Quando foi desafiado a criar algo diferente na área esportiva e educacional, o professor de educação física Márcio Contato pesquisou. Queria fazer alguma coisa diferente na cidade de Araxá, no interior de Minas Gerais. Foi aí que que partiu para a inclusão, em especial, de crianças e jovens com autismo. O ano era 2019, e surgiu o projeto “Esporte mais que Especial”.

“Foi uma solicitação de uma companhia, da CBMM – Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração. Conversando com alguns membros da direção, pediram pra criar algo inclusivo. Fiz as pesquisas, não tínhamos nenhum projeto voltado para crianças e adolescentes autistas. Aprovado o projeto, começamos com 25 crianças. Hoje já temos 96, todas de baixa renda, em vulnerabilidade social” explicou o professor Márcio, coordenador do projeto.

Com o dia mundial de conscientização sobre o autismo comemorado em 2 de abril, o Sistema Sagres de Comunicação realizou uma série de reportagens sobre o tema, além da produção de mais uma edição do Podcast Debates Esportivos, que contou um pouco da realidade para jovens autistas em Goiânia e deu detalhes de um camarote feito pelo Goiás Esporte Clube no estádio da Serrinha, que vai receber crianças autistas durante os jogos do time esmeraldino.

Desde 2021, o projeto acontece em parceria com a APAE – Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais – e recebe recursos federais, além de patrocínios privados, assim, as aulas são gratuitas.

Professor Márcio Contato, do Esporte mais que Especial. Foto: reprodução

“Conforme já informei, são 96 crianças atendidas entre 7 e 16 anos, mas esse número triplica, porque também contamos com as famílias. Então o projeto tomou uma dimensão muito grande. O feedback que temos dos pais e das instituições escolares é muito bom”

Atividades e métodos

Quatro modalidades esportivas são praticadas nas aulas do Esporte mais que Especial: futsal, vôlei, basquete e handball. Com os profissionais de educação física, são desenvolvidas atividades de socialização, coordenação motora, entrosamento. Tudo o que é comportamental com relação ao esporte.

“O autismo é individual, o autista é sozinho e faz tudo ao modo dele. O projeto, então, serve pra que a criança compartilhe sua individualidade com outro coleguinha, pra saber que os dois podem fazer coisas juntos”, detalhou Márcio, que fez questão de explicar que o projeto ainda não recebe autistas severos, apenas leves e moderados.

“O autista severo requer mais cuidados. Ainda não temos uma equipe capacitada na educação física com um preparo para lidar com eles. Nossas turmas são pequenas, com no máximo sete alunos, para que cada um tenha o devido cuidado. A inclusão do autista severo requer mais tempo. O projeto está começando, queremos chegar lá ainda”.

E como fazer com que o autista conviva com os demais? Márcio explicou que esse desafio é encarado com a mudança na metodologia de como aplicam cada modalidade esportiva.

“Reestruturamos a metodologia para aplicar as regras das modalidades. Não adaptamos. Por exemplo: na aula de basquete temos sete crianças, então começamos com sete bolas pra cada criança, depois vou diminuindo até eles entenderem que devem compartilhar a bola. Vamos incluindo uma sequência de atividades na rotina de cada um deles.

Assistência

Psicólogos, neuropsicopedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e assistentes sociais também ficam à disposição dos jovens autistas. Constantes reuniões são realizadas entre os profissionais do projeto. Avaliações são frequentes sobre a evolução de cada aluno.

“Desde 2019, vejo muita evolução nas crianças. A gente consegue lapidar as habilidades que elas têm porque todas elas são extremamente inteligentes. A gente vem estudando as crianças”, disse Márcio.

Foto: Instagram Esporte mais que Especial

Família

Márcio Contato fez questão de explicar que o projeto não se restringe às práticas esportivas. Fazer com que a família acompanhe seus jovens também é uma missão.

“Tem também a socialização e integração da família junto com eles, porque às vezes, a gente encontra uma resistência muito grande da família em aceitar um laudo de que a criança é autista”, completou Márcio.

De acordo com o professor, muitas crianças do projeto convivem com problemas familiares. Alguns moram com os avós porque são órfãos. Outros, porque os pais estão presos; e tem também alguns casos de crianças que são levadas ao projeto pelo Conselho Tutelar.

“Temos crianças que vêm de um lar familiarmente estruturado, desde aquelas que convivem sem estrutura alguma. Todas são de baixa renda”.

Realização

Com tantas histórias de superação, crianças e jovens que fazem do esporte uma porta para a socialização. O Matheuzinho, 12 anos, é um dos exemplos. Segundo o professor Márcio, ele se destaca primordialmente no basquete.

“Ele é o nosso melhor jogador. Quando começamos, ele não aceitava ninguém com ele dentro da quadra. Era não verbal, não se comunicava com ninguém, mas hoje já fala bem. Ele é a nossa inspiração para que no futuro a gente tenha um time de basquete de jovens autistas”, elogia o orgulhoso professor.

Como vários outros projetos pelo Brasil, o Esporte mais que Especial está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento sustentável da ONU. Neste caso, o ODS 3 – Saúde e Bem -Estar; ODS 10 – Redução das Desigualdades. Meninos e Meninas são estimulados à inclusão. No caso dos autistas, mais do que inseri-los na sociedade, é um desafio compreende-los, mas ao mesmo tempo, gratificante.

“Você ter a oportunidade de entrar dentro do mundo fantasioso e lúdico do autista, é muito gratificante. É uma gratidão imensa ver uma criança que chegou aqui em 2019 e não falava, mas que agora a gente tem até que pedir para que parem de conversar”, definiu o professor Márcio Contato.

Serviço

Projeto Esporte mais que Especial

Site: apaearaxa.org.br

Intagram: https://www.instagram.com/projetoemespecial/

Telefone: 55 (34) 98853 – 0780

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