A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que aproximadamente 80% das pessoas que deslocam-se por causa das mudanças climáticas são mulheres. O deslocamento associado ao clima afeta  1% da humanidade, de acordo com o relatório do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Ou seja, uma em cada 97 pessoas, no universo de 8 bilhões de pessoas, são forçadas a deixar suas moradias em várias partes do mundo por questões climáticas.

Nesse sentido, a indígena Marcia Mura, doutora em História Social pela USP, argumenta que o ecofeminismo pode ser uma solução para o problema. O ecofeminismo é diferente do que a professora chama de “feminismo tradicional”. Ele questiona “estruturas patriarcais” e de exploração da natureza e propõe políticas inclusivas para o fortalecimento do papel das mulheres nas comunidades.

A associação do ecofeminismo com a migração das mulheres por mudanças climáticas está na vulnerabilidade das mulheres nos desastres socioambientais. Um exemplo, segundo o Jornal da USP, é a guerra da Ucrânia contra a Rússia, em que 90% dos 10 milhões de deslocados são mulheres. Sima Bahous, diretora-geral da ONU Mulheres, diz que as mulheres ucranianas correm o risco de tráfico humano e violência sexual.

O que é ecofeminismo?

Para Marcia Mura, o ecofeminismo é uma nova perspectiva que une igualdade de gênero e a preservação do meio ambiente. “Valorizar o conhecimento tradicional das mulheres, principalmente as mulheres indígenas, e incentivar a participação ativa delas na tomada de decisões é crucial para enfrentar os desafios socioambientais”, destaca.

Françoise d`Eaubonne, ativista dos direitos trabalhistas, feminista e ambientalista, usou o termo ecofeminismo pela primeira vez em 1974. A ideia é unir ciência, mulher e natureza na resolução das questões da sociedade. “Não adianta pensar em direitos das mulheres enquanto o modo de vida hegemônico destrói o ambiente em que vivemos”, comentou Mura.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da ONU aponta que as mulheres são as primeiras a sentir os efeitos das mudanças climáticas. Pois com as alterações do clima elas deslocam-se mais para alimentar suas famílias.

Mulheres e política

O professor Márcio Henrique Ponzilacqua, da Faculdade de Direito da USP, acredita que a relação das mulheres com a natureza é essencial na política ambiental para o futuro. “Elas são transmissoras de conhecimentos relativos à natureza e também à sua proteção”, conta.

“Geralmente, por serem ligadas diretamente à subsistência familiar em muitas sociedades, desde coletar água para cozinhar e limpar, usar a terra para o gado, buscar alimentos em rios e recifes e coletar lenha, as mulheres, em todo o planeta, usam e interagem com os recursos naturais e ecossistemas melhor que os homens”, argumenta Ponzilacqua.

*Com informações do Jornal da USP

Leia mais: