O delegado do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (GEACRI) da Polícia Civil (PC), Joaquim Adorno, responsável pela investigação do caso de racismo denunciado pelo jogador do Goiás Esporte Clube, Fellipe Bastos, afirmou que o autor ainda não foi identificado.

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No último domingo (08), após a vitória esmeraldina no clássico contra o Atlético Clube Goianiense, o volante afirmou que ouviu em duas oportunidades o grito de ‘macaco’. Joaquim Adorno detalhou como está o andamento da investigação do caso e afirmou que a polícia segue no trabalho de investigação do autor.

“A Polícia Civil está recebendo todas as gravações das emissoras e do sistema de segurança do Atlético para poder identificar o torcedor. Agora, estamos trabalhando todas as imagens para poder identificar a pessoa que praticou o ato racista. Acredito que em breve, após as análises de todas essas imagens, que pode durar até 15 dias, nós iremos identificar o torcedor e intimá-lo para interrogatório”, contou.

Joaquim Adorno destacou que é necessário ouvir o autor porque o próprio Fellipe Bastos, e outras testemunhas, atestaram que de fato ocorreu o crime. Então, não é só a palavra do jogador. “Não vou citar nomes agora [testemunhas], vou esperar um pouco mais e depois citaremos, mas são jogadores do próprio time [Goiás] que estavam com ele.

Circulou nas redes sociais nos últimos dias a foto do possível suspeito do crime. Apesar disso, o delegado reforçou que o autor ainda não foi identificado pelas investigações.

“Devemos ter muita responsabilidade nessa situação, porque qualquer fala errada podemos fazer justiça com um cidadão que não fez nada. Oficialmente, não temos nenhuma identificação. Temos uma ideia de imagem, de quem possa ser, mas não temos nenhuma identificação. Acredito que, no máximo, em 45 dias consigo concluir o procedimento”, ressaltou.

Assim que identificado o suspeito do crime, Joaquim Adorno explicou que, após ser interrogado, o torcedor vai responder pelo artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal, com pena de 1 a 3 anos de prisão.

“É um crime inafiançável e imprescritível. Provavelmente, ele será indiciado, o inquérito será encaminhado para o Poder Judiciário e passará pelo Ministério Público (MP), que também poderá oferecer denúncia”, projetou.

Ainda conforme Joaquim Adorno, Fellipe Bastos revelou em seu depoimento o quanto ficou arrasado com as ofensas ouvidas, relatando ainda o seu estado emocional após o fato ocorrido.

“Ele disse que já tinha ouvido falar muito do racismo, mas nunca tinha sofrido diretamente. Ele não tinha a percepção que seria tão doído para ele, tão ruim ouvir aquelas palavras. Aquilo marcou ele profundamente, a ponto de desestabilizá-lo emocionalmente, da família perceber e ter que conversar com os filhos. Então, observe o tanto que o racismo e a intolerância dói em quem ouve”, disse.

O delegado ainda demonstrou como o racismo está presente, não só no futebol, mas na sociedade como um todo, ao contar o número de denúncias que a GEACRI recebe por mês em Goiânia e região metropolitana.

“Estamos tendo uma média de 20 a 22, até 25 inquéritos por mês de intolerância. Então, observe que todos os dias temos um caso de racismo. É no trabalho, nas redes sociais, na rua, no ponto de ônibus”, refletiu.

Confira a entrevista na íntegra: