as suas campanhas anteriores com o quinto melhor retrospecto do Campeonato Brasileiro de 1983. Eliminado nas quartas de final pelo Santos depois de um placar agregado de 2 a 2, caiu pelo time paulista ter tido melhor campanha. Liderado por Luvanor, a equipe contava ainda com Edson, Zé Teodoro, Carlos Alberto Santos, Cacau e Dadá Maravilha.

Por falar em ‘Maravilha’, os gols de Túlio também levaram o Goiás a sonhar grande. Apesar das melhores campanhas terem sido na Copa do Brasil nas edições de 1989 e 90, no Brasileirão de 89 o time esmeraldino chegou até a segunda fase e consagrou seu centroavante, artilheiro do campeonato com 11 gols. A histórica formação também contava com Eduardo, Lira, Jorge Batata, Uidemar, Fagundes, Péricles e Niltinho.

Com Paulo Gonçalves de volta ao comando, o Goiás voltou a superar sua melhor campanha em 1996, quando caiu já nas semifinais para o Grêmio, que se sagrou campeão naquele ano, com uma vitória no agregado de 5 a 3. Com uma nova geração oriunda com diversos jogadores criados na base esmeraldina, a equipe tinha destaques como Kléber, Índio, Sílvio Criciúma, Richard, Reidner, Túlio Guerreiro, Lúcio Bala, Alex Dias e Dill.

Já em 2003, a reação fantástica do time de Cuca chamou bastante atenção na época. Invicto por 16 partidas no segundo turno, o Goiás saiu da briga contra o rebaixamento para a primeira parte da tabela, concluindo o torneio com a 9ª posição e mais uma revelação de jogadores. O principal, Dimba, artilheiro nacional com 31 gols. Além dele, Harlei, Fabão, André Cruz, Esquerdinha, Josué, Grafite e Araújo também brilharam.

Nesse período, o clube esmeraldino viveu seu melhor momento no Brasileirão. Depois da 6ª posição em 2004, com o terceiro melhor ataque do campeonato, com 81 gols, a forte defesa de 2005 levou o time ainda mais longe: 3º colocado, pela primeira e única vez na sua história se classificou para a Copa Libertadores. Na ocasião, o time de Geninho foi o menos vazado, com 41 gols sofridos em 42 jogos, além de 74 pontos somados com Harlei, André Dias, André Leone, Paulo Baier, Jadílson, Romerito, Rodrigo Tabata, Roni e Souza.

Depois da experiência internacional, o Goiás voltou a ter uma campanha sólida em 2006, quando consagrou Souza, artilheiro do Brasileirão com 17 gols. Terceiro melhor ataque do torneio, com 63 gols marcados em 38 jogos, o time terminou na 8ª posição, com 55 pontos. Sete anos depois, os esmeraldinos voltaram a sonhar com a Libertadores no seu primeiro ano de retorno após o título da Série B, em 2012, e tiveram sua melhor pontuação na era do campeonato com 20 clubes. Contudo, a queda nas rodadas finais frustraram os planos.

Para 2020, a missão é superar o último retorno na elite, quando terminou na 10ª posição, com 52 pontos em 38 jogos, e classificado para Sul-Americana. Foram 15 vitórias, sete empates e 16 derrotas, com 46 gols marcados e 64 gols sofridos, a pior defesa do campeonato. Segundo Túlio Lustosa, nesta temporada há três metas: “a primeira é alcançar os 45 pontos, que nos garante na Série A do próximo ano. Depois, alcançando essa primeira meta, traçamos a segunda, que é garantir uma vaga na Sul-Americana. Se restarem algumas rodadas, brigaremos por coisa grande”.